sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O FRANCISCO FOI À ESCOLA



As aulas de inglês na escola tem sido uma experiência mais marcante e uma aprendizagem para mim maior do que aquilo que poderia imaginar. Sou professor pela primeira vez e finalmente percebo esta classe que tanto trabalho, paciência e responsabilidade tem.
Os dias começam cedo, pela manha, para dar tempo de preparar a aula e ainda ir a tempo de, com um guia turístico, receber os turistas que chegam na lancha ás 10:30. Faço a visita traduzindo em simultâneo (ou quase) e no fim do tour volto o mais rápido que posso para ainda cegar á escola a tempo de começar a aula por volta do meio-dia. E ao fim da tarde continuamos a ter os guias em nossa casa para a aula de inglês, para que fiquem com umas bases de conversação.

A minha admiração pelos professores cresceu muito desde que cá estou. Para além de termos (já não faz sentido falar na 3ª pessoa) a tarefa de ensinar a matéria há a outra parte, tão ou mais importante, que é a educação. Somos o ponto de referencia e exemplo para os miúdos que nos olham e chamam de professor. A escola com porcos e burros a pastarem por todo o lado recebe-nos todos os dias ao som dos gritos dos alunos pelos nossos nomes. Chegamos lá e há sempre novidades ou porque não há nenhuma sala vaga, ou porque afinal vamos dar aula a um ano diferente daquele que estava previamente planeado. E dessa maneira nos vamos adaptando como podemos.

Na sala de aula o xitamento dos miúdos é grande e difícil de os parar. Mas será necessário parar-los? Foi a pergunta que me fiz e percebi de pronto que “Não”. Se eles tem tanta energia…que bom que é porque há gente que não a tem. Então improvisando muito aproveitamos essa energia pura de criança para que aprendam, fazendo pequenos skeches, gritando as palavras em inglês como se de tropa se tratasse, cantando e pondo tudo em formato jogo. Só assim se ganha a atenção deles que tanta necessidade tem de mostrar que valem. Quando toca para saírem da aula não vemos quase mochilas, vê-se antes as meninas (maioritariamente) abrirem o hauayo e a porém os livros e lápis la dentro, embrulharem e a porém as costas. As vezes tenho vontade de fazer o mesmo, trocar a minha mochila por um hauayo desses…mas o medo de não saber utilizar e me engasgar é grande assim que, me reduzo á situação de gringo que sou aqui neste continente.
Correm para fora da escola depois de uma cerimonia em que se juntam no pátio e marcham, fazendo lembrar a tropa, ditando assim o fim do dia de aulas. Enquanto uns vão mudar os porcos de lugar, outros vão para a praia que ao principio me fazia confusão a caca de porco que la há…e agora estranho quando não a vejo.
Aproveito eu também para por o fato de banho e mergulhar no momento do dia em que é Verão, por volta da 13h (há noite é certinho que chove nesta ilha de 4 estações). Ao meu lado os miúdos jogam com os porcos e com batatas cozidas que tem para almoçar. Mais simplicidade e naturalidade é (quase) impossível. Já nos vamos habituando mas continua a ser lindo ouvir os miúdos passarem por nós e meterem-se com perguntas de “what’s your name? How are you?”…alguma coisa lhes fica!!

Ao fim da tarde há futebol no único campo de bola, está de frente da casa onde vivo com vista para o lago. No entanto não se pense que é fácil entrar para jogar, são fechados e famintos de bola. Quando ao fim da tarde chegam da pesca ou dos campos de cultivo querem é bola e se chego e já estão a jogar é impossível entrar. Ao principio pensava que era por eles que se tinha inventado a expressão “má onda” mas com o passar dos dias fui percebendo que é o momento deles, de pura evasão e que os momentos de diversão deles passam todos (ou quase) por aquela “cancha” e por isso…a levam tão a sério, como se fosse trabalho!!

Neste mesmo campo é onde se celebra , festeja qualquer acontecimento como fim de curso de um rapaz de cá que esteja a estudar fora ou fim da tropa para outros. Nesse dia há cerveja que não mais acaba. A musica é tocada por eles em flautas andinas e sentados vão tomando e dançando como podem. Mas primeiro que eles, quem toma é a mãe terra – Pachamama. Desta forma atiram um bocado da cerveja, do copo onde vão beber, para o chão em sinal de respeito e depois então tomam eles o resto do copo.
O respeito e a tradição continuam quase intactos. Podem não ser as pessoas mais abertas e calorosas como encontrei neutros lugares mas são respeituosas e é desse ponto de vista que se tem que olha este povo que vive ainda cheio de boas tradições. Porque como em tudo, há o ponto de vista bom e o mau e sem duvida que temos mais a ganhar se optarmos pelo positivismo!!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

SAVE THE LAST TROUT!!


Assim é!! Passada uma semana de que aqui estou, vou-me apercebendo que esta ilha tem um ritmo muito próprio. Os porcos a pastarem por todas as partes, os burros que geme de fome a toda a hora e vacas que também elas se manifestam passando pelo centro da ilha como se de animais pequenos se tratassem…Pelo meio as crianças brincam nuas pelas ruas e jogam futebol pelo centro da ilha junto do porto.
Impera aqui a simplicidade e naturalidade de vida em que ninguém tem pressa para nada. Busco trabalho, para além daquele que me foi pedido, mas é difícil mover uma ilha como esta, aos poucos vou fazendo o que me deixam mais do aquilo que posso.
A ilha tem um potencial enorme que pode gerar plata muito fácil e rapidamente. Mas mais do que dinheiro e desenvolvimento de infra-estruturas há que educar as pessoas para o desenvolvimento. As ideias assaltam-me a cabeça todos os dias mas nem tudo é possível ou nem tudo se pode tornar realidade num curto prazo como gostaríamos.
O turismo tem crescido de forma exponencial nesta Isla del Sol e se na parte sul da ilha já se desenvolve a “olhos vistos” com restaurantes e hostais de mediana qualidade tendo em conta o turismo que tem recebido, na parte norte (onde estou, fica a 3horas de caminho) está tudo ainda por fazer.

As crianças habituam-se a pedir moedas aos turistas que vem, tentam impingir lugares para comer ao mesmo tempo que pulseiras e colares com símbolos dos deuses de cá. E a necessidade de fazer dinheiro é tão grande que muitos se encostam ao facilitismo que é tentar “roubar” os estrangeiros que por cá passam, os olhos deles e cabeça tem mudado muito com a entrada de plata estrangeira. Como aconteceu ontem e me surpreendeu (mas já não devia..) em que tentava que me emprestassem um radio para poder festejar com musica os anos do Kristofer. E no meio dos miúdos que eu pensava já estarem do meu lado oiço-os dizer “Emprestar, não! Só alugar”
Saí triste de coração apertado mas com ainda mais vontade de aproveitar ao máximo estes dias que cá estarei para passar alguma coisa que os possa fazer pelo menos pensar mudar de atitude ou algumas ideias. Não quero mudar vidas de ninguém, apenas alguma maneira de pensar que posso achar não estar tão bem enquadrada para o mundo e vida em comunidade e sociedade que temos…assim como eu me deixo entrar nesta simplicidade e aprender com os pés descalzos deles.

Começo a conhecer melhor as pessoas e identificar famílias e Pancho já não é um nome estranho aqui na ilha. A pesar de todas as fatiotas que utilizam as senhoras e crianças. Que parece que se escondem atrás delas mesmas, vão-se deixando abrir e abraçar por nós que cá estamos. No entanto não posso deixar de notar que há uma diferença grande Argentina y Uruguai de gente cálida para um Chile parecido mas menos de abraços e cegar a Bolívia que se distancia de forma natural das pessoas de fora. Há que ter mais paciência e querer ser integrado, porque para além dos vestidos, cartolas e hauayos somos todos humanos de coração e é ai mesmo que todos somos autênticos e puros. Há que querer chegar lá e deixarmo-nos contagiar pela boa diferença de realidade cultural que há…

Os dias continuam a ser passados, da parte da manha, com as aulas de inglês a todos os anos da escola (um de cada vez) e, da parte da tarde, aula de inglês para os guias de turismo. A necessidade de comer e de ter um chocolate, que seja, na mesa de casa é tão grande que se esforçam por absorver todas as palavras novas e verbos que lhes passamos nas diárias classes ao fim da tarde.
Para além destas aulas aproveitamos para traduzir tudo o que é texto que está no museu e ainda acompanho, pela manha, antes da escola, o guia turístico (traduzindo sempre que necessário) no seu tour do museu até as ruínas porque há sempre turistas que não entendem espanhol. Aproveito para conhecer as necessidades dos guias (13) e vocabulário que lhes faz mais falta.
E como quando fazemos o que gostamos há sempre mais tempo do que aquele que pensamos vou conhecendo os negócios que cá há e tentando ajudar com ideias e sugestões simples mas que por vezes podem fazer diferença. Por um pouco em pratica o que aprendi na universidade, ajuda-me a mim e a eles…assim o espero!!
Haja o que houver,
O boliviano vai continuar a remar
E enquanto o lago aqui estiver
Truta não vai faltar!!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

PREÇO CERTO EM €UROS


1 – Menu em La Paz composto de sopa, truta, arroz, batatas e salada 0,75€
2 – Coca-cola de 2,5L nos semafros 0,75€
3 – Quarto no topo da parte sul da Isla del Sol com vista para o Lago Titikaka 2,4€
4 – Viagem de 3horas de bus de Copacabana para La Paz 1,4€
5 – Viagem de barco de 2horas de Copacabana á Isla del Sol 1,4€
6 – Internet durante 1hora en Uyuni 0,35€

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

VIDA EM ABUNDÂNCIA!


Á falta de dinheiro e de caixas multibanco em Copacabana tivemos que fazer uma viagem de 3horas até á que estivesse mais próxima que era em La Paz, percebe-se ai o desenvolvimento ou a falta dele neste país.
E já com saudade me despeço do Bernardo. As férias dele acabam e a minha viagem continua, agora de novo sem ele que tanto me ajudou a perceber o que andava realmente a fazer, a dar ainda mais sentido a tudo e melhor que tudo isso é ter o abraço dum irmão e isso não tem preço…nem certo nem variável!!

A minha viagem está de volta a Copacabana (desta vez com plata no bolso) e á Isla del Sol onde me reuni com o senhor Eleuterio, vice-presidente da comunidade de Challapampa, e de sorriso na cara me deu aval á minha estadia na ilha com o propósito de ajudar e colaborar também com os outros 3 voluntários da Suécia, que já cá estavam.
Estou a viver na mesma casa que eles (pertence á Comunidade) mas a dormir no chão…”quem tarde vier dormirá do que trouxer”
E que satisfação poder estar de volta a este lugar, tanta coisa há para fazer mas mais que tudo é preciso paciência e forca de vontade. Porcos a passearem na espécie de praia que aqui tem e burros e vacas também eles tranquilos desfilam pela ilha..
O trabalho começou com uma aula de inglês na escola para os miúdos de 10/11 anos. Idade de alguma timidez de uns e rebeldia de outros mas todos com igual ganas de gritar, aprender e absorver tudo o que lhes temos para ensinar. Gratificante e maravilhoso poder compartir do conhecimento que temos com outras pessoas que o recebem de braços abertos. Visto agora a pele de professor de inglês numa escola com vista para o lago Titikaka e campo de batatas que se vira de futebol durante o tempo de aulas.

As meninas, vestidas igualitas ás mães parecem a caminho de um baile, isolam-se muito dos rapazes que não tem grande magia para se vestir…a não ser que arranjem alguma t-shirt de futebol e aí sim usam-na como se de uma coroa se tratasse.
No dia seguinte acordo cedo para ir com o Jorge (guia turístico, agricultor e pescador) receber os turistas que chegam de barco. Vestido a rigor, com a melhor roupa que tem, apresenta-se e apresenta-me como tradutor para os estrangeiros que não entendem o espanhol. Uma visita modesta a um museu que nos leva até á cultura Tiwanako e mais tarde Inca, antepassados desta ilha, e ainda pormenores desta comunidade de Challapampa. Termina com a visita ás ruínas onde esta também uma rocha sagrada,do tempo dos tiwanakotas e mais tarde incas, e onde se sacrificava animais como a Lama e mais tarde humanos para louvar as deuses Terra, Fogo, Água e Ar.

E por agora é este o meu trabalho na ilha que a viver com Emy, Ida e Kristofer ensinamos inglês na escola á muchachada e ao fim da tarde toca aos guias turísticos. Mas parece pouco tal é a necessidade de desenvolvimento e pobreza que se vive dentro e fora das casas, sobretudo neste lado norte da ilha.
Ontem á noite de toalha ao ombro a tentar arrancar um chuveiro fui falar a uma senhora de um hostal e quando me abre a porta de sua casa vejo a família toda a jantar sentados em bancos de pedra, em chão de terra e ratazanas a passarem-lhes pelos pés. A imagem foi esclarecedora e emotiva de mais para me fazer pensar que mais posso eu dar a esta gente, que vive nesta condições para poder ganhar umas moedas dos turistas que ficam alojados no hostal que tem. Dar-lhes dinheiro para a mão sem mais nada não serve de muito. Há que que passar a formula para o multiplicarem!!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

4a MARAVILHA DO (MEU) MUNDO: Isla del Sol - Lago Titikaka


Ao fim de quase 5meses de viagem e a descobrir a verdadeira tradição sul americana num país chamado Bolívia, encontro aquela que considero a 4ª Maravilha do Meu Mundo. Depois de ter passado pela parte norte da Isla del Sol, no lago Titikaka, fui até à parte sul onde ficámos a dormir. A dificuldade de descrever tao grande beleza é difícil. São dois pólos distintos mas que juntos fazem desta ilha uma Maravilha.

Chegámos de lancha à parte sul e começámos a subir, subir e subir. Pelo caminho víamos senhoras com os seus tradicionais hauayos (panos grandes artesanais) carregados às costas e passavam por nós a mil parecia que carregavam algodão mas não…era garrafões de agua, comida ou ate utensílios para os distintos negócios que cá têm. Desenvolvem a agricultura e aproveitam para ganhar outro tanto com negócios mais virados aos turistas desta ilha como restaurantes, alojamentos, kiosks e montras no passeio minadas de artesanais. Para além disso e olhando para o lago vejo na declinação da ilha uma infinitude de maravilhas, de burros e lamas a correrem e os donos atrás deles, vejo crianças de pele escura a treparem árvores e outras já de hauayo às costas ajudando em pequenas quantidades os pais.
O meu irmão via-me escrever e perguntava-me como é que se pode descrever um cenário como este, esta vista, esta coisa que parece que não tem nome ou que qualquer adjectivo é curto para dar noção do que realmente é.
Estamos a 4000metros de altura e a vista do topo é para um lago que não tem fim, parece um espelho. Do outro lado vê-se Peru e deste lado vê-se as terras ordenadamente agrupadas por cereal e vegetal.
Por muito que escreva, as palavras serão sempre poucas, mal colocadas e nunca descreverão o que isto é realmente. Não há nada como estar com os pés assentes numa Maravilha!!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Pancho from Titikaka


A vida surpreende-nos...e ainda bem!! Só temos que nos deixar levar pela liberdade de pensamento, pela liberdade do essencial e pela vontade de sermos abraçados e tocados por tudo o que de bom existe!!

De La Paz seguimos para Copacabana para assim chegar ao lago Titikaka. Pelas fotografias parecia normal e a vontade de conhecer era...média. Recém chegados depois de uma viagem de 3horas pegámos num barco e fomos até á parte norte da Isla del Sol. Saí do barco...e percebi que era ali mesmo que tinha que ficar. Porcos e miúdos a jogarem descalços nas ruas estreitas de pedra, burros gritando de fome e um lugar com muito que fazer. Simplicidade e espectacularidade de paisagem rodeado por um lago gigante. Percebi ao fim de 5 meses que tinha chegado à América Latina mais pobre que tinha imaginado e é aqui que eu quero estar. De pronto, deixei a sopa a meio e o meu irmão pendurado, fui falar com a responsável duma ONG que estava la a trabalhar e disse-lhes que queria ficar com eles.

Depois de uma discussão no hostel em La Paz por me terem encolhido a roupa toda, este era o sinal, o contraste que precisava para perceber que a liberdade passa por desprendermo-nos das coisas que não nos deixam ser autênticos e agarrar o essencial. Fala-se muito em liberdade mas é difícil ter-la porque fugimos dela ao mesmo tempo que a buscamos. Assim sem medo e sentindo que o meu lugar e viagem passa por ficar, aqui fico...confiando ou mais que tudo, acreditando!! A ONG está a trabalhar para construir uma biblioteca, ajuda na escola com aulas de ingles e ainda trabalha para ajudar a melhorar o turismo desta parte Norte da Isla del Sol.

Se já achava que a Bolívia conservava em muito todas as tradições...mais ainda aqui. Para além de serem pessoas pobres, estão a 2horas e meia de barco de Copacabana que é o centro mais próximo. Acontece como as 2garotas que conheci no barco terem que ir a Copacabana fazer compras para a família porque sai mais barato que comprar na ilha. Um lago enorme y lindo de mais que dificulta a tarefa de por em palavras tudo o que representa. Isolado de algumas coisas mais colado a outras e ás que para mim fazem mais sentido...aqui fico a 2horas e meia dum centro.
Vou agora conhecer a parte sul da ilha que é um pouco mais desenvolvida mas que fica a 3horas de caminho (horas e meia para eles de cá). Ai passo a noite e me despeço do Bernardo. Aqui percebo que é bonito sermos livres quando estamos sozinhos mas perfeito sermos livres com alguém junto a nós!!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

UNBOLIVIABLE


Ao sair de Uyuni fomos de bus rumo a La Paz, toda a gente nos avisava para ter cuidado com os nossos pertences. Até que começámos a por mais olhos nas mochilas e bolsos.
Na entrada para os autocarros começava já a confusão. Sem electricidade nas ruas e feirantes que não se cansam de vender, íamos entrando para o nosso lugar. Com o passar do tempo na viagem fomos percebendo que a frase da senhorita que nos vendeu os bilhetes fazia sentido: “não se preocupem meninos, há lugares e muitos”. Ou seja, parece que toda a gente tem lugar e por isso durante a viagem de 12horas as pessoas não paravam de entrar…há sempre lugar para mais um, mesmo que pareça que não. O corredor já não existia, estava repleto de señhoras com as suas mil roupas e mercadorias nos respectivos hauaios. Basicamente, não nos podíamos mover! E a televisão que aparecia na folha de papel, aquando da venda dos bilhetes, nem sinal dela no autocarro. O nosso lugar estrategicamente bem escolhido para estar perto da televisão…valeu de nada!!
As primeiras 6horas de viagem foram de pura estrada de pedregulhos e terra no meio do nada e sem luzes pelo caminho a que alguns se atrevem a chamar estrada. Viagem épica que parecia não terminar. Chegámos a La Paz às 7h da manha de sábado e mais parecia La Guerra tal era a “selva”. Lixo, cidade escura, pessoas a comer num canto parecia já almoço, outros a dormir no chão, vendedores em todo o lado e a venderem de tudo (parece que não dormem nunca) e um edifício que dizia “Organização Democrática” totalmente esburacado por pedras ou balas.
E assim foi a recepção que tivemos na capital dum país que tem pela primeira vez na sua historia um presidente indígena. Odiado por uns e amado por outros. Evo Morales, é o verdadeiro presidente do povo!!

Um par de dias em La Paz fez-me sentir viver dentro de um bairro gigante que engloba toda uma cidade. A feira parece não ter um dia especifico porque todos os dias os feirantes saem à rua e montam o estendal com tudo o que têm para vender nesse dia. E nós limitamos-nos a regatear tudo porque é assim que aqui funciona, não há preços fixos e nem todos os produtos são verdadeiros. Percebi melhor isso quando ia a lavar o cabelo com um shampoo qualquer de marca comprado na feira e me sai para a mão uma gelatina que mais parecia querer brincar na minha mão. A necessidade de ganhar dinheiro é tão grande que depois não é difícil ver meninos nos semáforos a vender rolos de papel higiénico, minibuses a concorrerem entre si para ver quem leva mais passageiros em carrinhas de 9lugares com uma personagem que grita sem cessar os lugares por onde passa o minibús.

Quem vai na estrada esta em constante perigo, com gente que não respeita uma única regra de transito. Por isso há a necessidade de ter uns indivíduos vestidos de zebra e a passarem na passadeira de x em x minutos para ajudar a que haja algum respeito e que os peoes que querem cruzar as ruas, realmente o consigam. No meio de tudo isto vejo ao meu lado uma niña a urinar para um saco de plástico e a entregar à mãe que vende artesanias aos carros parados nos sinais. Vejo ainda uma velhota carregar uma botija de gás no seu hauaio. Parece um “vale tudo”!!

É um país que vive realmente noutro nível, não só economicamente como também fisicamente a 3500metros acima do nível do mar. Gera-se neste momento uma polémica luta entre as federações de futebol da América Latina que se querem recusar a jogar aqui em La Paz porque em poucos minutos estão caídos de cansaço…e percebe-se porquê!!

Definitivamente o país que mais me impressionou por toda a falta de estrutura e pobreza estampada à vista de todos. Parece que qualquer projecto que se apresente aqui será sempre bem vindo e uma mais-valia. Por tudo isto, há quem diga que a Bolívia é um país a precisar de aterrar!!

sábado, 16 de fevereiro de 2008

3a MARAVILHA DO (MEU) MUNDO: Salar de Uyuni


O dia começou cedo com o objectivo de chegar ao salar de Uyuni e daí seguir para o centro onde terminaria este tour pelo sul boliviano.
Falava eu do salar sabendo que deveria ser bonito mas que o Cristo Rei em Almada também esta muito bem conseguido.
Não tinha realmente noção…até la chegar. Fiquei mudo sem saber o que dizer para quem estivesse ao meu lado pois eles deviam estar a pensar o mesmo.

Um salar interminável de kilómetros com um fundinho de agua e a paisagem que não dá quase para distinguir o céu do salar. Pelo meio estão homens trabalhando diariamente com uma pá a fazer montinhos e assim ir secando o sal. É difícil de passar o que senti…estar a caminhar, a pisar sal…a correr no salar. Parecia uma Polinésia Francesa mas para melhor!! Há lugares que me sinto e percebo que sou grande e outros que me encolho e me limito à pequenez em lugares que posso correr, saltar, e nunca chegar ao fim, nunca chocar com nada. A isto chamo o mundo das maravilhas, este em que nós vivemos. É um privilegio poder desfrutar de um mundo assim!!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A folha de coca nao é uma droga!!


Sem dormir mas com os olhos bem abertos, assim é o efeito da coca, cometamos de jeep o nosso tour pelo sul da Bolívia. Na fronteira para entrar na Bolívia não dava para acreditar. Parecia brincadeira!! Fez-me lembrar quando eu era pequenino e brincava de bicicleta com os meus irmãos em que um fazia de policia. Aqui era quase o mesmo, a diferença é que não era a brincar, era mesmo de verdade. Um arco no meio do nada dizendo fronteira Boliviana e umas casas mal amanhadas. Tudo à volta era deserto, kilómetros e kilómetros de nada…e depois admiram-se que há gente perdida!!

Admiro muito o condutor por saber (ou fingir bem) o caminho certo no meio de paisagem tão igual. Continuámos a subir em altura ao mesmo tempo que via as pessoas porem bolas de folhas de coca na boca para irem sugando e assim não sentirem tanto a altura.
Uma viagem indescritível que me surpreendia a cada kilometro. A verdade é que eu não dava muito pela Bolívia ate cá chegar. Talvez por não ter comigo nenhum guia e o único mapa da América latina somente ter comprado dias antes.
Com paradas para almoçar, jantar e dormir em casas privadas de bolivianos, que as transformavam em albergues aguando da passagem de turistas, dava para ir percebendo como vivia esta gente e entender a pobreza que aqui se vivia e que eu tanto já tinha ouvido falar.
Tudo pede dinheiro e tudo impinge tudo. E como o bom é saber através das próprias pessoas, que sofrem de falta de dinheiro, o que lhes vai na alma e o que pensam…assim tentando conversar com uma dessas señhoras que, como todas, usa a cartola, hauaio e saia gigante, não me dava muita bola, queria apenas que eu consumisse alguma coisa. E ai a musica deu a volta a situação, cantei “oh rama oh que linda rama” e o barracão, onde as señhoras todas vendiam de tudo, ficou calado. Não é que eu cante muito bem mas perceberam que me estava a esforçar para que saísse bem e daí resultou conversa e quebrou-se assim a barreira do Turista/Nativos. Por vezes, inconscientemente, exigimos muito dos outros sem querermos dar nada de nós proprios.
O jeep segue e nós também mas, de 10 em 10 minutos parava e nós premiamos…estavamos no meio do nada. Mas o ar tranquilo do condutor Javier enquanto arranjava o motor, fazia-nos acalmar.
A musica também não ajudava, um boliviano cantando mais parecia que lia a letra da musica como se de um livro se tratasse…enfim, era o único cd e radio não havia, obiamente!!
Lagos e termas…até gaisers visitámos num sul de Bolívia repleto de natureza que arrepia pela diversidade e beleza. Tanto para ver e descrever que se torna difícil para qualquer escritor em inicio de carreira!!

E numa dessas paragens para almoçar aproveitei para me tentar perder e conhecer a vila e as casas dali. A meio do caminho encontrei Mário (garoto de 12anos) que me levou aos spots da Vila onde vive explicando-me que a maioría das pessoas trabalha na mina, tanto homem como mulher. Não cheguei a descer a nenhuma para ver as condições mas imagino o que seja debaixo da terra se cá em cima já é isto que se vê de pobreza e falta de condições. E quem explora a mina de ouro é claramente uma empresa estrangeira, do Canada. Continuei com o Mário até à escola dele onde todos os amigos e meninos da vila jogavam à bola…e ai fiquei!! Mas não tinha bem noção do que seria jogar futebol a 3800 metros de altura. Passados 2minutos morri, fica a experiência para não voltar a repetir. Não sou boliviano, é um facto…e vivo ao nível do mar!!

Acabámos o dia num albergue de família boliviana a comer assado de lama. Existem tantas que se não se comer algumas em poucos anos não se passa de jeep no deserto.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Amigo do amigo meu amigo é!!


Amigo do amigo meu amigo é!! Assim foi em Pisco Elqui quando Matias me arranjou lugar para ficar e ainda me arranjou o contacto do amigo que vivia em S.Pedro Atacama. Sem hesitar muito liguei-lhe e ele, com a melhor onda do mundo deixou-nos acampar no jardim de casa dele (onde ele próprio acampava) tal era a enchente de turistas que os pais dele ali tinham no alojamento. E com a tenda que nessa manha a Benedetta (actriz italiana de teatro que conhecemos em 5minutos de conversa) nos emprestou sem ter-mos que pedir, percebeu que nos faltava tenda e de pronto a deu para as nossas mãos sem saber se nos ia voltar a ver. Se as pessoas respeitarem a confiança, acaba por se um jogo que se pode jogar para sempre e todos tiramos proveito dele.
Esticamos a tenda no jardim do Jorge, vestimos umas luvas e fomos ajudar no trabalho que fazia para ajudar o pai a melhorar o Albergue que tem.

Limpeza da terra. pedras e lixos porque em 3dias ia ser o assado de inauguração da piscina de plástico que ali tinham!!
No fim do trabalho, por falta de luz, convidaram-nos a entrar e a tomar once (espécie de jantar mas com alimentos que pertencem ao lanche) com toda a família.
Trataram-nos como se fossemos melhores amigos do filho, Jorge. O facto de ser amigo do Matias fez com que tivessemos "livre transito" para todos ali em Atacama.

Mais tarde, quando já não se pode fazer mais barulho a partir da 1h da manha, todos os que querem continuar o "carrete" seguem para lugares mais isoladas do centro e mais "desérticos" para continuarem a festejar e ai...há de tudo!! Fomos caminhando no silencio e na escuridão ate que encontramos a esperada fogata gigante e milhões de pessoas. Ate havia quem de mochila se dedicasse a vender bebidas, o negocio não pára. O que é certo é que a policia ali não chega...ou não chegou e por isso desfrutamos em ambiente familiar, mas família grande, até que nos cansássemos.
No dia seguinte (já nessa manha) tínhamos que estar despertos para iniciar o tour que nos levava pelo sul da Bolívia. A cabeça volta a virar calculadora para fazer os câmbios...

PS - Parabéns mãe e pai!! Que orgulho!! 31 anos... e eu sinto-me iluminado por ser fruto dessa magia contagiante!!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

No deserto, em busca da camisola amarela!!

De Calama para S.Pedro em 2horas de bus com homens que xitadamente começavam a trabalhar no dia seguinte ali mesmo no deserto. A tshirt do Cristiano Ronaldo ja começa a dar sinais de integraçao, ninguem fica indiferente!!
O tempo aí foi de coladela para nós os dois, que é como quem diz…”dois dias sabe a pouco em Atacama”. Paisagem toda ela de postal e um povo que respira pó de contentamento. Muitos turistas, é verdade mas tambem muito que ver…o deserto é grande!

E assim de bicicleta um dia inteiro pedalámos mais do que podiamos para ver o máximo que conseguissemos, para nos podermos perder na imensidao do deserto y “oásis” merecidos e ainda chegar a tempo do por do sol no Valle de la Luna.
Parecia facil ao principio mas rapidamente mudou de figura tal foi a luta contra o vento e as pernas que já nao pedalavam como antes. É o grande acontecimento do fim do dia em S.Pedro Atacama, os carros de tours e poarticulares passavam em catadura mandando-nos pó para a cara. O que nos continuava a dar força era a meta que nos tinhamos proposto e assim chegar a tempo do por do sol.
Olhávamos já mais para o sol que para a estrada…

Chegámos!! Quase sem conseguir andar directo. Ao nosso lado passo a passo caminhavam tranquilos todos os “colarinho Branco” para tentar encontrar o melhor spot num valle de la luna que parece tirado dum conto de fadas!! Um Sol, umas montanhas, dunas…e estamos no deserto da Atacama!!

E porquê correr atrás de um pôr do sol sabendo que durante o dia o mesmo sol nos tostou a cara toda?! Porque inspira, porque vem do alto, é grande e belo. E tudo o que é belo deve ser visto e apreciado sem limites!!