quinta-feira, 5 de junho de 2008

Quem vai para Norte é um homem com sorte!!


Já de mochila na Ruta del Sol com a companhia da Mayra, esperávamos que algum carro parasse e nos levasse para Norte com o objectivo de chegar a Puerto Lopéz. Não foi preciso esperar muito para que um jeep nos fizesse sinal para entrar. Levou-nos durante 30 minutos até um pueblito e daí percebi de facto a grandeza do Colégio e Fundação onde estive em Olón e a sorte também de eu ser assim, alto, que me fez com que ao mesmo tempo que esperávamos outra boleia oiço um muchacho chamar "Panchitoooo!!"...e aí estava uma criança do Colégio de quem não me lembrava o nome, ficámos a jogar na estrada até que me despedi e entrámos noutro carro-boleia e depois em outro, que parecia estar em sessão de treinos da F1, que nos deixou já em Puerto Lopéz, um cantón que vive essencialmente da pesca. Aí chegados fomos até casa da família conhecida da Mayra. Ao fazer as distribuições das camas nem me queria acreditar...a dona da casa deixou-me o quarto dela que mais parecia uma suite presidencial, com mobília vinda de França. Escusado será dizer que foi a melhor cama onde dormi nos últimos 9 meses. Da porta de casa tinha a praia a uns metros cheia de barcos de pesca que os ajudam a mobilizar no seu local de trabalho. A falta de peixe que se tem vindo a sentir faz com que eles tenham que sair para alto mar por 3 ou 4 dias em busca do ganha-pao. É um lugar muito tranquilo, todos se conhecem e saludam e o taxi-moto é o transporte sensaçao.

Passada a noite e chegado que estava o dia, peguei na mochila e voltei para a ruta mas desta vez sozinho e sem saber onde ia parar, a nica certeza era a de que queria ir para Norte. Os contactos terminaram e outra coisa não fiz senão deixar-me levar...um carro leva-me uns km mais à frente e daí esperei uma hora de pura tosta solar até que uma carrinha cheia de família parasse e me fizesse sinal para entrar. As filhas meio preocupadas ou assustadas com o estranho que acabava de entrar no carro e ia fazer a viagem com eles, não se lhes ouvia uma palavra. E aí fomos pela ruta fora com lugares de praia de fazer inveja a qualquer balneário. Tem lugares que parece que estamos na Amazónia outros que parece que acabamos de entrar em um bosque e ainda outros fáceis de perceber que estamos em pura praia! Viajavam até Manta e por mim estava perfeito porque tudo o que fosse para Norte já valia a pena. Fiz-lhes saber que não tinha lugar para ficar e que provavelmente iria falar com a municipalidade ou com alguma escola ou padre. Foi então que meio a medo me disseram que podia ficar em casa deles a passar a noite e aproveitar a boleia da filha que na manha seguinte saía um pouco mais para Norte até Bahia. A isto chama-se perfeito Golpe de Sorte!! Contaram-me que é mesmo muito raro pararem para dar boleia a alguma pessoa e muito menos convidar a ficar em casa deles a um desconhecido que recolhem da rua. Não sei o que lhes transmiti mas algo de bom foi concerteza para que me tratassem e confiassem desta maneira. Em casa era como se já nos conhecêssemos desde muito tempo e serviram-me a melhor lasanha dos últimos anos. No dia seguinte e antes de sair de casa, ainda me deram uns bolinhos e sumo para comer a meio da manha.
Senti-me tao acolhido que estava perto de tocar as nuvens. Nao consigo descrever bem os meus sentimentos e estado de espirito com estas pessoas que deixam explodir os coraçoes para cima de outros. Fico contente de ver confirmado que neste mundo fugaz ainda há muita coisa maravilhosa que nao tem preço e que essas sao de facto as melhores, um recebe porque merece ou porque tem uma visao que ve para além do óbvio. Chegando a Bahia fui num barquinho até Canoa, lugar parecido com Montañita mas com metade dos turistas e menos ainda nesta época. Disfrutei da praia deserta que estava nessa manha e segui de novo para a ruta onde facilmente chegaria a Pedernales. A pensar no que ia fazer ao mesmo que caminhava pelas ruas da cidade, fui até à casa do padre. Se já em outros lugares tinha sido muito bem recebido o mesmo nao se passou aqui...nao quis sair da casa e falava comigo por entre as grades da janela dizendo que como nao sabia quem eu era ao ponto de me deixar prenoitar. Respeitei-o mas para mim nao deixei de questionar a amabilidade dele. Talvez fosse pelo meu cheiro, prefiro pensar que sim. E com quase zero dólares no bolso decidi nao esperar mais e ir-me para Colombia. Os dias vao passando rápido, e se um hesita muito acabamos por nao decidir nada e o tempo foge-nos das maos tornando-se ele o que decide.

Compre bilhete de bus até S. Domingo e daí outro para ir até à fronteira. Já era de noite e a impossibilidade de levantar os ultimos euros da minha conta fazia de mim um perfeito mendigo. Tinha apenas 1dólar e uma vontade de comer que se manifestava com sinidos fortes vindos da barriga. É entao que aparece um colombiano de bigode à Escobar, que já me andava a olhar de lado muitas vezes, acerca-se e diz-me se preciso de ajuda, para onde vou, cuidado para que nao me deixe enganar pelos preços, etc. Olhou tantas vezes para os passos que eu dava no terminal que pensei que talvez quisesse tirar-me a mochila por emprestado. Ao conversar com ele pelo terminal, enquanto me explicava o que tinha que fazer na fronteira, dizia-me que “espero que nao tenhas medo ou nao te sintas mal por estar aqui ao teu lado, estou só a tentar ajudar”. Fiz-lhe saber que nao tinha dinheiro suficiente para comer e ele impecável levou-me a uma das cozinhas improvisadas que havia do lado de fora do terminal e pagou o que faltava, nunca um jantar me soube tao bem!! Entrando de novo no terminal e sentados começa-me a mostrar os papéis para a naturalizaçao do filho que tem a mae ecuatoriana. Ao ler um pouco o que estava escrito foi quease automàtico a associacao do apelido dele com o famoso narcotraficante: Escobar. Nao lhe disse nada e seguimos conversando, eu ia tentando controlar a conversa e contava-lhe muitas histórias por onde tina estado na América Latina até que a certa altura me pergunta: “nao tens medo da morte?” Digo-lhe que nao porque estou em verdadeira paz e a viver maravilhas todos os dias assim que quando chegar, chegou. Nao sei exactamente qual era a resposta que ele buscava ou qual o sentido da pergunta mas nao perguntou mais nada depois disto. O bus dele chegou e o meu também, ao despedir-me saca uma nota de 5000 pesos colombianos (2€) que tinha guardada no seu porta moedas e me dá disejando-me sorte e que utilise a nota quando mais necessitar. A sorte está do meu lado!!

Ir confiando nas pessoas, de olhos bem abertos, vale sempre mais a pena. Até hoje nao me passou nada de mal em toda a viagem e isso deve-se essencialmente à maneiara como nos comportamos e falamos com as pessoas. Nao podemos ser desconfiados e medricas com tudo, há que seguir em frente com os olhos abertos e a perfeita noçao de que as nossas atitudes comunicam muito sobre quem somos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Faquicão!
Acredito que esta fase final seja de facto a mais difícil...
Rezamos por ti e para que rapidamente chegue o dia 21!!!
Um enorme bjnho
Dá-nos uma apitadela para qualquer coisa que seja preciso.

Anônimo disse...

Deve ter custado chegar ao fim de uma expedição como esta. E depois de teres vivido tantas emoções! Imagino as saudades que deixaste!
Bjoo
Isabel