domingo, 30 de dezembro de 2007

Olá Junin!!!!...Adeus Junin!!!!



Em Junin fiquei 3dias, desta vez, a viver no centro em casa dum professor que não estava e quem cuidava era um aluno da escola, Daniel (por acaso também de Naupa Huén). Tempo de dar mais valor ao que vivi e de fecho de uma etapa tão boa que foi este projecto.
Deixo cá alguns bons amigos que fiz, gente com valor humanitário muito grande mas com pouco poder monetário e por isso tem ate que trabalhar nas ferias de Verão a cuidar de casas ou de jardins e hortas para poderem ter algum dinheiro e assim beberem uma cerveja mais ou comprarem a sapatilha que andaram a namorar os últimos anos.
Surpreendeu-me ao explicar que a vontade de continuar a estudar depois deste ano, seguir para a Universidade de Córdoba vai ser possível graças a acordos que a Fundação Cruzada Patagónica tem com gente que se disponibiliza a pagar as mentalidades de um estudante. Quando assim não é há também a possibilidade de entrar numa cadeia que existe de pessoas que pagam a outras e quando estas terminam pagam a outros que precisam e assim sucessivamente, dando possibilidade a todos de estudar. Oxalá fossem todos assim, parece fácil e resultar!!

Saio hoje para o Chile e agradeço a todos os que passaram aqui por mim e me fizeram enriquecer tanto com um trabalho e uma visão tão diferente daquilo que estava habituado. Uma visão viva da patagónia que tem pessoas e que sabem dar valor à cultura mapuche e a tudo o que têm.
O fim de ano não sei onde vou passar mas não é coisa que seja muito importante, afinal é a mudança de dia somente. Nada mais que isso, não é preciso enlouquecer mas sim talvez aproveitar para pensar que devemos festejar todos os dias e viver realmente de forma vivida e sem nos acostar-mos. Arriiiiiiiiiiiiba!!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Amiga Naupa


Foi graças a eles que me continuo a sentir realmente vivo e me ajudaram a viver o Natal tão bom e de como nunca o tinha feito.

Não faria sentido falar de Naupa Huén sem passar pelo campo que fica a 15km do centro de Naupa e é onde estão a maior parte dos animais e onde quase todos os homens trabalham diariamente. Antes era ai mesmo que viviam, mais distanciados ainda de qualquer café central.
Fui ate ai conhecer o campo de um casal que ainda hoje vive lá e que esboça um gigante sorriso na cara quando me fala que a pessoa mais próxima vive num ponto longe que mal alcanço pelos meus olhos. Oferecem mate e umas tortas fritas que se faz muito por cá. Naturalmente, artilhamos todos o mesmo mate, conversamos sobre a vida deles ali que orgulhosamente me dizem que não viveram nunca em outro sitio e as suas famílias menos ainda.

A roupa estendida num arame, cães, vacas, galinhas, perus, cavalos, caca de ovelha (suponho que ela andasse por perto) e uma quantidade enorme de mosquitos. E a certa altura começo a sentir um cheiro a bosta de cavalo sair duma panela que estava no chão, um fumo inacreditável. Comecei a ficar com medo do que me poderiam oferecer para comer, nestes lugares não fica muito bem rejeitar o que nos oferecem com tanto gosto. Tranquilizei e deixei de suar quando me disseram que era só bosta de cavalo que estava a queimar dentro da panela porque o cheiro afugenta os mosquitos…para mim os mosquitos e qualquer outro ser.

É gente que se habituou a viver ali desde sempre e nada lhes falta. A mulher gorda gorda com bigode maior que o meu era a personagem principal, muito amável e sempre preocupada em oferecer mais e mais. Pensava eu para mim que ali não deve haver um leque muito variado de opcoes tanto para os homens como para as mulheres mas seguro que há amor. Disse sei eu porque os via numa sintonia perfeita de casal. Ali desconfio que existe amor á primeira vista!!

Foi com um sentimento de pertença muito grande que saí de Naupa. Fui até a ruta principal com um camião dum policia para daí poder esticar o dedo à espera de gente amável ou do colectivo que passava em 3horas. Diziam-me para levar muita agua, paciência e esperar…Esperei 10minutos e um carro parou para me levar directo para Junin. Lucky!!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

1, 2, 3...vou nascer outravez!! Feliz Navidad!!


Sinto-me parte do presépio. Por tudo o que vejo á minha volta, pela pobreza e ao mesmo tempo nobreza das casas, da porta aberta, do oferecer o que de melhor há, dos animais que vivem em liberdade total. Da simplicidade de vida que ali todos têm. Parece que estou a viver noutro tempo, algo mais antigo.
Na hora da refeição com a família onde estou vem parar á mesa pão caseiro, carne e uma garrafa de gasosa mas com agua dentro.
A minha volta vejo o armário antigo de madeira com alguns alimentos e uma fotografia quando um dos filhos terminou o liceu. Mostram-me orgulhosamente um corte de jornal, aproveitam para o limpar com o pano de cozinha/guardanapo-geral, em que aparece a filha que em 2003 ganhou um concurso de melhor projecto ambiental e foi ate a Croácia expor. Sinto-me parte desta família!!

Estou a viver esta semana que me leva ao Natal da maneira como já queria ter experimentado antes. A partilha de tudo o que há, o abraço apertado que há em família e a alegria de ter uma mesa cheia de gente, a preocupação era se não haveria lugar e pratos para todos.
Nunca fez tanto sentido e nunca tive tanta vontade como agora entregar um cabaz de natal. Foi esse o meu presente para eles, uma caixa de cartão com alimentos la dentro envolvida no mais rico material que tinha comigo: a bandeira nacional. Não me sinto como um bom samaritano sinto-me como um Rei Mago que leva um pequeno presente como forma de agradecimento e contemplação da família que me recebe e me faz ver o verdadeiro lado da vida, a sua essência que é na maior parte das vezes invisível aos olhos.
Os prazeres mais ricos da existência, como a tranquilidade, as amizades, a conversa que troca experiências existenciais, a contemplação do belo, são conquistados pelo que somos, e não pelo que temos.

O jantar de natal foi assim com o típico cordeiro no espeto a chegar á mesa, uma toalha de flores na mesa de madeira, sumo/agua e todos de sorriso a comerem alegremente o banquete que se fez. Não houve o tradicional brinde ruidoso mas sim um brindar com os olhos e coração naquela mesa composta com tudo o que de melhor se conseguiu arranjar. A conversa girou com a partilha de experiências de outros Natais deles e meu.
A importância cada vez menor, das pessoas da aldeia, que dizem ter em relação a esta data e ao mesmo tempo preocupação a saber se os filhos vão chegar todos a tempo do jantar de Natal e se se arranja um cordeiro. A luz apaga-se as 2h e ouve-se gente a jogar cartas e outros a beberem. E foi com umas garrafas de cidra que juntamente com alguns pibes de lá aproveitámos a luz da lua quase cheia.

Posso dizer que me sinto renascido. Não foi a primeira vez nem será a ultima mas este Natal ajudou a renovar-me e a ganhar novas pernas para continuar a andar.
Obrigado família!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

IN LOCO

“Buen dia!!” É assim que se acorda aqui em Naupa Huén com toda a gente a saudar todos os que passam. Vim dormir para a casa da irmã de Abias (são 8 no total) que esta agora a viver em Roca. Aqui tenho dormido estes dias e muito bem. Casa muito pobre também mas é normal aqui para todos os que vivem neste lugar. Não há elites aqui, tudo igual ou tudo parecido é assim que se vê as coisas. A casa tem igualmente a “casa de banho” do lado de fora e dentro tem um quarto onde durmo com Abias e a cozinha que também é zona de chuveiro onde tenho tomado banho. Tem um balde pendurado, enche-se de agua e depois vai escorrendo e eu lavando-me rápido rápido antes que a água acabe.

Sim, tinha-me esquecido de dizer que não só a luz mas tambem a água só chega as 21:30 e acaba as 1:30. Nestas 4 horas aproveita-se para fazer tudo com esses bens que para mim e muita gente é dado como certo que sem eles não conseguiria viver (ou quase). Então com calor que faz não há bebidas frescas nas “Dispensas”, espera-se que a luz venha e depois os frigoríficos comecem a funcionar e então depois vale a pena pedir uma gasosa ou cidra que tanto se bebe aqui.

21:30 é uma hora de alegria, vê-se a luz cegar e gritos de alegria de crianças. Os jovens mais velhos esses não gritam mas sorriem por dentro por poderem também ver um pouco de televisão que a dispensa tem. E que estranho que é verem televisão ali naquele lugar porque a maior parte das coisas são mundos que podia ser Marte que estavam a passar na televisão e talvez para muitos deles é mesmo. Realidades distintas, para que servirá ou como interpretam um anuncio para tratamento de unhas, ou o creme para deixar o cabelo mais loiro entre outras para não falar dos filmes que mostram casas que muitos deles não podem quase imaginar que haja.
E é mesmo assim, as necessidades básicas só o são para nós que vivemos neutros lugares porque as podemos satisfazer rapidamente. Aqui as necessidades são outras e que bom que é saber viver assim…

O dia-a-dia é passado no rio a fazer mini-fogueiras para aquecer a agua para tomar mate, mergulhos no rio e corridas de natação, jugos de futebol, bilhar numa das 3 dispensas que existem e ver os bêbados que há todos os dias. Fazem pena mas aqui não há realmente muita coisa com que se distraírem quando não trabalham no campo e por isso vão gastando em alcohol a plata que ganham durante a semana de trabalho no campo. É preciso ser forte de cabeça para saírem ou não chegarem a entrar nesse mundo. Admiro o pai de Abias por isso mesmo que bebia muito e deixou depois de ter a primeira filha. Largou porque percebeu que não chegava para tudo e que mais do que isso seria egoísmo. Não toca em nada agora. Grande sinhor!!

Pensava que era só eu que achava que era muito muito calmo mas não. As pessoas de cá (com quem estou) também o acham. Talvez por já terem saído e vivido fora de lá e pensarem que há mais gente e mais vida para descobrir fora dali. No entanto também é verdade que os pais de Abias estão habituados a viver ali, já os pais deles ali viviam ou mais longe e eles são felizes. São um pouco metidos para dentro por feitio mas felizes e contentes por estarem ali.



Eu, apesar desta diferença abismal de mundo, sinto-me realmente bem aqui e em todo o lado onde estou se há uma pessoa a tomar a bebida que seja ta sempre a rodar. Oferece-se a toda a gente mesmo que não se saiba quem é, se está…está e tem directo a beber. Não se compra uma cerveja para tomar sozinho ou com um amigo só. Compra-se, dá-se um trago e oferece-se a quem esta ao lado e vai rodando pelos outros que estão ou que vão aparecendo. Parte reparte e ainda se fica com a melhor parte que é o sentimento de poder saciar a todos!!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Mundo secreto


Inexplicável o que estou a sentir desde que cheguei a Naupa Huén..
Dizia eu quando estava em Buenos Aires recém chegado de Portugal que me queria impressionar. E agora aqui estou colado atrás com o que vejo e estou a viver aqui.Fui convidado por Abias a passar cá uns dias porque é tempo de ferias e a muchachada vai para suas casas. Já tinha ouvido falar que a maioria vinha do campo mas nunca pensei que fosse “tão” campo. Já viver na Escola San Ignacio me fazia confusão por estar a 15km por estrada de pedras do centro de Junin então a viagem ate aqui percebi que tava a chegar a um lugar que nunca tinha imaginado poder vir a visitar nesta viagem que tou a fazer. Pelo meio víamos animais selvagens, avestruzes e gozam a dizer q tava a chegar a África..quase!!


A viagem de colectivo da escola levou-nos por 5 horas por estradas de terra e alcatrão e chegamos a um ponto q não podíamos passar mais porque tem um rio Limay (nasce em Nahuel Huapi) a passar. Ai assobiamos forte e gritamos como podemos e a lancha/barquinho vem-nos buscar para assim entrar-mos em Naupa Huén. Esse é o trabalho de um homem de lá, vir buscar sempre que chega alguem do outro lado.

Parece o deserto. As casas são todas de barro e não há mais de 200 habitantes sendo que quase todas as famílias tem pelo menos 5 filhos e por isso o numero de casas é baixo. A cidade mais próxima – Roca - fica a 300km.


Cheguei a casa de Avias depois de o pai dele nos ter ido buscar com um carro de guerra eu prefiro chamar tanque. 3 ou 4 divisões todas muito curtas mas cheias de cuidado por eles. Vou a casa de banho e tenho que ir comprar papel higiénico antes porque para eles é o papel que houver mais perto é o que vai. É um buraco no chão ladeado por paredes de barro, faço o que tenho a fazer como aprendi em toda a vida e saio com a sensação de que havia luz. Voltei e era mesmo verdade. Aqui eles não pagam electricidade mas esta só chega as 21:30todos os dias, que sorte que tive!!

A barriga, essa tem que se habituar porque assim que entrei em casa de Abias tava o pai dele já a oferecer cabeça de cordeiro. Javardamente mas com respeito saco uma parte e começo a desbrava-la, tem mesmo que ser assim. Os meus dentes a tocarem nos dentes do cordeiro e…siga arriba!! Ofereço um Vino de Oporto produçao Argentina (atentado ao nosso vinho) e dizem-me que não toma vinho. Azar! Seguimos conversando um bocado e conta-me a historia de um dos únicos objectos colados na parede, um quadro com a fotografia dele vestida de tropa. É o orgulho de 6 meses ao serviço do país.

Bafo que tava, tipo deserto, só dava para passar o resto da tarde no rio. Depois segue-se para o mini-mercado/café a que chamam “Dispensa” a beber umas cervejas e o por do sol mostra o que vale. Impressionante, tou fascinado!! Sigo agora para ver onde dormir…I’m alive!!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Sou de cá!!


Sou sortudo, é verdade que sim!! Quando estava no projecto no Uruguai apanhei a altura de acampamento e agora aqui também mas desta vez com os professores e sem muchachada.

É o acampamento de Verão, fomos 2 dias para um lugar chamado Nontue que fica perto de San Martin de Los Andes mas é dentro do Parque Nacional Lanin (que afinal é mais gigante do que imaginava). E chegando ai foi bom por estar com todos os que trabalham/colaboram com a fundação num ambiente diferente. Conhecer filhos, conhecer como eles são verdadeiramente. Dias passados no lago, futebol, voley, kayak, canoagem, desgarrada, assado...enfim tudo o que podem imaginar de um acampamento top mas...faltavam os miúdos!!
O lugar ajudou e muito, não percebo onde acabam estes lugares maravilhosos que vou visitando. Não terá fim?!

Habituei-me a viver na quinta e agora não me falta companhia, conhecia os professores vizinhos, compartimos cerveja, mate ou alguma cidra quando os alunos se vão para os albergues. Em casa de um ou de outro espaço não é coisa que falte. A semana vai passando com ordenhe de vacas e ovelhas, que nunca tinha feito, e tudo o que isso associa. Uma jorda total, mas boa!!

É tempo de terminar o primeiro trimestre de aulas com uma festa de natal e despedida. Pobrecita que foi!! Gente que se inscreve para demonstrar os dotes artísticos de baile folclore ou musica com acordiao ou guitarra mas todos os outros não acompanham a qualidade da musica e fica um espectáculo em que não existe muita participação para alem dos alunos artistas que estão no centro. São na sua maioria oriundos de famílias que vivem no campo e por isso mais envergonhados. Não só por eles mas também pelo momento em que a festa é feita, depois de um dia de aulas/trabalho em que estão todos cansados a imaginarem ir para suas casas ver a família. Senti-me lisonjeado por ser escolhido como apresentador mas não passou todo o dinamismo que queria...é um publico difícil :)

Amanha sigo com o colectivo da escola para Naupa Huén na província de Rio Negro. Fui convidado por Abias para passar la a semana de Natal com a família. Não faço ideia onde fica mas confio. Não sei bem onde vou parar sei que algures assim pouco povoado. Há mais famílias de alunos que são de lá por isso pelo menos 20 pessoas existem. Té loooooooooooooooooooogo...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Elogio da loucura


Até agora achei que se houvesse alguma coisa que me pudesse prender seriam as crianças de um qualquer projecto que fizesse. Apercebo-me que não!
Chegou a 2ª feira dia em que Anja se foi embora para continuar em busca de sudamerica e de outros projectos e que custou mais do que eu pensava. Passaram 2 meses e meio e encontro uma companhia ideal por ter ideias parecidas e maneiras de ver que coincidiam com as minhas. Percebo que não importa tanto os princípios que diz ter mas a maneira como age e como deixa as portas abertas da pessoa que é. Grande companhia, visão alargada do mundo e vontade de o viver que é ainda mais importante do que ter simplesmente a visão das coisas.
A cada passo que dou percebo que a viagem me vai ensinar muito da vida, das dificuldades que há e essencialmente de saber lidar com emoções.


E a admiração pelos miúdos vai crescendo. Se antes achava q eram todos bons rapazes agora acho que são bons homens. Percebia que andavam pela quinta/escola que estudavam e trabalhavam umas coisas e não percebia que pastassem nos recreios que tinham. Levantam-se as 6:00 da manha arranjam-se lavam tomam pequeno almoço e arrumam as coisas todas, vão no autocarro para a escola. Começa as 8h e para alguns as 7:30 são os que estão de guardia (vai rodando), fazem os trabalhos rotineiros da quinta e são os últimos a sair pelas 7:30. E durante o dia tem aulas tanto de inglês, matemática, ordenhar vacas, construir recintos, regar, plantar, almoçar rápido porque não há pratos nem talheres para todos e ainda há a equipa que vai lavando durante o tempo de almoço para que nada falte. Ao fim do dia 18:30 vão de autocarro para os albergues e ai comem alguma coisa e vão estudar depois tem que tomar banhos limpar casas de banho, jantar e as 22:30 já estão todos na cama para dormir porque no dia seguinte será o mesmo. Para alem do mais de não estarem a viver em casa deles. Por isso há quem desista por não aguentar ou por não querer crescer. Faz todo o sentido quando os professores me dizem que quem termina tudo sai bem preparado para seguir para qualquer lado, saem com uma preparaçao muito completa.

Com o chegar do natal tive a sorte de ser convidado para o jantar de natal no albergue das meninas. Com enfeites, musica, muito boa conversa e um teatro cheio de mensagem deu para me aproximar bastante e o que eu queria. Perceber que há visões muito distintas do natal. Pessoas que quase tem vergonha por não terem uma garrafa que seja para poder fazer o brinde que tanto significado tem e por ai não desejarem festejar o natal, pela injustiça que sentem ao não poderem desfrutar daquilo que é “o normal”. Tento fazer ver que há mais do que apenas um brinde mas não é fácil, entendo.

E a minha casa vazia já não existe mais. Recém chegam umas novas personagens, um voluntário de Buenos Aires e seu filho. Grandes personagens!! A expressão tal pai tal filho aplica-se aqui melhor que em qualquer outras pessoas. O que diz o pai diz o filho e fazem-me tudo, refeicoes e limpezas é com eles. Ao principio ainda me preocupava com cerimonias...percebi que nao valia a pena lutar por ser eu a fazer, aprendo a desfrutar!!hehe

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

cheee, ta re copado!

Chegou a 6ª feira, os alunos voltam a seguir para seus alojamentos e Anja y eu de mochila para visitar o Parque Nacional Lanin, o que faltava ver desta cordilheira. É o que esta mais perto de onde estou, fica a 50km e é muito conhecido pelo vulcão que tem chamado Lanin (inactivo desde 1984) e pelos lagos Huechulafquen y Paimun…e só por isto já vale a pena!!

Mas para lá chegar tivemos que esperar na estrada por quem nos levasse. E assim foi, no meio de uma recta gigante ladeada de montanhas, que é onde estou a viver, vem um carro velho velho e que andava tão devagar que eu achava que nem estava a andar, lá dentro um casal mapuche, que devia ter a mesma idade que o carro (começo a achar que aqui idade da Pessoa = idade do auto que tem), chama-nos a entrar para nos dar boleia que precisávamos até ao inicio do Parque.
Gente mais humilde não há, ainda pensei que que se por acaso dessem boleia a um ladrão esse ficava aborrecido e ia-se embora porque não tinha nada que roubar ali. Radio com uma coluna de computador presa e posta no tablier passava musica folclore parecia vinda debaixo da terra. Pó por todos os lados do carro, creio que havia mais dentro que fora e a senhorita só dizia “se quiserem abram mais a janela…mas eu à senhora quase nem a via. Uma pequena odisseia mas chegámos bem, o carro esse teve que lavar revisão quando descemos no Parque.

Da entrada fomos andando até que outro carro dum trabalhador de lá nos levou 10km mais a frente (o parque todo tem uns 30km +-) e depois outro nos levou até a fronteira do Lago Huchualafquen com Paimun onde nos quedamos a primeira noite. Foi o melhor parque que visitei. A vista de qualquer ponto para o vulcão que esta cheio de neve o ano inteiro e os lagos são qualquer coisa maravilhosa. Estica-se a tenda em zona de camping agreste junto a um casal holandês e norueguês e seguimos pela noite fora a fazer jogo de perguntas de frente para a fogueira que se fez…

Dia seguinte saímos de lá e continuo o trilho até outro camping (organizado) onde mete os pescadores finos de 4x4 e grandes barcos de pesca com tendas hi-tec. Desfrutei a espécie de praia que tinha com areia vulcânica quente que estava…deu para mergulhar no lago Paimun mas há que sair logo porque a agua ta gelada.
Cascatas, vacas, vistas brutais, obleas, passaros e acordo domingo com chuva a cair na tenda…apercebi-me que não estava tão habituado ao clima da cordilheira, que é raro ter bom tempo dias seguidos, no inverno chega a chover 1mês seguido..tranquilo!!
Com algum jeito e muito de sorte arranjei uma boleia de um dos pescadores que saía de lá e assim nos trouxe ate à quinta de san Ignacio.

Amanha começa de novo a semana de escola e já só faltam duas semanas para o Natal. Não faço ideia onde vou passar mas estou tranquilo porque sozinho não fico, alguém vai ter que levar comigo. Decidido que o passo aqui na Patagónia. Não vai ser difícil sentir-me em casa porque me tratam como se fosse mano.
E roda o mate…

sábado, 8 de dezembro de 2007

Maquééé?!...Mapuche!!



Volto à escola em Junin porque a semana e a minha vontade assim o dizem…mas desta vez tenho a companhia da nova voluntária que fica cá por uma semana, Anja de Áustria.
A semana é rápida a passar com actividades distintas e com pessoas óptimas companhias sempre, sinto-me cada vez mais entrosado com todos mas sinto-me ainda à procura do meu lugar (se calhar vou sentir isto ate ao fim) porque existem realmente muitas coisas que fazer cá mas a liberdade que me dão é pouca porque é preciso pedir permissão a este e aquele para fazer a ponte que falta, montar o sombrero que não tem ou arrancar as ervas que estão a mais.. A pesar disto começo a entrar no ritmo da quinta /escola em que as coisas se fazem lentamente com gargalhadas e mate pelo meio. No entanto todos trabalham apesar de não haver o espírito concentrado de estudo que é mais usual numa escola.

Fui assistir a uma aula de mapuche que é o idioma original destas comunidades mas que se foi perdendo com os passar dos anos. Não há nada escrito e então quem o sabe trata de o passar para as outras pessoas e por isso não há erros ortográficos porque assim como cada um ouve assim se escreve. Só agora se esta tentando escrever livros com algumas regras e vocabulários para que não se perca. Ta claro que a aula é uma risota porque mapuche não tem nada a ver com nada. O professor, esse sim fala mapuche em casa com a família. Os alunos aprendem para que assim se preserve as raízes a pesar de não virem a utilizar nunca (dizem eles…e eu acredito). A ideia da escola é que em poucos anos se torne bilingue de Castelhano e Mapuche como há no Paraguai com o Guarani e castelhano. Cada etnia, cada idioma!!

Aqui fica algum vocabulário mapuche para que saibam melhor do que falo:

Yagel = comida
Mar Mari = bom dia, boa tarde ou boa noite
Cumu le caími = Ta tudo? Tudo bem?
Ata ule = até amanha
Ata michai = até logo
Chezugun = falar mapuche

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Hora J

Acordo no albergue dos barones (nome dado aos rapazes mais velhos) da escola e vou até à ruta principal esticar o dedo. Nem me queria acreditar porque passados 30segundos já parava um camião para me levar. Deixou-me 15km mais à frente, e já foi bom, e dai fui caminhando ate que outro parou e me puxou uns 10km mais até ao inicio da ruta que seguia para Neuquén y Bariloche (o que me interessava) – a 230km (+-). Achei que estava em maré de sorte e que seria sempre assim…enganei-me porque fiquei ai nesse cruzamento cerca de 2horas à espera que dessem bola ao meu dedo estacionado no meio da estrada. E…já na fase de declínio da paciência, a entrar na parte de fazer ginástica na estrada, parecia mais um deserto, fazer concurso de atirar pedras o mais longe possível (ganhei, claro!), regar toda a vegetação…até que uma senhorita, com uns 60 anos, faz pisca com o carro de idade idêntica e chama-me a entrar. Fiquei-me a rir como tôlo, já tava andava a pensar para dentro “que idiota que sou com a mania que vou a dedo e não pago bilhete de bus, jajaja!!”



Impressionante ou não, fomos as 2 horas e meio de caminho a conversa, ela mais que eu, a explicar-me todos os lagos e montanhas por onde passávamos. Percebo que trabalhar para a Cruzada Patagonica é um passaporte que facilita a entrada ou integração em qualquer lado aqui na Patagónia por nos darem credibilidade a que esta fundação se associa.
Até cegar a Bariloche ainda suei e rezei muito porque cada vez que ela queria escolher e trocar de k7 no radio enfiava a cabeça debaixo do volante…e nessa altura aproveitava para dizer que as pessoas conduzem muito depressa e são perigosas nestas estradas. Que medo!!
Mas cheguei a salvo e isso é que importa.

Do centro de Bariloche fui até ao aeroporto buscar a Anja, com quem estive em Calafate, que chegava de Salta e vinha depois trabalhar uma semana como voluntária para a Cruzada Patagonica.
É uma cidade linda de se ver, mas melhor ainda é Villa la Angostura que fica a 30min de colectivo e tem um pouco menos de turistas. Ai recorremos o Parque Nacional Los Arrayanes em que nos ia seguindo o lago Nahuel Huapi. Recomendo a todos passar por la quando não tiverem nada que fazer. E no meio de tantos animais e seres raros eu é que me senti o “bicho” por destoar de tamanha natureza!!