As explicações de matemática e os treinos de basket seguiram e posso dizer que agora já os vejo a pegar mais vezes na bola de basket que na de futebol e a utilizarem o cesto que antes era desprezado por todos. O torneio aproxima-se e agora Jim continua com eles uma semana mais até que comece a competicao.
A minha integração foi muito rápida e os quase 20 dias que aqui estive fazem-me parecer 2 meses. Todo o trabalho que as missioneiras fazem é fruto de uma tranqüilidade interior muito grande. Em conversa com uma delas, explica-me com a frase “de que vale ganhar o mundo se vimos a perder a alma” que a fez perceber qual é o seu lugar no mundo. Pensamos muito em querer mais e mais coisas ou chegar a determinadas metas que mais tarde, quando as atingimos, ficamos “normais” sem saber porque aí chegamos e porque a queríamos tanto. Porque acontece que nos agarramos e queremos prender a coisas que na realidade não valem tanto a pena. Queremos o melhor emprego, o melhor ordenado...e para que?! Se não tivermos um propósito maior do que simplesmente ganhar por ganhar entramos facilmente não no mundo dasmaravilhas mas sim numa cadeia que é artificial, num caminho limitado pela artificialidade de bens e pensamentos. Difícil é deixarmo-nos perder a vida mundana, em que parecemos muitas vezes baratas tontas sem saber o sentido de nada, em detrimento de um bem maior...deixar crescer ilimitadamente o nosso coração. Que qualidade tem a nossa vida?! Diz-me muitas vezes acerca de diferentes assuntos que quantidade não é sinônimo de qualidade e isso esta cada vez mais evidente no estilo de vida que levamos ou somos levados a crer que vale a pena. Fazer e dizer tudo aquilo que nos vem a cabeça em vez de pensar tudo aquilo que fazemos a dizemos.
Este tempo aqui ajudou-me bastante a parar e pensar no que tenho vindo a fazer e a viver. No impacto que tudo isso tem e terá no meu futuro e na relação com as pessoas com quem me cruzarei.
E nestes últimos dias fui também acompanhar uma das missioneiras na visita a um doente de Olón. No meio de bastante desenvolvimento que já há neste lugares encontra-se também pessoas como o Sr.Marciano que tem 80 anos, ficou cego com o passar dos anos e vive da caridade das pessoas, numa casa de madeira com o chão de terra batida. A família já não existe, nem mesmo um tio ou sobrinho. Não vê e se tem visitas esta entretido se não temesta deitado na cama que ocupa praticamente toda a casa. Pessoas como ele há por toda a parte neste mundo e não é necessário vir ate á costa do ecuador para conhecer esta realidade mas não deixa de impressionar. Conosco levamos um bolo de anos para festejar o dia dele que já tinha passado mas sozinho. Admiro estas pessoas que apesar de tantas contrariedades continuam a querer agarrar a vida e a fazer de nós seres úteis. Despeço-me deste senhor de outro mundo, como ele próprio se nos apresentou, que apesar deja estar mais para lá que para cá continua a arranjar-se e a preocupar-se com a imagem todos os dias.
Saio agora para a Ruta del Sol com a Mayra (irmã mais velha de um dos rapazes da fundação que sofria na pele a ira do pai) “fazer dedo” esperar que algum carro pare e nos leve até Puerto Lopez onde tem casa de família e ai vamos ficar. Será a primeira paragem de uma segunda fase minha com esta ruta...