segunda-feira, 31 de março de 2008

DESPRENDE-TE Y PARTE...

“As coisas vulgares que há na vida não deixam saudade”
Este verso que oiço agora não podia fazer mais sentido. Se já me tinha apercebido disso em Portugal antes de sair, volto agora a recordar e faz ainda mais sentido.
Estes dias agora em Quito no quente da casa ajudou-me perceber que há que trabalhar mais a humildade, algo que só se consegue com um treino diário. Corresponde a quem é nada, verdadeiro mendigo que necessito dos outros para mover-me, para viver, para ser.

O “desprende-te e parte” se tivesse sonido seria um forte grito, não de revolta mas de renascimento. Um grito que me alerta para tendência de um se deixar cair no desleixo e ser levado pela corrente sem saber para onde vai ou se vai para algum lado.
Passados que estão alguns meses de viagem, sinto-me Numa fase de maturidade. Já passou o xitamento inocente por estar apenas com uma mochila num continente desconhecido e sou perfeito dono das acções que faço
Vou-me apercebendo que muitas das coisas que fazia ou guardava não eram de facto necessárias e me impossibilitava de dar este grito de desprendimento e deixar-me ser ainda mais livre.
O que faço é ir soltando o que não tem utilidade muito grande ou me prende o andar. Perder os chinelos bonitos, largar as tshirts que me faz te ruma recordação aparentemente especial, dar o que esta a mais e vestir o que sobra. Se nos primeiro dia nos pode fazer falta no segundo já nem nos lembramos que utilidade tinha…
Deixar assim soltar o gigante que há dentro de nós, deixarmo-nos levar pela autenticidade nossa, das pessoas e lugares por onde passamos porque caso contrário se admitirmos que a vida humana se pode reger pela razão destruimos a possibilidade de vida. Tudo isto faz com que me sinta 100% aqui a agarrar as pontas de corda que me vão aparecendo ajudando a chegar mais á frente…

O próximo passo é Amazónia Ecuatoriana onde aceitei colaborar com uma fundação por 1 mês. Aí vou dar aulas dinâmicas de apoio a inglês, aulas de teatro e ajudar a desenvolver o turismo comunitário desse lugar com apoio de uma francesa que faz estagio da universidade.
Ao falarem comigo tratavam-me como se fosse um maestro nestas áreas e apresentavam-me ás outras pessoas da fundação como experto de marketing y teatro, a verdade é que não tenho praticamente experiência de trabalho nestas áreas mas…confio bastante porque afinal de contas vou trabalhar com o que realmente gosto!! Algum dia teria que começar e sei que a preparação vem com a necessidade de estar preparado. Tenho noção das minhas capacidades e vou acreditar que sou realmente uma mais-valia…porque se eu não confio em mim mesmo é impossível ganhar a confiança dos outros.
Regalam-me lugar para dormir, comida e roupa lavada… e eu garanto-lhes dedicação no trabalho. Não é necessário seres forte, o importante é sentires-te forte!!

Parto assim para a Amazónia a um lugar chamado Shell. Para trás deixo uma família linda que me apoiou todo o tempo e que sem se aperceberem, me abriram ainda mais os olhos. Numa das conversas com uma das filhas da família falava-lhe da necessidade de me desprender mais, ao que ela me responde “si, entendo. Mas há certas coisas que não nos podemos exigir libertar como de um bom jantar num bom restaurante, uma ida ao cinema, etc.” Aí percebi que não estávamos a viver a mesma realidade e que sou um homem de sorte. O truque não está em ser diferente, está em ser mais exigente!!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Hey Quito, vamos dar nosso show!!


Depois de uma experiencia tao boa em Guayaquil, volto a apostar no couchsurfing para me alojar na capital do país y desta vez tocou-me a familia Hidrobo. E mais uma vez fico boqueaberto com a maneira como uma casa abre as portas desta maneira a um total desconhecido. Tiveram sorte que sou boa pessoa!!
Já depois de muitas pessoas, nesta viagem, me terem dito que so quero saber daqueles que vivem em condicoes miseraveis, venho parar a esta familia que aparentemente nao lhes falta nada. Infelizmente as “coisas” ganham valor insignificante quando se tem todas essas “coisas” que se quer. E o que fica a faltar, na maior parte das vezes, é o amor que se converte directamente em falta de esperanca e confianza. Isto nao se compra, há que ganhar e há que querer ganhar. Torna-se muitas vezes mais difícil ver este “esencial” quando se tem muita coisa á frente dos olhos…e o grande problema nao é a doenca do doente mas o doente da doenca, ou seja, a atitude frágil do eu perante as doencas psiquicas.
Nao quero dizer com isto que fui mal recebido, antes plo contrario, trataram-me bem de mais. Tinha um quarto para mim com banho privado, cama, roupa lavada e todas as refeicoes que quisesse. Mas o que senti foi essa falta de esperanca e confianza nesta familia, que os faz relacionar entre eles mas sem se comprometerme muito, coisa que nao senti ou pouco vi em outras tantas familias com quem estive, mais modestas…

A Pascoa chega e volto a aprender com este tempo como ja me tinha acontecido em outros anos pela mesma altura. Estava em Otavalo ainda a dar os primeiros passos no Ecuador e passei a tarde de domingo conversando e compartindo com uma das muitas familias que se encontravam na praca principal celebrando tranquilamente. Ao fim do dia voltei para Quito e para os Hidrobo e ai tivemos uma noite em paz com jantar em familia. O que mais se celebra é a sexta-feira santa e depois disso é apenas um ritual mais calmo y tranquilo até cegar o domingo de Páscoa.
Tudo pode ter sentido sempre mas ganha muito mais se for vivido todo o tempo, como acto isolado o domingo nao se entende muito bem e acaba por ser mais um como os demais sem se perceber o significado de Aleluia. Um pouco estranho por sentir que aquí muitos vivem de uma maneira que nao conhecia, aproveitam para tomar mais e nao foi difícil ver uns perdidos deitados no chao da rua. Afinal que festejam eles?! Infelizmente isto é o que se passa em muitos lugares que se faz por fazer e festeja porque os outros vao festejar tambem e nao sabem porque o fazem, as razoes nao podem ser compartidas por todos.

Mas Otavalo é precioso demais que nos faz surpreender a todos seja pelas pessoas amaveis, os trajes quem utilisam e os vendedores natos que o sao. O luhar em si parece uma vilazinha encantada!! Sao eles os mayores comerciantes do Ecuador e talvez da America Latina. Estao espalhados por todo o mundo e sem em Portugal alguém ja se deu conta dos ecuatorianos que vendem roupa nos festivais de verao, sao otabalenhos. Viajam por toda a parte e desenrascam-se muito bem. Foie m almoco com o Cónsul de Portugal em Quito que soube disso. Contou-me que eles já fazem convites para outros otabalenhos receberem o visto e entrarem no país de forma legal, impresionante!! Daí de Otavalo nasce-me o sonho de ir a um casamento andino desses que duram 3dias e metem as melhores fatiotas que vi…estaria buenísimo!!

Foi com este mesmo Cónsul, Oswaldo Torres, com quem me comuniquei durante a viagem para ter um projecto ca neste país. A través dele cheguei a http://www.innfa.org/ e eles tinham ja uma lista de possiveis colaboracoes minhas para diferentes organizacoes de acordo com o meu currículo. A pesar de tudo, tornou-se mais demorado todo o processo do que eu pensava porque no meio de tantos proyectos o dificl era escolher nao o mais divertido mas aquele que necesitase mais a minha ajuda. Foram dias de entrevistas a estudar os possiveis destinos de cada organizacao. Ha tambem departamentos criados pelo novo governo que mais nao serve que apenas fingir que tem uma tarefa nobre com burocracias e vocabularios caros. É bom é ter amigos…

Enquanto visitava e conhecia por dentro as organizacoes tive tempo para visitar a fabulosa cidade de Quito. Um centro historico dos melhores que vi por estes lados com igrejas ricas que convertem qualquer um pela harmonia e paz que transmitem, pouco trafico e vistas inacreditaveis (estou a uma altura de 2800 metros do nivel do mar).
A sorte que tenho de poder estar aquí neste momento a conhecer tudo isto, a ver com os meus olhos, a absorver cada lugar e pessoa com quem me cruzo…nao há preco que pague isto.
Uma familia que tambem sem me conhecer me acolhe e me dá todo o apoio e conforto familiar que tao bom e importante é quando estamos fora de portas. A simplicidade e hospitalidade das palabras deles ao dizerem-me para nao ter pressa de sair, que decida o melhor e que até lá fique tranquilo em casa deles. Ninguém os obriga a fazer isto, fazem-no porque sentem. A verdade é que recebemos muito mais quando damos, quando entregamos e entregamos a nós mesmos. Há uma palabra que retrata e define um conjunto de sentimentos em que dás o teu melhor, em que és autentico e nos sentimos bem por isso. Chama-se Amor. O Amor com que se faz e vive as coisas.

Acabo de concretizar um sonho antigo que tinha, o de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Cheguei aquela que é considerada a metade do mundo e daí toquei hemisferio norte e sula o mesmo tempo. Que sensacao de grandeza e de achicamento do mundo. Mas maior grandeza que esta é a de

descobrir que aqui é a metade do mundo. E ainda eu me queixo das contas que tenho para fazer os cambios em cada país...

domingo, 23 de março de 2008

PANCHO ENTRA...NAO SABE INVENTA!!

Aqui começa o primeiro contacto com a grande invensao da Internet: http://www.couchsurfing.com/
Uma pagina web formada por viajantes e pessoas que os recebem em suas casas gratuitamente. Pode-se dizer que talvez haja algum risco mas como tudo na vida…este é mais um jogo de confiança. Assim, antes de sair de Mancora fiz os contactos, enviando emails, e a família Mero esperava por mim em Guayaquil.

Viajei pela noite fora, passei com sucesso mais uma fronteira e, na madrugada seguinte, estava já em Guayaquil – Ecuador com a família que me adoptava por 2 dias á minha espera no Terminal de buses, impecável!! Chegando a casa deles todos me tratavam tão bem que não foi difícil sentir-me parte da família. Até o filho mais velho foi dormir para outro lado para me dar a cama e quarto dele para que eu me sentisse mais confortável. Bons de mais, numa família que fazia todo o tipo de perguntas. Esses momentos vejo-os como um teste á minha cultura sobre o meu país. Chovem perguntas desde “Qual é o prato típico?” ou “Qual o nível das exportações e importações em Portugal?”, “Qual é o baile típico?”. Não há forma de inventar ou fugir, aproveito (claro!) para vender o país a todos…são tudo possíveis turistas e clientes!!
Quando chegou novamente a noite, fomos J festejar os anos da filha mais nova com jantar de amigos e eu…o adoptado!! Tudo boa gente que me faz sentir saudade mas alegria por estar onde estou aproveitando o que há a volta..

O dia seguinte é de recorrer toda a cidade, considerada por muitos como a segunda capital do Ecuador. As pessoas sorriem e são todas agradáveis, tudo parecia normal ate entrar no autocarro que me levaria ate ao mercado da cidade. Ia-me a sentar e vi que tinha apenas um espacinho para pôr as pernas. Pensei: Ou as desmonto e ponho na mochila ou as ponho para o lado do corredor…Como a primeira hipótese seria mais complicada e doía um pouco, optei pela segunda. Assim foi, o problema é que a largura do corredor era do tamanho daquilo que deveria ser o espaço para por as pernas para quem estivesse sentado nos bancos e por isso os passageiros que queriam passar para a parte de trás do bus faziam “salto ao eixo” nas minhas perninhas.
Quando me levanto para sair percebi que se o tivesse feito com mais forca teria esburacado o tejadilho. Bom, a minha pergunta é: não seria mais fácil ter um letreiro á entrada que dissesse “Não aconselhável a entrada de Francisco Vasconcelos” ?¡?¡

E depois desta aventura continuou a visita pela cidade com um calor abafador que me fazia sentir verdadeiro autocolante. Percebo que o atraso sudamericano que se ouve falar, e a pobreza, não se sentem muito nas grandes cidades. Ai as pessoas tem fácil acesos as mais variadas necessidades. Obviamente que há pobreza mas esta mais camuflada pelo movimento forte da cidade grande e para essas pessoas custa-lhes mais ter esses acesos.
O que me impressionou foram as lojas especialistas em DVD Pirata. Disseram-me que era proibido mas aqui ate lojas só com filmes piratas existem e o cómico é ver os policias entretido a comprarem…

Esta família Mero que me recebe de braços abertos, dava-me de comer e provar de tudo. Faziam de tudo para me agradar e lhes faltava alguma coisa arranjavam ou inventavam. Não eram nem de perto nem de longe a família mais abastada mas tudo corre desta maneira se fechamos os olhos e abrimos o coração. Para alem de mim como visita estava também a avó doente, ou seja, espaço quase não havia mas eles inventaram-no…E como se não bastasse o pai Mero sabendo que eu ia para Quito pôs-me ao telefone com a irmã dele que vive em Quito para assim ter algum contacto de uma família quando la chegasse. É em momentos como este que sinto curta a palavra “obrigado” e tentando algo que expresse melhor só encontro “muitobrigadofamiliaportudooquedaosemesperaramenada”

A minha elasticidade matemática continua a ter que estar em forma porque agora passo a dólares. Sorte tenho que cambiaram de moeda em 2000 de Sucres para Dólares. Caso contrario a conta seria bem maior com 1€ a valer 37500 sucres.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Andes e Depois


Para entender melhor esta latino América não nos podemos deixar de saber que tem crescido e desenvolvido mais do que os analistas mais positivos pudessem imaginar. No entanto as fraquezas e pobrezas não desaparecem tão rapidamente, estão e mais disfarçadas pelo grande aparato de desenvolvimento das cidades maiores e pelo turismo.
O turismo é forte, parece acolher e aconchegar e por ai é fácil cairmos na tentação de nos deixarmos levar somente por aquilo que eles querem, ou seja, por tudo o que é disponibilizado por agências de turismo. Felizmente o mundo, e obviamente a viagem, é muito mais para além disso. E, como tudo, se o queremos ver de maneira diferente há que fazer por isso...há que buscar.

Saindo de Sta. Maria em direcção a Cusco fui de minibus numa viagem de 5horas em que fomos passando pelos Andes. E se antes estava calor, ai congelávamos. Neblina, chuva e granizo! Impressionante paisagem a 4300 metros de altura. Acho que nunca me tinha sentido tão perto do céu não só pela altura mas também pela pureza de lugar e a autenticidade das pessoas que ai vivem. A medida que íamos de minibus, olhava para a estrada e reparava que umas criancinhas corriam para a berma a esticar a mão assim que ouviam um carro passar nas longas estradas. Passou se isto algumas vezes ate que matei a curiosidade perguntando ao motorista o que queriam eles, que significava aquilo... Ao que este me responde que esta gente que vive demasiado longe dum centro qualquer e que ali, aquela altura só da para cultivar batatas e utilizam as ovelhas e algumas lamas que tem, e com isso se sustentam. Tem uma escola onde todos juntos na mesma sala aprendem as diferentes matérias em Quechua.

Ao virem para a berma da estrada esticar a mão fazem-no na esperança que algum carro pare e lhes de alguma comida ou mesmo um fosforo que os ajude a fazer fogo que os aqueça e ilumine. Fiquei quase sem palavras, a única coisa que me ocorreu foi pedir que parasse quando visse os próximos. E assim foi, paramos e la estavam eles de mão estendida e fatiotas dos andes, sentia se um frio inacreditável e pensei no que sentiram eles com inverno mais duro. Fui ate a mochila grande e saquei o que tinha, uma lata de atum e outra de leite condensado. As duas crianças muito castiças, com os trajes típicos, sorriam e de olhos arregalados recebiam...mas não sabiam o que lhes tinha sido acabado de dar. Duas coisas que nunca tinham visto na vida. Vejo então ai o maior postal com som, o motorista começa a falar com eles em quechua explicando lhes o que é o atum e o que é o leite condensado.

Inacreditável, fiquei colado a ver todo este momento. E quando o amor se une ao dever (de lhes dar) caímos em estado de graça, e foi isso que me aconteceu!! Sabemos que existem estes lugares, estas pessoas mas presenciar isto da nos uma ideia completamente diferente daquela que poderíamos ter. Viver de perto, tocar estas pessoas e estas fatiotas...Já vivi muitas coisas que me fazem feliz, e percebo que são as experiências, são as pessoas...são as vivências que transformam vidas simples em vidas boas. E a oportunidade, disponibilidade e deixarmo-nos levar pelo coração, sem medo de ajudar sem medo de dar sem medo de ir com todo o amor para cima daquilo que vivemos. Deixemo-nos fluir e a magia do sorriso na cara começa a espalhar-se.

Chegado a Cusco, saio de pronto para Lima para ai fazer uma parada antes de seguir para Mancora já perto da fronteira com o Equador. Foi fugaz a minha passagem mas tive tempo de conhecer parte do lado peruano da família da Inês. E que bom que e ser assim recebido por uma família como se de um neto mais se tratasse. Para Mancora segui, lugar de praia e paragem obrigatória para quem gosta dessa vida. Povinho com cheiro a mar e clima parece caribe. Durante o dia sol que tosta e a noite chuva mas com calor na mesma que faz com que as pessoas andem em tronco nu y shorts.
Não podia ter sido melhor parada, já tinha saudades de um lugar assim...fez me viajar no tempo ate ao verão passado em Portugal. Fiquei ai dois dias fundamentais para o bom seguimento da viagem.
Sigo agora para o Equador começa novo projecto. Perceber que mais que turista quero ser viajante activo, nativo ate de cada lugar onde vá ficando. E verdade que e fácil que a viagem siga e eu vá ficando parado. Há que saber o que fazemos, para que lado vamos e para que lado queremos ir. Voltar a saber o que me trouxe aqui a este continente e voltar a entregar me de cabeça e a este novo projecto no Equador.
Mais que em qualquer altura, aproveitar este tempo de Pascoa que mais não e que um renascer não meu somente mas meu com todos. Asi es...

sexta-feira, 14 de março de 2008

EL MACHU


Saída da Isla del Sol, chegada a Copacabana e daí tomar o bus que me levaria até Cusco. Viagens de bus tem sido sempre largas mas ao mesmo tempo diferentes. Umas com TV outras sem, umas com pessoas a dormir no chão outras com animais nos corredores. E esta com todo o tipo de vendedores a entrar a cada vez que o bus parava para largar pessoas. Invasão total dos feirantes a vender de tudo...tive a oportunidade de ver a vendedora de peixe frito com batatas, chá em bolsas de plástico parecia vender peixes de aquário, tapetes, bolachas, etc. Para todos os consumidores, criatividade não lhes falta!! Ainda estou para ver quando é que me vai aparecer o vendedor de móveis...

Uma vez no Peru, o país e as pessoas mudam de figura. Esperava que fosse parecido mas é totalmente diferente da Bolívia. Aqui nota-se já um país desenvolvido, turistas, muitos turistas e um país que acompanha de perto este numero que cresce diariamente. Vendem bem o Peru, é verdade que sim. E estando cá é (quase) uma obrigação ir a Machu Picchu. Vendem este lugar tão bem que um quase não tem coragem de não ir. As expectativas eram já grandes antes de entrar no país e quando aí se chega estas multiplicam-se. Ouvia pessoas dizerem-me que tinham pago 400 dólares por 3dias num tour que terminava, pois, nas ruínas. Outros pagavam outro numero exagerado de dólares por outro caminho. Optei então por buscar o mais económico e ir por minha conta. Autocarro de 7horas até Sta. Maria chegando ás 3h da manha. Daí esperei 2horas no meio do desértico lugar e escuridão da noite praticando o meu Kenacho (tipo flauta). Veio o outro bus, mais 2horas de viagem até Sta. Teresa e daí para a frente não houve mais santas, apenas uma hidroeléctrica a 30minutos. Daí parte um comboio que custa como 30 dólares para um troco de 30 minutos de viagem.

Olhei-o de lado, apertei os atacadores...e disse adeus ao comboio!! Fui caminhando pela linha aproveitando para desbravar o lado selvagem e incrivel desta paisagem sacando bananas amarelas a todo o rato. Sentia-me no meio da selva. E se já andava com cuidado mais ainda ao ver uma placa com as inscricoes "Gerardo 19-01-08" e uma cruz ao lado...aí redobrei as atencoes e multipliquei os olhos. Em 2horas cheguei a Aguas Calientes onde eles quase que gozam com a linha de comboio tal é o desprezo com que se movimentam ali em cima como se de um pedaco de terreno normal se tratasse..so faltava terem que levantar as casas para deixar o comboio passar.. Autentico filme!!

Comprado que está o bilhete para entrar em Machu Picchu continuo a optar por caminhar e confiar nas minhas longas pernas. Os buses cheios de turistas vão passando por mim, estão sempre a sair. Mas não me importo, escadas e mais escadas e em 1hora (custou mas foi...) ponho-me nas ruínas.
Parecia que o metro era já ali!! Creio que nesse dia devia-se estar bem era na China....porque estava todos em Machu Picchu, juro por tudo!!

Aconteceu o que eu já esperava, as expectativas criadas são altas de mais e ou era melhor que a Lua ou então sairia de lá com a sensação de saber a pouco. E assim foi... Claro que é lindo, toda a paisagem e vista que de ali se tem e mais ainda por se saber que os Incas ali viveram e construíram a sua capital no topo da montanha...que loucos! É maravilhoso mas...as expectativas criadas são, a meu ver, altas de mais para o que depois se vê. E como se não bastasse há ali mais turistas que em todo o mundo. Deu-me realmente pena ver um homem com cartaz na mão a dizer "casa comigo" e a não conseguir encontrar um espaço livre para que a camera o apanhasse...

Mais impressão me deu ao ver chegar uma senhora peruana que parecia viver ali ao lado e olhava com cara de espanto para tudo. Por ela passavam americanos e chinos parecendo tratar do lugar deles e a pobre senhora, timidamente caminhava como se entrasse no país deles.
O regresso das ruínas fez-se da mesma maneira mas desta vez com a companhia de 2 ingleses...e que bom que é voltar a discutir futebol! Terminámos o dia a tomar banho nas águas termais de Sta. Teresa, com chuva e noite a fazerem-nos companhia...peeeeerfeito!!

Antes de terminar por completo o dia e na volta das águas termais, em táxi-minibus, tive uma discussão mais acesa com o motorista. O turismo é bom mas em demasia come-lhes a cabeça. A vantagem de em neste momento já não ter qualquer problema em comunicar em espanhol permite-me ser menos gringo. Queriam-nos (aos ingleses e a mim) cobrar 3 vezes mais do que aos peruanos pela simples razão de sermos estrangeiros. Não lhes chamei nomes..mas pensei neles e fiz-lhes entender que o espaço que ocupávamos era exactamente igual ao das pessoas locais. Tentava-se ganhar razão dizendo que eles dali trabalhavam na padaria, no hostal e na terra...e depois de muito pelear, consegui!! Haja justiça :D

segunda-feira, 10 de março de 2008

PORKTAILS & DREAMS

O tempo corre, o tempo urge e na Ilha do Sol...a vaca muge!! Nestes últimos dias aqui na ilha tivemos um acréscimo de tarefas com todos os caixotes de livros que chegaram para a nova biblioteca. Passámos os recreios a catalogar e agrupá-los ao mesmo tempo que recebíamos inscrições para se tornarem membros da biblioteca, chegavam ás prestações mas iam chegando! A quantidade de livros é tão grande e de tantos lados distintos que me fez perceber melhor que esta ONG - WhyBolivia.org - se dedica de verdade e não faz para que seja só mais uma biblioteca mas que seja uma grande biblioteca e que satisfaça as diferentes necessidades da ilha. Tem apenas um ano e surgiu de forma natural por alguns universitários que já colaboravam com a isla del sol e nomeadamente com a comunidade de Challapampa. É bom que assim seja e pena é daquelas que começam bem mas com o passar dos anos e do dinheiro se vão agrandando e se fazem por esquecer daquilo que os levou a criar a ONG.

Muitas vezes acontece que somos levados pela maré, pela maneira ou pensamento estandardizado que se foi moldando nas sociedades e daí temos mais dificuldades em assumir os nossos compromissos de acordo com os nossos princípios. Claro que é mais fácil seguir as pisadas dos outros em vez de criar as nossas próprias. Acreditemos e assumamos a diferença sempre que para isso tenhamos que ir contra os padrões previamente definidos e até criar um novo. Não há nada mais idiota que nos enganarmos a nós próprios...já basta as pessoas que nos enganam!!
As aulas na escola com a melhor vista do mundo seguiram ao som de vacas, burros e porcos. Com o passar dos dias na ilha fui percebendo porque é que até agora em toda a minha vida tinha visto tão poucos porcos e burros...é óbvio, estavam todos na isla del sol!!
Dia após dia nos fomos tornando verdadeiros professores com improvisos e adaptações conforme as necessidades da classe ao mesmo tempo que nos fomos lembrando dos truques utilizados pelos nossos professores quando os pequenos éramos nós. A sensação de os ver a absorver e aprender o que lhes ensinamos é fascinante!! Timidamente, como os caracteriza, foram indo ao quadro voluntários e semi-voluntários tentando acertar n exercício que se propunha.
Assim nas crianças da escola como nos guias de turismo aos finais da tarde que sem problemas recebiam fichas de exercícios com bonecadas (era o que havia!). A necessidade aguça o engenho e isso faz deles os melhores, mais assíduos e pontuais alunos. E ou as aulas são muito boas ou necessidade de aprender inglês é enorme porque a turma foi crescendo desde que começámos até agora. Prefiro pensar que é pela qualidade das aulas!! Já na aula e quando falavam entre eles, bem que nos podiam chamar todos os nomes porque falavam puro haymara...impossível apanhar!!

Como qualquer grupo de trabalho é necessária adaptação para que a comunicação e o trabalho fluam e sejam assim uma realidade. Não minto, os suecos são muito diferentes de mim. Esta tem sido dos partes em que mais me sinto a aprender e crescer, saber estar e integrar-me em grupos tão diferentes e de forma tão seguida. Aprendo a respeitar as particularidades da personalidade de cada um e se algo não esta bem há que olhar primeiro para nós próprios e buscar o que é e se vale a pena preocupar. Senão, self-controlamonos e seguimos adelante!! Dito assim parece fácil mas a verdade é que não o é, custa. Mas é possível, basta assim optarmos. Pequenos choques de pensamento existiram mas diminuindo esses e agrandando tudo o que de maravilhoso foi passando, tudo se resolve e as coisas menos boas se esquecem. Sorri e o mundo te sorrirá!
Saio da ilha com vontade de lá continuar. de saber como vai estar nos próximos tempos. Alguns bons amigos mas mais que tudo boas conversas que me fizeram ver que há motivação e força de fazer melhor do que o que já há. Vejo o nosso trabalho como uma mãozinha de quem ajuda a dar um salto no trampolim e mostrar-lhes que há mais pescado para além da truta.
Pessoas tímidas que se distanciam naturalmente mas que com tempo e paciência chegam-se perto e me fazem agora ter saudades e um sentimento de pertença a Challapampa.
A experiência de ser professor numa escola num país de 3o mundo e tradutor/guia turístico para além de tocar e ver de perto a pobreza sentida neste tipo de países. Um adeus e agradecimento a um lago e uma ilha que me fizeram sentir útil e dar ainda mais valor e significado a toda a viagem. A mochila pesa agora mais com a passagem por esta ilha...

quinta-feira, 6 de março de 2008

FLOWER POWER


Chama-se Flor e, sem querer, tem feito dos meus dias mais cheios, mais preenchidos e completos. Já a tinha visto umas vezes e me tinha apercebido que não era boliviana, nota-se fácil!! Até que na vinda de mais uma visita guiada até as ruínas, a vi no jardim de casa e nos pusemos a conversar pelas artesanias que tinha exportas para vender...
É argentina e ficou gravida quando estava de viagem no Peru, teve gémeos e o pai dos bebés já não está mais com ela.

Assim, decidiu ir viver para aqui, Isla del Sol, lugar tranquilo, onde pode cuidar das bebés vivendo numa pequena casa, alugada, com poucas condições mas cheia de amor que acaba por dar calor as filhas. Sustenta-se com a venda de artesanias e agora tem a ajuda do seu pai que se mudou para uma casa ainda mais pequena e assim ajudar-la nesta fase em que tem que estar para as bebés a 100% quase sem dormir. Pergunto-lhe se custa, diz-me que sim mas que a sensação de dar vida, de trazer ao mundo um ser humano é qualquer coisa que não tem preço e vale a pena todo o esforço e sacrifício.
E há realmente pessoas neste mundo que fazem bem a outras e as fazem renascer, mesmo sem se aperceberem que o fazem. É o que acontece com a Flor, que desde que a conheci parece que todos os dias ganho só de a visitar e ver o amor e dedicação que dá as filhas. É este “mais vida”, aproveitar o que temos e o que nos acontece para explodir felicidade e alegria. A verdade é que não podemos ser felizes sozinhos, só o podemos ser realmente quando os outros também o são.

Hoje fazem 7meses e como é óbvio há que festejar porque só se faz 7meses uma vez na vida. Levo-lhe uns brinquedos para bebés que uma turista me tinha dado a semana passada e disse que eu, como trabalhava para uma ONG, deveria saber a quem dar. Verdade que soube…e ficaram assim as gémeas a devorar os novos e quase únicos brinquedos que tem.
Se hoje gatinham e caminham desengonçadas…mais tarde serão elas a cuidar de outras pessoas, assim que tem há que passar todo o amor e felicidade para que depois sejam elas a passar isso mesmo. Não podemos evitar que a nossa condição mental afecte os outros, irradiamos involuntariamente. Assim como o pessimismo e mal humor são contagiosos também o é a felicidade. E se temos de comunicar alguma coisa aos nossos amigos, ás pessoas que estão próximas, devemos ter o cuidado de que seja sempre algo bom!! Por isso vou continuar a ir lá e a passar-lhes o que de bom estou a viver e alimentar-me com esta relação mãe-filhas que me faz ver, na minha mão, uma linha da vida sem fim…

segunda-feira, 3 de março de 2008

MARKETING EM BOLIVIANO


Que a Bolívia é um país diferente, já o sei. Que conserva muitas tradições, também o sei. O que não sabia era que num país que vive em permanente feira ou mercado vendesse tão mal ou de forma tão estranha.
Aprendi eu as várias orientações do marketing que foi evoluindo com o passar dos anos e que hoje em dia o consumidor esta em primeiríssimo lugar. Mas aqui tudo é diferente…orientam-se para o consumidor, é verdade, mas o “consumidor desesperado”, aquele que tem uma necessidade extrema e desesperada de conseguir um produto especial. Caso contrário é fácil perder a paciência e ir dar outra volta.
Já tinha passado por La Paz e reparado que os feirantes estão relaxados e não se esforçam tanto por vender como parece. Afinal de contas aquilo é a profissão e o lugar de trabalho deles no mercado…

Passou-me agora em Copacabana que queria comprar pão a a senhora exemplificava-me com as mãos o formato e aspecto do pão que tinha. Depois de muito se recusar a mostrar-me o pão para eu ver se era o que gostava ou não…saí e fui comprar bolachas!! Mais tarde mas no mesmo dia, a buscar hostal para passar a noite passou-me o mesmo:
“Hola Señor, permisso, tiene habitación para una persona?”
“Si, si…20Bolivianos”
“Puedo ver la habitación?”
“No, le digo que está buena. No tengo tiempo para mostrar (ao mesmo tempo que falava comigo fazia uma paciencia de cartas ao balcao)”
“Buenas noches y suerte para su negócio”

E assim foi, sem paciência para clientes, a verdade é que são eles os donos mas sem nós, consumidores, não se safam!! Ao compartir esta estória com uma das responsáveis da ONG diz-me ela que lhe passou em La Paz parecida situação numa das muitas feiras que enchem a cidade diariamente. Viu uma senhora vender fruta, acercou-se dela, adorou as laranjas que viu e perguntou-lhe quanto valia. Ao saber o preço disse-lhe que queria levar todas. Responde-lhe a feirante “Não vendo. Então se as vendo todas a si depois o que é que faço? Este é o meu trabalho. Fico sem nada para fazer, é?!”

Tudo o que estudei de técnicas de marketing para que se venda mais ou se possa ter sucesso num negocio, parece que aqui fazem ao contrario. Quizá os livros de estudo vem com defeito…ou então é alguma técnica que ainda vai revolucionar a Europa mas…não creio. E espero realmente que não!!