sábado, 21 de junho de 2008

SORRI E O MUNDO TE SORRIRÁ!!

A nossa vida passa rápido, o tempo não pára nem para irmos à casa de banho e a ideia...é que nos também não paremos. Tentamos ganhar tempo de todas as maneiras e o que muitas vezes utilizamos é um plano. Queremos planear para nos organizarmos e para que as coisas saiam como imaginámos na nossa cabeça mas esquecemo-nos de planear para ser surpreendidos. Não para ser surpreendidos pelas coisas menos boas que, queiramos ou não, existem mas sim pela beleza do nosso mundo, para sermos surpreendidos no nosso dia com uma cara alegre, com um chocolate. Para sermos surpreendidos pelo amor gigante que explode todos os dias e que por termos um plano muito fixo nem o sequer vemos, não nos damos conta.

Foram 9 meses na América Latina, muitas realidades, culturas e corações. Mas afinal qual é o sentido de tudo isto? Onde é que quero chegar e o que busco?!
Vale a pena sair, sair não só do país mas, mais que tudo, sair de nós próprios. Entrar nas pessoas, tocar de perto e olhar com os mesmos olhos deles. A importância do nosso umbigo no corpo que temos torna-se relativa, dependendo da maneira que fazemos uso dele. Se o queremos para desfrutar do tempo olhando para ele, não vale a pena. Valerá a pena, e isso sim, se o utilizarmos para lhe fazer cócegas e rir muito. Aí sim, é tempo ganho porque preservar o individualismo é tornarmo-nos especiais por dentro e comuns por fora!!

Depois de todo este tempo aqui passado aprendi a abrir mais o coração, aprendi a dar-lhe mais uso. As diferentes realidades e problemas que conheci numa América com cara de brincadeira fez-me viver tudo muito de perto e com sentimento à flor da pele. Sinto-me pequeno ao tentar descrever os sentimentos e as palavras que se perdem em simples significados que vou deixando pelo caminho.
A pobreza existe, é real, e a camuflagem que se tenta por também o é. Não vão deixar de existir problemas mas o nosso papel é o de deixar o mundo um pouco melhor seja através de uma criança mais saudável, um pedaço de jardim ou uma condição social mais justa. Saber que alguém respirou mais facilmente porque nós existimos. E isto é o que eu busco e continuarei a buscar!!

Tudo o que vivi comparo-o com um sonho. Nenhum acidente, nenhuma doença, nenhum roubo..nenhum nada que seja mau, tudo de bom!! Pessoas que me recebiam de braços abertos sem me conhecerem, comidas recebidas e uma vez ingeridas não iam senão para o coração. Aprendi que matar a sede e a fome não é comprando os melhores produtos mas sim com uma vida em abundância, com um apreciar a beleza em tudo e em todos. O céu é o limite não nos conformemos com menos..

As situações difíceis de muitas famílias relembram-me que o mundo não é, de facto, justo. Pessoas que nascem em lugares de conflito, outras que estão à partida condenados pela realidade e cultura que os rodeia sem por isso terem as mesmas oportunidades que outros. O amor é tudo o que temos! E depois de ter vivido em 9 meses tantas realidades e suas extremidades...eu, já não sou mais eu. Pelo menos não sou o mesmo eu interior.

P.S. - Gracias a todos que viajaran comigo!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

terça-feira, 17 de junho de 2008

7a MARAVILHA DO (MEU) MUNDO: Parque Nacional Tayrona (Colombia)


Com uma passagem relâmpago por Barranquilla cheguei a Santa Marta para conhecer uma parte das praias da Colombia. Fiquei em casa da filha, do amigo, da amiga da minha tia Mariana :) pura verdade mas não deixaram de me tratar como se fosse eu o amigo deles!! O centro desta cidade é pequeno e como não tinha já muito tempo de sobra neste país resolvi sair de manhãzinha para o Parque Nacional Tayrona que fica a 1hora de onde eu estava. Já chegado à entrada do parque comecei a caminhar na estrada que me levaria até às praias do Parque, sou abordado por um militar que aí controlava. Começa-me a pedir que esvazie os bolsos e que lhe passe também o passaporte. Pois, passaporte é que não tinha porque sou inconsciente e em toda a viagem esteve sempre na mochila só saía quando tinha que passar alguma fronteira. Começo a imaginar já os filmes que me foram contando que metia policias ou militares aqui da América do sul. Começa a ver o dinheiro que eu trazia e perguntava-me se estava sozinho...e então percebi que tinha que levantar a cabeça e respirar confiança caso contrário ia-me comer a cabeça. Começo-lhe então a falar, falar, falar e falar de todos os assuntos e mais alguns da minha viagem, de futebol e da Colombia para ganhar assim proximidade e que não lhe desse tempo sequer de pensar em algo contra mim. Apertamos a mão no final, sorriso na cara y siga!!Safei-me!!

Mais à frente encontro um trabalhador a descansar na berma da estrada que recém chegava da finca onde tinha estado a apanhar mangos. E sem hesitar enche-me os bolsos para que vá comendo pelo caminho, que luxo!

Pelo caminho apanho boleia duma camioneta para mais rápido chegar à praia. Os meus olhos começavam a brilhar, ria-me como se estivesse apaixonado. Era a emoção de voltar a pisar mar.
E em poucos passos pelo parque foi fácil perceber que se tratava da 7a Maravilha do Meu Mundo!! Passei por lugares de neve, de praia, de selva e sobretudo de muita paz e este tem um pouco de todos. Uma imensidão de praia clarinha, limpa e com um mar que respira vida, árvores de fruto por todas as partes a fazer lembrar a Amazónia, muita tranquilidade em lugares que não estão desertos mas a grandeza faz com que se tenha espaço e lugar para tudo. Tudo isto e ainda uma vista para uma montanha que está permanentemente com neve!! Este é o ponto mais a norte que estive em toda a América do Sul depois de já ter tocado no fim do mundo.

No caminho de saída passei pela mesma estrada onde ainda estavam caixas cheias de mangos, gritei por Franco (dono da finca) e convidou-me a entrar e a conhecer tudo. Ele é italiano e mudou-se para ali faz agora 3 anos. Deixou a Europa e investio um par de euros e aí tem um grande pedaço de terreno com tudo e mais alguma coisa fazendo-me lembrar a Amazónia e ainda para mais tem uma praia quase privada a 10 minutos de casa. Em poucos segundos montaram-me um banquete dando umas pauladas na árvores e fazendo-me tomar agua de coco, esticam a mão e servem-me laranjas e mangos e para que não passe fome deram-me um ramo inteiro cheio de oritos (bananas pequeninas). Que melhor despedida deste parque podia eu esperar?! E aí fui eu com o ramo cheio de oritos a passear pelas ruas e ao longe já via o militar a rir e a chamar-me acenando com os braços para me apresentar ao amigo, também militar, que tinha acabado de chegar. Ofereci-lhes uns oritos e ficaram todos contentes!!

sábado, 14 de junho de 2008

A Cartagena de Óscar


Antes de entrar no bus que me levaria na viagem mais larga de todas até Cartagena (26horas) tive que comprar o bilhete e aqui, como em quase toda a América do Sul não há preços fixos, isto é, o valor que nos dão para pagar pode sempre ser regateado. Não se pense que regatear é baixar somente uns centavos, é baixar em muitos casos para metade do preço e sabemos que eles continuam a ganhar. E se, como me acontece a mim, gostamos de regatear este é o lugar perfeito para por à prova todas as técnicas de negociação.

Chegando a Cartagena de Índias fui direito ao centro histórico da cidade que é bonito mas que apenas em uma pincelada de olhos fica visto. A minha carteira de contactos volta a abrir-se graças à minha querida tia Mariana que é colombiana e apesar de a família toda já viver fora do país ainda tem alguns amigos e em especial uma amiga que me abre as portas de casa dela e dos amigos dela, assim são as pessoas deste país. Foi então que conheci a Óscar, amigo da amiga. Foi ter comigo ao centro e daí fomos para a verdadeira Cartagena aquela que não aparece nas fotografias da cidade, que é ignorada pela maioria das pessoas que estão de visita. Aí se vê a Colombia no seu estado natural. Bairros, autocarros que parecem discotecas ambulantes tocando todo o género de ritmos latinos e até parecem coordenados com as manobras perigosas que faz o bus faz. Vê-se o futebol pelas ruas jogado de pé descalço, gente gritando e gente tomando. Óscar estudou produção de cinema e Filosofia mas só terminou este ultimo curso. No entanto trabalhou muitos anos em comunicação social fazendo investigação e produzindo documentais sobre os vários problemas sociais da Colombia. Por questões de segurança teve de deixar essa paixão de lado e dedica-se agora a ser professor em dois colégios perto de casa. Falo de "questões de segurança" porque neste país quem trabalha na área da investigação social como ele fazia tem um risco muito elevado e teve vários amigos a terem que sair do país por estarem ameaçados à morte. Diz-me ele que "os optimistas que há neste país são os que não conhecem a realidade". E parece que assim mesmo é aqui, onde não há liberdade nem democracia, não se pode ter um ponto de vista diferente.
Os problemas sociais são reais e o perigo existe de verdade. Vejo uma quantidade inacreditável de motas aparentemente normais mas que funcionam como táxi, outros tantos vendem minutos de telemovel tal é a falta de emprego assim que tudo vale para se poder ganhar algum dinheiro. Vejo também indígenas e campesinos a pedirem dinheiro no meio de centros de comércio onde se nota que não pertencem a esse ambiente mas são muitas vezes obrigados a sair das suas terras de cultivo, dos seus campos onde produzem de tudo um pouco, para que se passe a produzir mais coca e se possa gerar mais dinheiro sujo. Os campesinos mais revoltosos acabam por ser mortos pelos Paramilitares que são um dos quatro grupos armados que há no país. Somente para meter medo ou roubar algumas parcelas de terreno estes destruem lideres e famílias inteiras como se de um filme de terror se tratasse. O sequestro é um delito cometido com muita frequência pelas FARC e outros grupos armados. Estima-se que existem cerca de 3000 sequestrados, não se sabe do seu paradeiro, não se sabe se estão vivos se estão mortos e as famílias deles têm que viver no meio desta tristeza e incógnita perda...

Há injustiça, corrupção e muita droga à mistura. É difícil saber onde é que isto vai parar ou se alguma vez vai acabar. Essencialmente é um problema cultural mas que não seja isso uma desculpa para deixar de se combater porque enquanto continuar a haver mortos em massa e o jornal a falar de futebol e de acordos de paz permanentes o perigo vai continuar e o país não avançará e muitas vidas se vão continuar a perder.

Antes de sair de Cartagena ainda tive tempo de visitar um bairro, dos mais pobres, com Óscar onde ele ia dar um workshop de cinema a jovens desse mesmo bairro. É admirável que pessoas como ele que tem uma vida muito pouco estável continua a dar e dar tentando tirar do buraco a jovens que vêm poucas oportunidades do meio onde vivem. Uma criança que toca um instrumento é uma criança que nunca vai tocar numa arma, assim na musica como em qualquer outra arte tal como é o cinema ou o teatro. Há que dar a mão aos que estão próximos e só assim se conseguirá ver melhoras porque a um grupo armado como as FARC que já tem à volta de 50 anos de existência concerteza não é formada por velhotes.

...e no meio de alguns bairros vê-se a convivência frequente entre o conflito armado interno e a esperança, a morte e a vida, o ócio e o trabalho.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Cali Night Fever!!



Acabado de chegar a Tulcán (norte de Ecuador) percebi de imediato que a fronteira ainda não estava ao “virar da esquina”. Quando recebi a nota de 5000 pesos colombianos não pensei que tão cedo a ia utilizar. Mas assim foi, já não tinha dólares e a única forma de ir até à porta de saída do país e entrada em Colombia era trocando os pesos por 2,5 dólares e assim pude comprar o bilhete de bus que me levou até à fronteira. Pelo caminho conheci uma colombiana que viajava com dois filhos pequeninos e quatro maloes. Acabámos por nos ajudar mutuamente de uma forma natural, eu a ela com as malas e ela comigo na entrada neste país com nome de menina. Volto a tirar o passaporte da mochila para que possa receber ordem de entrada. De todas as fronteiras por onde passei esta foi, sem duvida, a mais simples sem ter que preencher qualquer papel, bastou-me receber o carimbo. No entanto há sempre um processo de espera seja na saída seja na entrada no país. O nosso crescimento é rápido e os anos passam fugazmente por nós, facilmente vou chegar a velhote e já no fim da vida vou-me perguntar onde é que andei a perder tempo...nas fronteiras, está claro!!

Já na Colombia e com dinheiro emprestado chego a Cali. Esta é a terceira maior cidade do país atrás de Bogota e Medellin. É considerada a capital da loucura, da dança, dos ritmos latinos, da pura fiesta loca!! Voltei a apostar no couchsurfing.com e a ser recebido pela família Rios que vive nos subúrbios mais elegantes da cidade. Uma família habituada a receber viajantes de todas as partes do mundo, têm já um quarto próprio para e todas as informações úteis para quem chega pela primeira vez ao país. Não foi preciso passar muito tempo para que eu me apaixonasse por estas pessoas, vive-se numa onda de boa disposição e amabilidade entre todos. Muito atenciosos com o bem estar de quem esta ao lado...ou a passar ao lado! O difícil aqui é não fazer amigos. Do centro mais fino da cidade levei as manas Rios até ao centro do povo, junto ao mercado e feira onde se vende de tudo. O contraste é muito grande e nota-se facilmente em tudo, na maneira de falar, de vestir ou no aspecto das lojas ou barracas de vendedores...mas eu acho que é aí que se vê melhor como vive a maioria das pessoas nesta cidade e país. E como em qualquer lado este nao deixa de ser perigoso mas não é por isso que vou ficar de fora, arregala-se mais os olhos e entramos. Claro que estando com duas damas mais olhos temos que ter. A certa altura a entrar já mais adentro duma rua com tendas montadas que vendiam mais que as outras, alertou-nos um vendedor “Não se metam por aí...ficam sem cabeça” Percebi de facto pela cara dele que o mais provável era mesmo ficar sem cabeça se por ali fossemos. Diziam-me elas que já de carro tinham medo de ir por estas lugares onde passeávamos e muito mais agora que estávamos a pé. Não nos demorámos muito mas não saímos dali sem antes provar uma bebida à base de fruta e mel rotulada de afrodisíaca.

O melhor desta cidade estava prestes a conhecer com a chegada da noite. Todos os dias a espera pela noite vale a pena pela festa que se vive em qualquer parte da cidade...tem é que ser Cali!! Bailam salsa, merengue, bachata e parecem mesmo profissionais. Nascem já a bailar!!

A grande diferença deste lugar e em geral de toda a América Latina é que as pessoas são autênticas e naturais ao deixarem-se levar pelo ritmo quente da musica sem problemas de quem vai estar a olhar ou se estou a dançar bem ou não, respiram o ritmo e deixam fluir os passos. Se ao principio não sabia muito bem, rapidamente recebi lições de cada “profissional” a quem eu convidava para dançar, aqui não se diz não a um convite para bailar. Que maravilha que é!! O único cuidado a ter neste ritmo alucinante de musica é que não se pode/deve convidar as mulheres lindonamente plásticas que estão acompanhadas de um homem que pode ser alto baixo, bonito feio e cheio de borbulhas porque são na sua maioria narcotraficantes que têm essa grupeta de mulheres com eles e é de mau gosto ir buscar alguma para dançar. De resto...basta fechar os olhos e confiar no ritmo que nos vai saindo da pele através dos nossos pés!!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Quem vai para Norte é um homem com sorte!!


Já de mochila na Ruta del Sol com a companhia da Mayra, esperávamos que algum carro parasse e nos levasse para Norte com o objectivo de chegar a Puerto Lopéz. Não foi preciso esperar muito para que um jeep nos fizesse sinal para entrar. Levou-nos durante 30 minutos até um pueblito e daí percebi de facto a grandeza do Colégio e Fundação onde estive em Olón e a sorte também de eu ser assim, alto, que me fez com que ao mesmo tempo que esperávamos outra boleia oiço um muchacho chamar "Panchitoooo!!"...e aí estava uma criança do Colégio de quem não me lembrava o nome, ficámos a jogar na estrada até que me despedi e entrámos noutro carro-boleia e depois em outro, que parecia estar em sessão de treinos da F1, que nos deixou já em Puerto Lopéz, um cantón que vive essencialmente da pesca. Aí chegados fomos até casa da família conhecida da Mayra. Ao fazer as distribuições das camas nem me queria acreditar...a dona da casa deixou-me o quarto dela que mais parecia uma suite presidencial, com mobília vinda de França. Escusado será dizer que foi a melhor cama onde dormi nos últimos 9 meses. Da porta de casa tinha a praia a uns metros cheia de barcos de pesca que os ajudam a mobilizar no seu local de trabalho. A falta de peixe que se tem vindo a sentir faz com que eles tenham que sair para alto mar por 3 ou 4 dias em busca do ganha-pao. É um lugar muito tranquilo, todos se conhecem e saludam e o taxi-moto é o transporte sensaçao.

Passada a noite e chegado que estava o dia, peguei na mochila e voltei para a ruta mas desta vez sozinho e sem saber onde ia parar, a nica certeza era a de que queria ir para Norte. Os contactos terminaram e outra coisa não fiz senão deixar-me levar...um carro leva-me uns km mais à frente e daí esperei uma hora de pura tosta solar até que uma carrinha cheia de família parasse e me fizesse sinal para entrar. As filhas meio preocupadas ou assustadas com o estranho que acabava de entrar no carro e ia fazer a viagem com eles, não se lhes ouvia uma palavra. E aí fomos pela ruta fora com lugares de praia de fazer inveja a qualquer balneário. Tem lugares que parece que estamos na Amazónia outros que parece que acabamos de entrar em um bosque e ainda outros fáceis de perceber que estamos em pura praia! Viajavam até Manta e por mim estava perfeito porque tudo o que fosse para Norte já valia a pena. Fiz-lhes saber que não tinha lugar para ficar e que provavelmente iria falar com a municipalidade ou com alguma escola ou padre. Foi então que meio a medo me disseram que podia ficar em casa deles a passar a noite e aproveitar a boleia da filha que na manha seguinte saía um pouco mais para Norte até Bahia. A isto chama-se perfeito Golpe de Sorte!! Contaram-me que é mesmo muito raro pararem para dar boleia a alguma pessoa e muito menos convidar a ficar em casa deles a um desconhecido que recolhem da rua. Não sei o que lhes transmiti mas algo de bom foi concerteza para que me tratassem e confiassem desta maneira. Em casa era como se já nos conhecêssemos desde muito tempo e serviram-me a melhor lasanha dos últimos anos. No dia seguinte e antes de sair de casa, ainda me deram uns bolinhos e sumo para comer a meio da manha.
Senti-me tao acolhido que estava perto de tocar as nuvens. Nao consigo descrever bem os meus sentimentos e estado de espirito com estas pessoas que deixam explodir os coraçoes para cima de outros. Fico contente de ver confirmado que neste mundo fugaz ainda há muita coisa maravilhosa que nao tem preço e que essas sao de facto as melhores, um recebe porque merece ou porque tem uma visao que ve para além do óbvio. Chegando a Bahia fui num barquinho até Canoa, lugar parecido com Montañita mas com metade dos turistas e menos ainda nesta época. Disfrutei da praia deserta que estava nessa manha e segui de novo para a ruta onde facilmente chegaria a Pedernales. A pensar no que ia fazer ao mesmo que caminhava pelas ruas da cidade, fui até à casa do padre. Se já em outros lugares tinha sido muito bem recebido o mesmo nao se passou aqui...nao quis sair da casa e falava comigo por entre as grades da janela dizendo que como nao sabia quem eu era ao ponto de me deixar prenoitar. Respeitei-o mas para mim nao deixei de questionar a amabilidade dele. Talvez fosse pelo meu cheiro, prefiro pensar que sim. E com quase zero dólares no bolso decidi nao esperar mais e ir-me para Colombia. Os dias vao passando rápido, e se um hesita muito acabamos por nao decidir nada e o tempo foge-nos das maos tornando-se ele o que decide.

Compre bilhete de bus até S. Domingo e daí outro para ir até à fronteira. Já era de noite e a impossibilidade de levantar os ultimos euros da minha conta fazia de mim um perfeito mendigo. Tinha apenas 1dólar e uma vontade de comer que se manifestava com sinidos fortes vindos da barriga. É entao que aparece um colombiano de bigode à Escobar, que já me andava a olhar de lado muitas vezes, acerca-se e diz-me se preciso de ajuda, para onde vou, cuidado para que nao me deixe enganar pelos preços, etc. Olhou tantas vezes para os passos que eu dava no terminal que pensei que talvez quisesse tirar-me a mochila por emprestado. Ao conversar com ele pelo terminal, enquanto me explicava o que tinha que fazer na fronteira, dizia-me que “espero que nao tenhas medo ou nao te sintas mal por estar aqui ao teu lado, estou só a tentar ajudar”. Fiz-lhe saber que nao tinha dinheiro suficiente para comer e ele impecável levou-me a uma das cozinhas improvisadas que havia do lado de fora do terminal e pagou o que faltava, nunca um jantar me soube tao bem!! Entrando de novo no terminal e sentados começa-me a mostrar os papéis para a naturalizaçao do filho que tem a mae ecuatoriana. Ao ler um pouco o que estava escrito foi quease automàtico a associacao do apelido dele com o famoso narcotraficante: Escobar. Nao lhe disse nada e seguimos conversando, eu ia tentando controlar a conversa e contava-lhe muitas histórias por onde tina estado na América Latina até que a certa altura me pergunta: “nao tens medo da morte?” Digo-lhe que nao porque estou em verdadeira paz e a viver maravilhas todos os dias assim que quando chegar, chegou. Nao sei exactamente qual era a resposta que ele buscava ou qual o sentido da pergunta mas nao perguntou mais nada depois disto. O bus dele chegou e o meu também, ao despedir-me saca uma nota de 5000 pesos colombianos (2€) que tinha guardada no seu porta moedas e me dá disejando-me sorte e que utilise a nota quando mais necessitar. A sorte está do meu lado!!

Ir confiando nas pessoas, de olhos bem abertos, vale sempre mais a pena. Até hoje nao me passou nada de mal em toda a viagem e isso deve-se essencialmente à maneiara como nos comportamos e falamos com as pessoas. Nao podemos ser desconfiados e medricas com tudo, há que seguir em frente com os olhos abertos e a perfeita noçao de que as nossas atitudes comunicam muito sobre quem somos.

sábado, 31 de maio de 2008

Lendeas de paixao


Depois de já ter passado tanto tempo de viagem nao houve nada que corresse mal nem mesmo nenhuma doença a não ser a ressaca gigante que tive depois de me despedir da Amazônia, em Madre Tierra, com o Presidente da Junta a tomar tragos do sumo fermentado da cana de acucar. E agora nem mesmo a praga de piolhos que se apoderou dos miúdos daqui da fundação. Ou é da minha altura que eles não saltam ou é pura sorte e mentalidade forte de que nada me vai passar. Tampoco os piolhos conseguiriam fazer com que eu me afastasse dos miúdos, é uma necessidade que tenho e não vou deixar de abraçá-los ou estar ao lado deles só porque tem uns parasitas na cabeça. A realidade é que uma pessoa mesmo que não tenha começa a pensar qualquer comichão já é piolho.
As explicações de matemática e os treinos de basket seguiram e posso dizer que agora já os vejo a pegar mais vezes na bola de basket que na de futebol e a utilizarem o cesto que antes era desprezado por todos. O torneio aproxima-se e agora Jim continua com eles uma semana mais até que comece a competicao.

A minha integração foi muito rápida e os quase 20 dias que aqui estive fazem-me parecer 2 meses. Todo o trabalho que as missioneiras fazem é fruto de uma tranqüilidade interior muito grande. Em conversa com uma delas, explica-me com a frase “de que vale ganhar o mundo se vimos a perder a alma” que a fez perceber qual é o seu lugar no mundo. Pensamos muito em querer mais e mais coisas ou chegar a determinadas metas que mais tarde, quando as atingimos, ficamos “normais” sem saber porque aí chegamos e porque a queríamos tanto. Porque acontece que nos agarramos e queremos prender a coisas que na realidade não valem tanto a pena. Queremos o melhor emprego, o melhor ordenado...e para que?! Se não tivermos um propósito maior do que simplesmente ganhar por ganhar entramos facilmente não no mundo dasmaravilhas mas sim numa cadeia que é artificial, num caminho limitado pela artificialidade de bens e pensamentos. Difícil é deixarmo-nos perder a vida mundana, em que parecemos muitas vezes baratas tontas sem saber o sentido de nada, em detrimento de um bem maior...deixar crescer ilimitadamente o nosso coração. Que qualidade tem a nossa vida?! Diz-me muitas vezes acerca de diferentes assuntos que quantidade não é sinônimo de qualidade e isso esta cada vez mais evidente no estilo de vida que levamos ou somos levados a crer que vale a pena. Fazer e dizer tudo aquilo que nos vem a cabeça em vez de pensar tudo aquilo que fazemos a dizemos.
Este tempo aqui ajudou-me bastante a parar e pensar no que tenho vindo a fazer e a viver. No impacto que tudo isso tem e terá no meu futuro e na relação com as pessoas com quem me cruzarei.

E nestes últimos dias fui também acompanhar uma das missioneiras na visita a um doente de Olón. No meio de bastante desenvolvimento que já há neste lugares encontra-se também pessoas como o Sr.Marciano que tem 80 anos, ficou cego com o passar dos anos e vive da caridade das pessoas, numa casa de madeira com o chão de terra batida. A família já não existe, nem mesmo um tio ou sobrinho. Não vê e se tem visitas esta entretido se não temesta deitado na cama que ocupa praticamente toda a casa. Pessoas como ele há por toda a parte neste mundo e não é necessário vir ate á costa do ecuador para conhecer esta realidade mas não deixa de impressionar. Conosco levamos um bolo de anos para festejar o dia dele que já tinha passado mas sozinho. Admiro estas pessoas que apesar de tantas contrariedades continuam a querer agarrar a vida e a fazer de nós seres úteis. Despeço-me deste senhor de outro mundo, como ele próprio se nos apresentou, que apesar deja estar mais para lá que para cá continua a arranjar-se e a preocupar-se com a imagem todos os dias.
Saio agora para a Ruta del Sol com a Mayra (irmã mais velha de um dos rapazes da fundação que sofria na pele a ira do pai) “fazer dedo” esperar que algum carro pare e nos leve até Puerto Lopez onde tem casa de família e ai vamos ficar. Será a primeira paragem de uma segunda fase minha com esta ruta...

terça-feira, 27 de maio de 2008

domingo, 25 de maio de 2008

VITÓRia

Para alcançar a una Vitória não nos basta termos as qualidades e todos os recursos, acima de tudo, há que acreditar nela...que é possível!! Assim têm feito todos os dias, os que aqui trabalham acreditando que se pode mudar, se pode dar e Vitor agarrar esta oportunidade de ser feliz! É uma vitória que se vai desenhando a cada dia que passa. Antes estava perdido, ninguém apostava nele e ele próprio também devia pensar que o mundo não esperava nada dele, que não existiam expectativas. E criança que é criança não conhece o conceito de fracasso e dessa maneira não o teme. Mas é totalmente mentira que não haja expectativas em relação a um ser humano, seja jovem, criança ou já velho, espera-se que a nossa passagem pelo mundo deixe marcas. Não precisamos de ir á lua mas com as condições e recursos que temos ou conseguimos alcançar, fazer o melhor possível por deixar o nosso lugar melhor do que aquilo que estava.

Temos todas as possibilidades para deixar marcas positivas em tudo quanto tocamos independentemente da nossa condição. E isto é o que o mundo espera de nós.
Vitor despertou e é impressionante ver a evolução que está a ter. Já se vê penteadinho com roupa lavada e sapatos novos a distribuir beijos e abrazos por todos. Em uma dessas manifestações de carinho entusiasmou-se e levei uma mordida que ia ficando sem pescoço mas a intenção era a melhor, assim espero! Vai soltando palavras muito básicas á base de sons como “chão” e “papa” igual a qualquer criança que começa a aprender a falar. Já se vai entendendo mais coisas nele mas não deixa de estar sempre irrequieto a querer ver e aprender tudo o que está á volta. Quando veio podia-se pensar que seria difícil, ás missioneiras, estarem com os olhos colados nele para que se vá civilizando mas não e em grande parte porque existe nelas um total desprezo pelos obstáculos que poderão existir. Funciona tudo tão bem que já são, na maior parte das vezes, as próprias crianzas que estão a viver na mesma casa que ele que o ajudam e, ganhando responsabilidades de “irmaos”, o vão educando da mesma maneira que foram educados pelas missioneiras. É como uma família grande com muitos filhos em que se pode pensar que o peso é grande para os “pais” e difícil de cuidar de tantos filhos mas que acaba por funcionar como uma “cadeia de favores” em que os mais velhos já educam os mais novos e ao mesmo tempo são educados os primeiras pela responsabilidade acrescida que ganham. Para quem assiste atodo este processo (como eu) é de ficar colado muitas vezes a olhar para o vitor e a admirar o crescimento rápido e o contacto e carinho que já tem pelas pessoas todas. Aos poucos vai fazendo amigos de criando admiradores concretos, eu!!

Jim e eu continuamos com os treinos de basket com vista ao torneio entre colégios que vão ter acomecar na segunda semana de junho. E para gente que está habituada a ver e jogar futebol a toda a hora, mais importante que ensinar-lhes algumas regras e praticar exercícios é passar-lhes gosto e entusiasmo por este desporto, que discutam jogadas e queiram parecer-se a algum jogador dos bons. A verdade é q tem vindo a surtir efeito, quando nao há treino já seve muitas vezes eles a pegarem na bola de basket e praticarem.
No único campo que há na escola todos os dias antes de começar temos que o limpar de lixo que desinteressadamente vão deixando no chão e ao mesmo tempo fazer de segurança para que todos os milhões de crianças não entrem a interromper o treino. Tarefa muito difícil porque, como em qualquer escola deste mundo, o campo de jogos é o centro de diversões.
Ontem foi dia de película de basket no albergue dos rapazes, vão-se familiarizando e o que mais se quer é que ganhem amor para aprender e lutem mais dentro de campo e... já se começam a ver Jogadores!!

Nestes dias a viver aqui na maior paz estou a fazer o que realmente gosto com treinos de basket, explicações de matemática na casa das ninas e outras tarefas variadas pela manha. A maneira como fui e sou recebido faz com que este pouco tempo de estadia aqui pareça muito maior e claro que ajuda muito a genuinidade das pessoas que aqui trabalham que me fazem parecer amigo já de longa data. Aproveito a estabilidade deste lugar onde estou e assim consegui ir trabalhar como empregado de mesa este fim-de-semana num restaurante em Montañita para assim ter mais possibilidades de seguir viagem. É um lugar com muitos turistas e como tal as gorjetas são melhores que em qualquer outro lado. E quando me toca recolher a mesa é sempre com grande entusiasmo que vou ver o que cada cliente me deixou. Há uma espécie de trabalho de equipa entre a cozinha e o empregado de mesa para que tudo seja rápido e bem servido. Caso alguma coisa estar mal o meseiro é quem dá a cara apesar de não ter qualquer influencia na cozinha, mas o contrário também pode acontecer. A cara-de-pau é usada para esses momentos!!
Não se ganha nada bem, é verdade, comparando com Portugal, mas é esta a realidade do país e continente. Junto assim alguns trocos que já me começavam a faltar para que em um par de dias saia de cá e continue a “ruta del sol” em direcção ao norte do Ecuador. O dinheiro não é o meu propósito mas dá-me a oportunidade de alcançar alguns objectivos que neste caso é o de seguir viagem.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Convite para a Vida!


Dizia Madre Teresa de Calcutá que o amor só é verdadeiro se posto ao serviço dos outros. Lembro-me desta frase não só porque está bonita mas porque a vejo presente em cada missioneira que aqui trabalha. Elas chamam-lhe obra ao trabalho que desenvolvem neste lugar que começou com o santuário e que tem, agora, escola e casas de acolhimento, mas para mi misto é mais que apenas uma obra, eu chamar-lhe-ia Obra-de Arte!! É admirável a maneira dedicada com que trabalham com todos os miúdos vindos de diferentes partes do Ecuador e com diferentes históricos familiares. Comparo-as muito a Madre Teresa, que a pesar de aqui não se trabalhar com leprosos ou viverem em condições tão miseráveis quanto as que se vivem na Índia, acolhem a todos sem preferências. Abrem as portas a todos, são o abraço para todos os que necessitem. A única maneira de isto ser possível é com amor. É amar todas as pessoas e a cada uma em particular. Não são missioneiras ricas e tampoco de grandes recursos mas comida e abrigo nunca vai faltar. A magia acontece quando se quer com muita força um “impossível”.

Ontem chegou mais uma criança que deve ter uns 4 ou 5 anos, chama-se Vítor Hugo. É mudo e encontraram-no descalço pelas ruas da província de Guayas já era de noite. Pessoas que já o tinham visto dizem que não sabem desde quando está na rua. Hoje demanhazinha quando eu me dirigia para ir tomar o pequeno almoço cruzei-me com ele, tentava ir não sei onde (nem ele próprio sabe). Tudo lhe parecia raro e estranho. Notava-se que estava confuso e a querer experimentar de tudo. Fátima, uma das missioneiras mais antigas, levou-o até ao refeitório onde tomávamos o pequeno almoço e aí parecia o verdadeiro “Índio em Nova York”. Metia as mãos na manteiga e comia de tudo à colherada roubando dos que estavam ao lado. É difícil controlá-lo e não há um modelo escrito de como fazer porque não há 2 pessoas iguais. Como educar a um menino que parece acabado de sair de um buraco onde teve fechado os últimos anos. Trazia com ele uma mochila sem fecho, um carro de brincar todo partido só com uma roda e passeava-se descalço como pulga de um lado para o outro.

Uma criança que acaba de chegar ao mundo já com uns 4 ou 5 anos. Difícil de entender isto se já nasceu à muito tempo atrás mas a verdade é que um só vive realmente quando recebe amor. Vítor foi abandonado não se sabe quando mas tem marcas de queimaduras e golpes por todo o corpo. Toca, mexe e bóta os olhos em tudo o que está à volta dele…Para mi misto é o que pode chamar de Renascimento. Um ser como ele é pode ser incompleto aos olhos de certas pessoas e de outras ser perfeitamente completo e ter tudo o que necessita. São definições que criamos e fazemos delas parecerem dogmas. Quem define se é completo ou incompleto somos nós mesmos nas nossas cabeças e aquilo que quisermos acreditar é o que vai ser o nosso pensamento dominante. Criemos então um pensamento ambíguo e saibamos ver mais além do que qualquer animal possa ver.


Trouxeram-no para aqui e abrem-lhe os braços para que perceba que há alguém que o quer e que a rua não é lugar para ele nem para ninguém. Não se sabe para já a história dele mas tampoco interessa por agora. Imagino algumas possibilidades que o possam ter levado a estar na rua mas como são tudo pensamentos demasiado negativos e pessimistas prefiro não perder tempo a desenvolver-los. Aos poucos irá aterrando e levará o tempo que for necessário porque ganhar uma criança que estava perdida é por mais vida naquilo que já é vida!!

A minha admiração por estas missioneiras cresce dia após dia. Acolhem sem limites a todos sejam cristãos ou ateus, ricos, pobres, mendigos ou doentes. Parece que nasceram com os braços abertos e assim continuarão para sempre!!


A minha estadia aqui tem-me ajudado de facto a que continue a viver intensamente este ano fora de casa, a pesar de já se aproximar do fim. A proximidade com o mar, as crianças novas que diariamente chegam a esta casa seja por inexistência ou ausência de país, problemas de marginalidade ou até de protecção em certos casos. Um movimento constante de todos os que cá vivem. O despertar é demanhazinha que se faz e antes de as aulas começarem tudo ordena quartos e casas de banho. Depois de as aulas terminarem voltam a ter tarefas de limpeza de casa onde vivem e outras vezes trabalhos mais pesados ou de manutenção.
Estou mais entusiasmado que nunca com o novo trabalho de treinar os miúdos para o campeonato de basket que se vai realizar em Junho. Jim (voluntário americano pela terceira vez aqui), que é a minha grande companhia e irmão meu aqui dentro, e eu começámos a fazer treinos diários bem planificados aos miúdos mais velhos de 15 aos 18 anos. Nunca em toda a história deste Colégio conseguiram trazer este troféu. Este ano com Jim e comigo cheios de força e disponibilidade, vamos aproveitar o que sabemos de basket para lhes passar tudo e fazer com que esse troféu chegue ao espaço vazio que há na estante. Força, físico e ganas não lhes faltam só mesmo faltava quem os ajudasse a direccionar essas qualidades que já têm. O futebol é o desporto que mais praticam e com que vibram mais mas ninguém gosta de perder, muito menos nesta idade, nem que fosse bádminton. Só lamentamos já não estarmos cá para o campeonato que começa dia 5 de Junho mas até lá vamos fazer deles melhores jogadores de Basket que alguma vez puderam imaginar. Nenhum tem apelido Jordan…por enquanto!!

sábado, 17 de maio de 2008

6a MARAVILHA DO (MEU) MUNDO: Santuário Blanca Estrella de la Mar (Olón)


À medida que vou conhecendo as maravilhas do meu mundo nunca sei quando aparecerá a próxima mas penso sempre que depois de tantas imagens e lugares que já vi é difícil que me surpreenda de novo.
A
única maneira de este inesperado não acontecer era este santuário não existir!! Começava o ano de 1984 e um padre suíço de nome Othmar teve a brilhante visão de imaginar um santuário em forma de barco num lugar onde não existia nada, nem estradas, nem casas e pouca gente por ali passava. Foi a melhor forma de dar vida a este lugar que fica entre Montañita e Olón. Em forma de barco não apenas porque está junto ao mar mas também por simbolizar o que queria e viria a ser de abarcar toda a gente.

Claro que construir do zero não é tarefa fácil e assim contou com a preciosa ajuda das pessoas que viviam nas redondezas. E assim, com mão-de-obra local estavam a construir um barco para ficar em terra mas que seguramente ia chegar mais longe pelo propósito para que foi construído.


A vista que há daqui é quase indescritível. Uma imensidão de mar e marés que não se cansam nunca, provocando um ruído parecido ao da chuva…Este mundo oferece-nos tanta harmonia e beleza que, a menos que fossemos cegos, não nos sentiríamos arrebatados com admiração e regozijo.


Hoje e passados 24 anos da construção do santuário há já mais de 350 jovens e crianças (este numero está sempre a aumentar porque todos os dias chegam crianças novas) que vivem nas casas e estudam na escola que posteriormente se foram construindo para satisfazer as necessidades de todos.

O sonho comanda a vida!!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

TJ - TODOS JOGAM

A minha passagem por Guayaquil não terminava sem antes voltar a ver a família Mero que me tinha acolhido da primeira vez que cheguei a esta cidade, dois meses trás quase. Convidaram-me agora para passar o dia da Mãe em casa dos avós deles, com toda a família, primos, netos, etc…Que bom que é, continuar a ser tratado como filho pelas famílias por onde passo. Um assado durante toda a tarde acompañHado por uma sangria à portuguesa!! Volto a aproveitar o aglomerado de gente, e estarem todos felizes, para mendigar lugares para dormir durante a ruta del sol que vai por toda a costa do Ecuador até ao Norte. A fome de ver o mar já se começava a apoderar de mim. Saio de mochila e bus até Libertad com a ideia de fazer a ruta del sol à boleia…os dólares já estão em vias de extinção nos meus bolsos. Em Libertad o contacto que tinha da casa de INNFA não podia ter funcionado melhor. Ketty não só me arranjou lugar para dormir no hospital odontológico que aí há como me deu mais contactos na ruta em Olón e Montañita. O hospital ficava exactamente em Ballenita, a 1 minuto do mar, e eu quase que chorava de alegria só de sentir este cheiro tão característico. Deram-me um quarto com banho privado e vista para o mar. Que mais posso pedir?! Dormi descansado com a compañhía de formigas de meio metro a passearem-se pelo quarto mas era mansinhas! Hoje, os seguranças nocturnos do hospital, acordaram-me às 7:30 a convidarem-me para ir tomar o pequeno almoço com eles ao “restaurante” que tem a mãe de um deles em frente ao hospital, é mais uma espécie de tradicional cozinha aberta. Servem-me café e com ele vem um prato de pescado frito, arroz e patacones (rodelas fritas de plátano verde), que delicia…mal sabia eu quando voltaria a comer. Tive a sorte de o pequeño almoço me parecer mais uma refeiçao de meio dia porque só voltei a comer às seis da tarde!!

De facto todas as pessoas têm algo de bom, magia, e ao querermos ser ajudados todos nos ajudam. Tudo vai correndo a nosso favor, só temos que querer de verdade. Esta vida é uma verdadeira oportunidade e a maneira como a encaramos vai determinar obter mais ou menos proveitos de maior ou menor felicidade!!
Passadas umas horas de pura matança de saudades da praia, estou de volta à estrada na ruta del sol. Não foi preciso esperar muito para que uma carrinha de caixa-aberta me levasse até meio caminho e quase sem pôr o pé no solo outra passar e levar-me até ao meu destino. Pelo caminho começo-me a aperceber da beleza de lugar e que a diversidade que tanta se ouve falar deste país è real e existe. Pescadores, barcos de madeira, muito peixe nos carrinhos ambulantes das ruas e camas de rede aos magotes por toda a parte que chega a parecer um disparate…mas um bom disparate!!

Ao chegar a Olón vou caminhando até à fundação Santa Maria del Fiat que Ketty me tinha recomendado vivamente por ter trabalhado um par de anos aí mesmo com eles. Seguindo as indicações que as pessoas me iam dando fui subindo e a cada passo que eu dava a vista ia-se agrandando. Chegando à fundação, fica entre Montañita e Olón, falo com as missioneiras de cá e sem hesitar deixam-me cá ficar. A minha ideia ao principio era passar só dois dias mas como o inesperado acontece, penso que vou cá ficar até fim deste mês. Dizem-me que a minha ajuda é benvinda e que não é por mais uma Pessoa que lhes vai faltar comida ou espaço para dormir. Quando o coração é grande, ou melhor elástico, há sempre espaço para mais um!! Isto Numa altura em que chega um miúdo de 12 anos acompanhado por dois policias e pelos seus pais para falarem com a missioneira responsável de cá. Em conversa com o policia, que estava entusiasmada com a estoria que eu lhe contei da minha viagem por terras latino americanas, foi-me explicando o que se passava. O miúdo, Andres, é de Guayaquil e pertencia a uma pandilha muito perigosa e buscada por toda cidade. Já tinha tentado sair mas era sempre ameaçado e a cada tarefa ou trabalho que lhe davam e não cumpria ou não fazia como eles queriam levava cinco tabuadas, com uma tábua de madeira no traseiro. Este castigo podia ser acumulativo.
Depois de ter visto um crime saiu, fugiu e contou tudo aos pais. Estes sem hesitar falaram com a policia que o protegeu desde então e o trouxe agora aqui para ficar a salvo. A ideia é que o aceitem aqui na escola e a vier na casa de acolhimento, para miúdos sem pais ou com problemas familiares, que a fundação aqui tem. Ao conversar com Andrés dos mais variados temas notava-se o medo entranhado na cara dele, não é caso para menos. Se tudo correr bem para ele e para mim…hei de o ver mais vezes aqui!!

Agora, acabei de subir ao meu quarto e a vista que tenho para o mar é de assombro, um sonho!! Nem nas minhas melhores e mais optimistas previsões quando acordei hoje pensaria vir a dormir num lugar como este. Cama boa quanto baste para descansar, armário e um chuveiro. Tudo o que um homem quer!!
Acabado de cegar tal como eu vem um grupo de voluntários dos Estados Unidos para trabalhar aqui por duas semanas. Vão ser meus companheiros concerteza e vou ter tempo para pôr a prova o meu inglês já quase esquecido no meio da avalanche de espanhol.
O meu propósito de viagem continua não só firme como também renovado e assim continuará até ao fim, é isto que me faz mover. Dar e dar mais é a única maneira de ter e ter mais!!

sábado, 10 de maio de 2008

INNFA Estruturas...


Sair da Amazónia já de si não è fácil pelo amor que uma ganha quando ai está. ais difícil e estranho se torna quando se muda radicalmente como eu fiz, viajando para Quito – capital do Ecuador.
Não fui para aí só porque sim mas porque o www.innfa.org, quem me arranjou o contacto com a fundação com quem estive a trabalhar na Amazónia, me pediu que colaborasse com eles dando uma formação sobre campos de férias a um grupo de miúdos de 15 a 20 anos. Preparei-me sem fazer grandes filmes porque não os sei fazer e porque é um tema que está bem fresco na minha cabeça. O que eu não esperava era encontrar uma sala com umas 60 pessoas de todas as idades, desde os 6 aos 60 anos. Surpreenderam-me, é verdade que sim!! Já a meio do workshop fizeram-me saber que o que mais queriam e esperavam era fiesta, ou seja, dinâmicas, jogos e actividades para campos de férias e mais que tudo para aplicar em centros comunitários de actividades para niños. Pus de lado o programa que tinha feito e deixei o improviso tomar conta de mim. No fim todos ficámos contentes!! Volto a ser recebido como filho pela minha família de Quito onde já tinha ficado a dormir da primeira vez, antes de me meter na Shell. as desta vez só por uma noite e quase sem pregar olho já estou de saída para, a pedido do INFFA, Guayaquil a dar o mesmo workshop sobre campos de férias e umas bases de teatro durante uma semana para dois grupos de educadores e formadores que trabalham com miúdos de bairros pobres do sul da cidade. Pensava já que ia ser a mesma confusão e por isso a vontade não era muita mas ao mesmo tempo era uma forma de retribuir o apoio que me deram desde que cheguei ao Ecuador e para além disso…gratificante saber que querem a nossa ajuda, que contam com as nossas qualidades para pôr ao serviço dos outros.

Com o passar dos dias fui percebendo a importância e responsabilidade do trabalho que estava a fazer. Sem me pôr no papel de professor, que não o sei ser, o que fiz foi partilhar com eles ideias e alguma formação que fui recebendo e aprendendo nos últimos anos. Partilhar experiências!! Este era um trabalho que à partida não me entusiasmava tanto por ser com pessoas mais crescidas e eu me identificar com o trabalho de campo, garotagem, gritos e pés descalços..sendo eu tb um deles. Mas mais uma vez volto a aprender, ambos os trabalhos são importantes e esta é uma maneira indirecta de cegar aos miudos e de os ajudar a formarem-se integramente. Há que perceber que nem sempre o trabalho que queremos é o necesario e que o que não queremos não é obrigatoriamente o desnecessario.
Uma coisa é certa, trabalhar com adultos é bem mais dfiicil que trabalhar com jovens muchachos…No fim do workshop e sem medo tive de perguntar a todos quem tinha contactos na costa do ecuador, para onde vou seguir viagem, a ver se arranjava lugares para dormir durante a Ruta del Sol. Se perguntarmos e tentarmos podemos conseguir ou não o que queremos mas se não perguntarmos nem falarmos a ninguém é certo que não conseguimos. Assim que prefiro seguir-me pela primeira ideia.

Desta vez, fiquei em casa de uma família de pessoas que trabalham no INNFA a sul de Guayaquil. O contraste é tremendo fazendo parecer que estou em outra cidade, aqui é verdadeira América latina. Carros podres e compridos como banheiras passeiam-se por entre o tráfico infernal e pegajoso. Ao lado da janela do meu quarto adormeço todas as noites ao som de ritmos latinos que vem do bar atrás da casa que parece funcionar 24horas por dia. Como puro lugar latino da cidade que estou a viver há que ter mais cuidado e por isso as lojas estão todas com grades, abertas mas com grades sem podermos entrar. A sensação é de estar a comprar produtos a um recluso que está fechado na sua cela. Alertam-me para que tenha mais cuidado por ali e que não ande sozinho mas…eu gosto é disto. Deste ambiente, do cheiro a assado, gritos dos vendedores ambulantes, carros old-fashion e pessoas que não olham de alto a baixo mas sim nos olhos. Numa casa em que só tem um filho, onde o silencio e pouco movimento impera sinto a necessidade de sair, a festa faz-se do lado de fora e assim saio para a rua de calçoes e tshirt e deixo-me perder no meio destas pessoas tão cheias de vida…