sábado, 31 de maio de 2008

Lendeas de paixao


Depois de já ter passado tanto tempo de viagem nao houve nada que corresse mal nem mesmo nenhuma doença a não ser a ressaca gigante que tive depois de me despedir da Amazônia, em Madre Tierra, com o Presidente da Junta a tomar tragos do sumo fermentado da cana de acucar. E agora nem mesmo a praga de piolhos que se apoderou dos miúdos daqui da fundação. Ou é da minha altura que eles não saltam ou é pura sorte e mentalidade forte de que nada me vai passar. Tampoco os piolhos conseguiriam fazer com que eu me afastasse dos miúdos, é uma necessidade que tenho e não vou deixar de abraçá-los ou estar ao lado deles só porque tem uns parasitas na cabeça. A realidade é que uma pessoa mesmo que não tenha começa a pensar qualquer comichão já é piolho.
As explicações de matemática e os treinos de basket seguiram e posso dizer que agora já os vejo a pegar mais vezes na bola de basket que na de futebol e a utilizarem o cesto que antes era desprezado por todos. O torneio aproxima-se e agora Jim continua com eles uma semana mais até que comece a competicao.

A minha integração foi muito rápida e os quase 20 dias que aqui estive fazem-me parecer 2 meses. Todo o trabalho que as missioneiras fazem é fruto de uma tranqüilidade interior muito grande. Em conversa com uma delas, explica-me com a frase “de que vale ganhar o mundo se vimos a perder a alma” que a fez perceber qual é o seu lugar no mundo. Pensamos muito em querer mais e mais coisas ou chegar a determinadas metas que mais tarde, quando as atingimos, ficamos “normais” sem saber porque aí chegamos e porque a queríamos tanto. Porque acontece que nos agarramos e queremos prender a coisas que na realidade não valem tanto a pena. Queremos o melhor emprego, o melhor ordenado...e para que?! Se não tivermos um propósito maior do que simplesmente ganhar por ganhar entramos facilmente não no mundo dasmaravilhas mas sim numa cadeia que é artificial, num caminho limitado pela artificialidade de bens e pensamentos. Difícil é deixarmo-nos perder a vida mundana, em que parecemos muitas vezes baratas tontas sem saber o sentido de nada, em detrimento de um bem maior...deixar crescer ilimitadamente o nosso coração. Que qualidade tem a nossa vida?! Diz-me muitas vezes acerca de diferentes assuntos que quantidade não é sinônimo de qualidade e isso esta cada vez mais evidente no estilo de vida que levamos ou somos levados a crer que vale a pena. Fazer e dizer tudo aquilo que nos vem a cabeça em vez de pensar tudo aquilo que fazemos a dizemos.
Este tempo aqui ajudou-me bastante a parar e pensar no que tenho vindo a fazer e a viver. No impacto que tudo isso tem e terá no meu futuro e na relação com as pessoas com quem me cruzarei.

E nestes últimos dias fui também acompanhar uma das missioneiras na visita a um doente de Olón. No meio de bastante desenvolvimento que já há neste lugares encontra-se também pessoas como o Sr.Marciano que tem 80 anos, ficou cego com o passar dos anos e vive da caridade das pessoas, numa casa de madeira com o chão de terra batida. A família já não existe, nem mesmo um tio ou sobrinho. Não vê e se tem visitas esta entretido se não temesta deitado na cama que ocupa praticamente toda a casa. Pessoas como ele há por toda a parte neste mundo e não é necessário vir ate á costa do ecuador para conhecer esta realidade mas não deixa de impressionar. Conosco levamos um bolo de anos para festejar o dia dele que já tinha passado mas sozinho. Admiro estas pessoas que apesar de tantas contrariedades continuam a querer agarrar a vida e a fazer de nós seres úteis. Despeço-me deste senhor de outro mundo, como ele próprio se nos apresentou, que apesar deja estar mais para lá que para cá continua a arranjar-se e a preocupar-se com a imagem todos os dias.
Saio agora para a Ruta del Sol com a Mayra (irmã mais velha de um dos rapazes da fundação que sofria na pele a ira do pai) “fazer dedo” esperar que algum carro pare e nos leve até Puerto Lopez onde tem casa de família e ai vamos ficar. Será a primeira paragem de uma segunda fase minha com esta ruta...

terça-feira, 27 de maio de 2008

domingo, 25 de maio de 2008

VITÓRia

Para alcançar a una Vitória não nos basta termos as qualidades e todos os recursos, acima de tudo, há que acreditar nela...que é possível!! Assim têm feito todos os dias, os que aqui trabalham acreditando que se pode mudar, se pode dar e Vitor agarrar esta oportunidade de ser feliz! É uma vitória que se vai desenhando a cada dia que passa. Antes estava perdido, ninguém apostava nele e ele próprio também devia pensar que o mundo não esperava nada dele, que não existiam expectativas. E criança que é criança não conhece o conceito de fracasso e dessa maneira não o teme. Mas é totalmente mentira que não haja expectativas em relação a um ser humano, seja jovem, criança ou já velho, espera-se que a nossa passagem pelo mundo deixe marcas. Não precisamos de ir á lua mas com as condições e recursos que temos ou conseguimos alcançar, fazer o melhor possível por deixar o nosso lugar melhor do que aquilo que estava.

Temos todas as possibilidades para deixar marcas positivas em tudo quanto tocamos independentemente da nossa condição. E isto é o que o mundo espera de nós.
Vitor despertou e é impressionante ver a evolução que está a ter. Já se vê penteadinho com roupa lavada e sapatos novos a distribuir beijos e abrazos por todos. Em uma dessas manifestações de carinho entusiasmou-se e levei uma mordida que ia ficando sem pescoço mas a intenção era a melhor, assim espero! Vai soltando palavras muito básicas á base de sons como “chão” e “papa” igual a qualquer criança que começa a aprender a falar. Já se vai entendendo mais coisas nele mas não deixa de estar sempre irrequieto a querer ver e aprender tudo o que está á volta. Quando veio podia-se pensar que seria difícil, ás missioneiras, estarem com os olhos colados nele para que se vá civilizando mas não e em grande parte porque existe nelas um total desprezo pelos obstáculos que poderão existir. Funciona tudo tão bem que já são, na maior parte das vezes, as próprias crianzas que estão a viver na mesma casa que ele que o ajudam e, ganhando responsabilidades de “irmaos”, o vão educando da mesma maneira que foram educados pelas missioneiras. É como uma família grande com muitos filhos em que se pode pensar que o peso é grande para os “pais” e difícil de cuidar de tantos filhos mas que acaba por funcionar como uma “cadeia de favores” em que os mais velhos já educam os mais novos e ao mesmo tempo são educados os primeiras pela responsabilidade acrescida que ganham. Para quem assiste atodo este processo (como eu) é de ficar colado muitas vezes a olhar para o vitor e a admirar o crescimento rápido e o contacto e carinho que já tem pelas pessoas todas. Aos poucos vai fazendo amigos de criando admiradores concretos, eu!!

Jim e eu continuamos com os treinos de basket com vista ao torneio entre colégios que vão ter acomecar na segunda semana de junho. E para gente que está habituada a ver e jogar futebol a toda a hora, mais importante que ensinar-lhes algumas regras e praticar exercícios é passar-lhes gosto e entusiasmo por este desporto, que discutam jogadas e queiram parecer-se a algum jogador dos bons. A verdade é q tem vindo a surtir efeito, quando nao há treino já seve muitas vezes eles a pegarem na bola de basket e praticarem.
No único campo que há na escola todos os dias antes de começar temos que o limpar de lixo que desinteressadamente vão deixando no chão e ao mesmo tempo fazer de segurança para que todos os milhões de crianças não entrem a interromper o treino. Tarefa muito difícil porque, como em qualquer escola deste mundo, o campo de jogos é o centro de diversões.
Ontem foi dia de película de basket no albergue dos rapazes, vão-se familiarizando e o que mais se quer é que ganhem amor para aprender e lutem mais dentro de campo e... já se começam a ver Jogadores!!

Nestes dias a viver aqui na maior paz estou a fazer o que realmente gosto com treinos de basket, explicações de matemática na casa das ninas e outras tarefas variadas pela manha. A maneira como fui e sou recebido faz com que este pouco tempo de estadia aqui pareça muito maior e claro que ajuda muito a genuinidade das pessoas que aqui trabalham que me fazem parecer amigo já de longa data. Aproveito a estabilidade deste lugar onde estou e assim consegui ir trabalhar como empregado de mesa este fim-de-semana num restaurante em Montañita para assim ter mais possibilidades de seguir viagem. É um lugar com muitos turistas e como tal as gorjetas são melhores que em qualquer outro lado. E quando me toca recolher a mesa é sempre com grande entusiasmo que vou ver o que cada cliente me deixou. Há uma espécie de trabalho de equipa entre a cozinha e o empregado de mesa para que tudo seja rápido e bem servido. Caso alguma coisa estar mal o meseiro é quem dá a cara apesar de não ter qualquer influencia na cozinha, mas o contrário também pode acontecer. A cara-de-pau é usada para esses momentos!!
Não se ganha nada bem, é verdade, comparando com Portugal, mas é esta a realidade do país e continente. Junto assim alguns trocos que já me começavam a faltar para que em um par de dias saia de cá e continue a “ruta del sol” em direcção ao norte do Ecuador. O dinheiro não é o meu propósito mas dá-me a oportunidade de alcançar alguns objectivos que neste caso é o de seguir viagem.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Convite para a Vida!


Dizia Madre Teresa de Calcutá que o amor só é verdadeiro se posto ao serviço dos outros. Lembro-me desta frase não só porque está bonita mas porque a vejo presente em cada missioneira que aqui trabalha. Elas chamam-lhe obra ao trabalho que desenvolvem neste lugar que começou com o santuário e que tem, agora, escola e casas de acolhimento, mas para mi misto é mais que apenas uma obra, eu chamar-lhe-ia Obra-de Arte!! É admirável a maneira dedicada com que trabalham com todos os miúdos vindos de diferentes partes do Ecuador e com diferentes históricos familiares. Comparo-as muito a Madre Teresa, que a pesar de aqui não se trabalhar com leprosos ou viverem em condições tão miseráveis quanto as que se vivem na Índia, acolhem a todos sem preferências. Abrem as portas a todos, são o abraço para todos os que necessitem. A única maneira de isto ser possível é com amor. É amar todas as pessoas e a cada uma em particular. Não são missioneiras ricas e tampoco de grandes recursos mas comida e abrigo nunca vai faltar. A magia acontece quando se quer com muita força um “impossível”.

Ontem chegou mais uma criança que deve ter uns 4 ou 5 anos, chama-se Vítor Hugo. É mudo e encontraram-no descalço pelas ruas da província de Guayas já era de noite. Pessoas que já o tinham visto dizem que não sabem desde quando está na rua. Hoje demanhazinha quando eu me dirigia para ir tomar o pequeno almoço cruzei-me com ele, tentava ir não sei onde (nem ele próprio sabe). Tudo lhe parecia raro e estranho. Notava-se que estava confuso e a querer experimentar de tudo. Fátima, uma das missioneiras mais antigas, levou-o até ao refeitório onde tomávamos o pequeno almoço e aí parecia o verdadeiro “Índio em Nova York”. Metia as mãos na manteiga e comia de tudo à colherada roubando dos que estavam ao lado. É difícil controlá-lo e não há um modelo escrito de como fazer porque não há 2 pessoas iguais. Como educar a um menino que parece acabado de sair de um buraco onde teve fechado os últimos anos. Trazia com ele uma mochila sem fecho, um carro de brincar todo partido só com uma roda e passeava-se descalço como pulga de um lado para o outro.

Uma criança que acaba de chegar ao mundo já com uns 4 ou 5 anos. Difícil de entender isto se já nasceu à muito tempo atrás mas a verdade é que um só vive realmente quando recebe amor. Vítor foi abandonado não se sabe quando mas tem marcas de queimaduras e golpes por todo o corpo. Toca, mexe e bóta os olhos em tudo o que está à volta dele…Para mi misto é o que pode chamar de Renascimento. Um ser como ele é pode ser incompleto aos olhos de certas pessoas e de outras ser perfeitamente completo e ter tudo o que necessita. São definições que criamos e fazemos delas parecerem dogmas. Quem define se é completo ou incompleto somos nós mesmos nas nossas cabeças e aquilo que quisermos acreditar é o que vai ser o nosso pensamento dominante. Criemos então um pensamento ambíguo e saibamos ver mais além do que qualquer animal possa ver.


Trouxeram-no para aqui e abrem-lhe os braços para que perceba que há alguém que o quer e que a rua não é lugar para ele nem para ninguém. Não se sabe para já a história dele mas tampoco interessa por agora. Imagino algumas possibilidades que o possam ter levado a estar na rua mas como são tudo pensamentos demasiado negativos e pessimistas prefiro não perder tempo a desenvolver-los. Aos poucos irá aterrando e levará o tempo que for necessário porque ganhar uma criança que estava perdida é por mais vida naquilo que já é vida!!

A minha admiração por estas missioneiras cresce dia após dia. Acolhem sem limites a todos sejam cristãos ou ateus, ricos, pobres, mendigos ou doentes. Parece que nasceram com os braços abertos e assim continuarão para sempre!!


A minha estadia aqui tem-me ajudado de facto a que continue a viver intensamente este ano fora de casa, a pesar de já se aproximar do fim. A proximidade com o mar, as crianças novas que diariamente chegam a esta casa seja por inexistência ou ausência de país, problemas de marginalidade ou até de protecção em certos casos. Um movimento constante de todos os que cá vivem. O despertar é demanhazinha que se faz e antes de as aulas começarem tudo ordena quartos e casas de banho. Depois de as aulas terminarem voltam a ter tarefas de limpeza de casa onde vivem e outras vezes trabalhos mais pesados ou de manutenção.
Estou mais entusiasmado que nunca com o novo trabalho de treinar os miúdos para o campeonato de basket que se vai realizar em Junho. Jim (voluntário americano pela terceira vez aqui), que é a minha grande companhia e irmão meu aqui dentro, e eu começámos a fazer treinos diários bem planificados aos miúdos mais velhos de 15 aos 18 anos. Nunca em toda a história deste Colégio conseguiram trazer este troféu. Este ano com Jim e comigo cheios de força e disponibilidade, vamos aproveitar o que sabemos de basket para lhes passar tudo e fazer com que esse troféu chegue ao espaço vazio que há na estante. Força, físico e ganas não lhes faltam só mesmo faltava quem os ajudasse a direccionar essas qualidades que já têm. O futebol é o desporto que mais praticam e com que vibram mais mas ninguém gosta de perder, muito menos nesta idade, nem que fosse bádminton. Só lamentamos já não estarmos cá para o campeonato que começa dia 5 de Junho mas até lá vamos fazer deles melhores jogadores de Basket que alguma vez puderam imaginar. Nenhum tem apelido Jordan…por enquanto!!

sábado, 17 de maio de 2008

6a MARAVILHA DO (MEU) MUNDO: Santuário Blanca Estrella de la Mar (Olón)


À medida que vou conhecendo as maravilhas do meu mundo nunca sei quando aparecerá a próxima mas penso sempre que depois de tantas imagens e lugares que já vi é difícil que me surpreenda de novo.
A
única maneira de este inesperado não acontecer era este santuário não existir!! Começava o ano de 1984 e um padre suíço de nome Othmar teve a brilhante visão de imaginar um santuário em forma de barco num lugar onde não existia nada, nem estradas, nem casas e pouca gente por ali passava. Foi a melhor forma de dar vida a este lugar que fica entre Montañita e Olón. Em forma de barco não apenas porque está junto ao mar mas também por simbolizar o que queria e viria a ser de abarcar toda a gente.

Claro que construir do zero não é tarefa fácil e assim contou com a preciosa ajuda das pessoas que viviam nas redondezas. E assim, com mão-de-obra local estavam a construir um barco para ficar em terra mas que seguramente ia chegar mais longe pelo propósito para que foi construído.


A vista que há daqui é quase indescritível. Uma imensidão de mar e marés que não se cansam nunca, provocando um ruído parecido ao da chuva…Este mundo oferece-nos tanta harmonia e beleza que, a menos que fossemos cegos, não nos sentiríamos arrebatados com admiração e regozijo.


Hoje e passados 24 anos da construção do santuário há já mais de 350 jovens e crianças (este numero está sempre a aumentar porque todos os dias chegam crianças novas) que vivem nas casas e estudam na escola que posteriormente se foram construindo para satisfazer as necessidades de todos.

O sonho comanda a vida!!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

TJ - TODOS JOGAM

A minha passagem por Guayaquil não terminava sem antes voltar a ver a família Mero que me tinha acolhido da primeira vez que cheguei a esta cidade, dois meses trás quase. Convidaram-me agora para passar o dia da Mãe em casa dos avós deles, com toda a família, primos, netos, etc…Que bom que é, continuar a ser tratado como filho pelas famílias por onde passo. Um assado durante toda a tarde acompañHado por uma sangria à portuguesa!! Volto a aproveitar o aglomerado de gente, e estarem todos felizes, para mendigar lugares para dormir durante a ruta del sol que vai por toda a costa do Ecuador até ao Norte. A fome de ver o mar já se começava a apoderar de mim. Saio de mochila e bus até Libertad com a ideia de fazer a ruta del sol à boleia…os dólares já estão em vias de extinção nos meus bolsos. Em Libertad o contacto que tinha da casa de INNFA não podia ter funcionado melhor. Ketty não só me arranjou lugar para dormir no hospital odontológico que aí há como me deu mais contactos na ruta em Olón e Montañita. O hospital ficava exactamente em Ballenita, a 1 minuto do mar, e eu quase que chorava de alegria só de sentir este cheiro tão característico. Deram-me um quarto com banho privado e vista para o mar. Que mais posso pedir?! Dormi descansado com a compañhía de formigas de meio metro a passearem-se pelo quarto mas era mansinhas! Hoje, os seguranças nocturnos do hospital, acordaram-me às 7:30 a convidarem-me para ir tomar o pequeno almoço com eles ao “restaurante” que tem a mãe de um deles em frente ao hospital, é mais uma espécie de tradicional cozinha aberta. Servem-me café e com ele vem um prato de pescado frito, arroz e patacones (rodelas fritas de plátano verde), que delicia…mal sabia eu quando voltaria a comer. Tive a sorte de o pequeño almoço me parecer mais uma refeiçao de meio dia porque só voltei a comer às seis da tarde!!

De facto todas as pessoas têm algo de bom, magia, e ao querermos ser ajudados todos nos ajudam. Tudo vai correndo a nosso favor, só temos que querer de verdade. Esta vida é uma verdadeira oportunidade e a maneira como a encaramos vai determinar obter mais ou menos proveitos de maior ou menor felicidade!!
Passadas umas horas de pura matança de saudades da praia, estou de volta à estrada na ruta del sol. Não foi preciso esperar muito para que uma carrinha de caixa-aberta me levasse até meio caminho e quase sem pôr o pé no solo outra passar e levar-me até ao meu destino. Pelo caminho começo-me a aperceber da beleza de lugar e que a diversidade que tanta se ouve falar deste país è real e existe. Pescadores, barcos de madeira, muito peixe nos carrinhos ambulantes das ruas e camas de rede aos magotes por toda a parte que chega a parecer um disparate…mas um bom disparate!!

Ao chegar a Olón vou caminhando até à fundação Santa Maria del Fiat que Ketty me tinha recomendado vivamente por ter trabalhado um par de anos aí mesmo com eles. Seguindo as indicações que as pessoas me iam dando fui subindo e a cada passo que eu dava a vista ia-se agrandando. Chegando à fundação, fica entre Montañita e Olón, falo com as missioneiras de cá e sem hesitar deixam-me cá ficar. A minha ideia ao principio era passar só dois dias mas como o inesperado acontece, penso que vou cá ficar até fim deste mês. Dizem-me que a minha ajuda é benvinda e que não é por mais uma Pessoa que lhes vai faltar comida ou espaço para dormir. Quando o coração é grande, ou melhor elástico, há sempre espaço para mais um!! Isto Numa altura em que chega um miúdo de 12 anos acompanhado por dois policias e pelos seus pais para falarem com a missioneira responsável de cá. Em conversa com o policia, que estava entusiasmada com a estoria que eu lhe contei da minha viagem por terras latino americanas, foi-me explicando o que se passava. O miúdo, Andres, é de Guayaquil e pertencia a uma pandilha muito perigosa e buscada por toda cidade. Já tinha tentado sair mas era sempre ameaçado e a cada tarefa ou trabalho que lhe davam e não cumpria ou não fazia como eles queriam levava cinco tabuadas, com uma tábua de madeira no traseiro. Este castigo podia ser acumulativo.
Depois de ter visto um crime saiu, fugiu e contou tudo aos pais. Estes sem hesitar falaram com a policia que o protegeu desde então e o trouxe agora aqui para ficar a salvo. A ideia é que o aceitem aqui na escola e a vier na casa de acolhimento, para miúdos sem pais ou com problemas familiares, que a fundação aqui tem. Ao conversar com Andrés dos mais variados temas notava-se o medo entranhado na cara dele, não é caso para menos. Se tudo correr bem para ele e para mim…hei de o ver mais vezes aqui!!

Agora, acabei de subir ao meu quarto e a vista que tenho para o mar é de assombro, um sonho!! Nem nas minhas melhores e mais optimistas previsões quando acordei hoje pensaria vir a dormir num lugar como este. Cama boa quanto baste para descansar, armário e um chuveiro. Tudo o que um homem quer!!
Acabado de cegar tal como eu vem um grupo de voluntários dos Estados Unidos para trabalhar aqui por duas semanas. Vão ser meus companheiros concerteza e vou ter tempo para pôr a prova o meu inglês já quase esquecido no meio da avalanche de espanhol.
O meu propósito de viagem continua não só firme como também renovado e assim continuará até ao fim, é isto que me faz mover. Dar e dar mais é a única maneira de ter e ter mais!!

sábado, 10 de maio de 2008

INNFA Estruturas...


Sair da Amazónia já de si não è fácil pelo amor que uma ganha quando ai está. ais difícil e estranho se torna quando se muda radicalmente como eu fiz, viajando para Quito – capital do Ecuador.
Não fui para aí só porque sim mas porque o www.innfa.org, quem me arranjou o contacto com a fundação com quem estive a trabalhar na Amazónia, me pediu que colaborasse com eles dando uma formação sobre campos de férias a um grupo de miúdos de 15 a 20 anos. Preparei-me sem fazer grandes filmes porque não os sei fazer e porque é um tema que está bem fresco na minha cabeça. O que eu não esperava era encontrar uma sala com umas 60 pessoas de todas as idades, desde os 6 aos 60 anos. Surpreenderam-me, é verdade que sim!! Já a meio do workshop fizeram-me saber que o que mais queriam e esperavam era fiesta, ou seja, dinâmicas, jogos e actividades para campos de férias e mais que tudo para aplicar em centros comunitários de actividades para niños. Pus de lado o programa que tinha feito e deixei o improviso tomar conta de mim. No fim todos ficámos contentes!! Volto a ser recebido como filho pela minha família de Quito onde já tinha ficado a dormir da primeira vez, antes de me meter na Shell. as desta vez só por uma noite e quase sem pregar olho já estou de saída para, a pedido do INFFA, Guayaquil a dar o mesmo workshop sobre campos de férias e umas bases de teatro durante uma semana para dois grupos de educadores e formadores que trabalham com miúdos de bairros pobres do sul da cidade. Pensava já que ia ser a mesma confusão e por isso a vontade não era muita mas ao mesmo tempo era uma forma de retribuir o apoio que me deram desde que cheguei ao Ecuador e para além disso…gratificante saber que querem a nossa ajuda, que contam com as nossas qualidades para pôr ao serviço dos outros.

Com o passar dos dias fui percebendo a importância e responsabilidade do trabalho que estava a fazer. Sem me pôr no papel de professor, que não o sei ser, o que fiz foi partilhar com eles ideias e alguma formação que fui recebendo e aprendendo nos últimos anos. Partilhar experiências!! Este era um trabalho que à partida não me entusiasmava tanto por ser com pessoas mais crescidas e eu me identificar com o trabalho de campo, garotagem, gritos e pés descalços..sendo eu tb um deles. Mas mais uma vez volto a aprender, ambos os trabalhos são importantes e esta é uma maneira indirecta de cegar aos miudos e de os ajudar a formarem-se integramente. Há que perceber que nem sempre o trabalho que queremos é o necesario e que o que não queremos não é obrigatoriamente o desnecessario.
Uma coisa é certa, trabalhar com adultos é bem mais dfiicil que trabalhar com jovens muchachos…No fim do workshop e sem medo tive de perguntar a todos quem tinha contactos na costa do ecuador, para onde vou seguir viagem, a ver se arranjava lugares para dormir durante a Ruta del Sol. Se perguntarmos e tentarmos podemos conseguir ou não o que queremos mas se não perguntarmos nem falarmos a ninguém é certo que não conseguimos. Assim que prefiro seguir-me pela primeira ideia.

Desta vez, fiquei em casa de uma família de pessoas que trabalham no INNFA a sul de Guayaquil. O contraste é tremendo fazendo parecer que estou em outra cidade, aqui é verdadeira América latina. Carros podres e compridos como banheiras passeiam-se por entre o tráfico infernal e pegajoso. Ao lado da janela do meu quarto adormeço todas as noites ao som de ritmos latinos que vem do bar atrás da casa que parece funcionar 24horas por dia. Como puro lugar latino da cidade que estou a viver há que ter mais cuidado e por isso as lojas estão todas com grades, abertas mas com grades sem podermos entrar. A sensação é de estar a comprar produtos a um recluso que está fechado na sua cela. Alertam-me para que tenha mais cuidado por ali e que não ande sozinho mas…eu gosto é disto. Deste ambiente, do cheiro a assado, gritos dos vendedores ambulantes, carros old-fashion e pessoas que não olham de alto a baixo mas sim nos olhos. Numa casa em que só tem um filho, onde o silencio e pouco movimento impera sinto a necessidade de sair, a festa faz-se do lado de fora e assim saio para a rua de calçoes e tshirt e deixo-me perder no meio destas pessoas tão cheias de vida…

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Ali tuta...


A qualidade da nossa vida depende, queiramos ou não, da qualidade dos nossos pensamentos. Estes vão sendo alimentados pelo que vamos vivendo, pelas pessoas que se cruzam no nosso caminho, pelo que ouvimos e pelo que vemos com os nossos olhos, sejam paginas de livros, momentos de família ou raios de luzes e pessoas provocados pelo andar rápido dos autocarros. Agora que acaba o meu tempo na Amazónia e sigo viagem só tenho a agradecer não a mim nem a uma Pessoa em especial mas a todos, ao ser humano na sua totalidade que tenho vindo a conhecer, pela diversidade de características, maneiras de ser e estar, pelo carácter único que cada pessoa tem. E a medida que os dias vão passando o porta-moedas vão ficando quase vazio mas em contrapartida a qualidade de vida que tenho ‘e, de facto, de sonho. Sinto-me a viver num paraíso terrestre!!

O capitulo Amazónia chega assim ao fim depois de pouco mais de um mês a trabalhar com a fundação Vida y Esperanza no desenvolvimento dum projecto de turismo comunitário para a paroquia de Madre Tierra. Não ficou terminado mas fica agora a cargo da família Rueda, com quem estive a viver, e Chloe, francesa que esta a escrever as suas teses de mestrado em eco-turismo. Foi uma ajuda de coração aquele que lhes dei, por não saber de tudo o que estava a fazer, não sou experto de nada a não ser em manter uma atitude de confiança e de trabalho. Dificuldades existem sempre mas não devemos dar valor a elas caso contrario elas apoderam-se de nos e cometamos a bater com a cabeça sem saber-mos porque.

As aulas de teatro terminam assim sem ter conseguido fazer uma obra final com eles, ficam exercicios e risos bons no meu livro chamado memoria que vou levando comigo!!
Nas aulas de apoio de inglês, o numero de interessados em aprender mais e familiarizarem-se com este idioma foi crescendo aula após aula, a minha maior dificuldade è que eles nem o espanhol sabiam bem... Seguem agora com a francesa sem ter para já data para terminar. Creio que enquanto houver vontade e muitas ganas, estas aulas vão continuar seja com professor português, francês ou jamaicano!! Por qualquer bicho mais pequeno ou mais preto que seja vai-me fazer lembrar estes miúdos-alunos que enquanto esperavam pela chegada do professor alternavam o jogo do berlinde com o jogo dos bichos pretos. Se não sabem ou não tem…inventam!!

A sensação acolhedora de sentir que a casa onde eu estava era já a minha casa e que aqueles que viviam ao lado eram já meus vizinhos. Já Maslow dizia, e com razão, que a necessidade de pertença ‘e realmente importante para atingirmos o topo do mundo, isto ‘e, a felicidade!!...e ‘e com muita pena minha que sabendo que assim como existe um momento de cegada existe também um de partida e que ‘e agora.
Já não ‘e segredo para ninguém que esta Amazónia ecuatoriana ‘e uma Maravilha do Meu Mundo. Percebi isso logo nos primeiros dias que aqui cheguei e agora sinto que o que escrevi no principio estava demasiado incompleto. Hoje olho para trás e vejo a Amazónia como a melhor paragem que fiz em toda a minha viagem. ‘E sem duvida o lugar que mais me marca de toda esta América latina que tenho vindo a conhecer. Um lugar verde e transparente de gente que trabalha muito e reivindica pouco. Valoriza o que tem e desvaloriza o que não tem. Numa verdadeira roda viva de alimentos em que os próprios animais quase se domesticam naturalmente tal ‘e o espírito tarzan de todos.
Boa noite, Amazónia…e ate amanha!!

quinta-feira, 1 de maio de 2008