quarta-feira, 14 de maio de 2008

TJ - TODOS JOGAM

A minha passagem por Guayaquil não terminava sem antes voltar a ver a família Mero que me tinha acolhido da primeira vez que cheguei a esta cidade, dois meses trás quase. Convidaram-me agora para passar o dia da Mãe em casa dos avós deles, com toda a família, primos, netos, etc…Que bom que é, continuar a ser tratado como filho pelas famílias por onde passo. Um assado durante toda a tarde acompañHado por uma sangria à portuguesa!! Volto a aproveitar o aglomerado de gente, e estarem todos felizes, para mendigar lugares para dormir durante a ruta del sol que vai por toda a costa do Ecuador até ao Norte. A fome de ver o mar já se começava a apoderar de mim. Saio de mochila e bus até Libertad com a ideia de fazer a ruta del sol à boleia…os dólares já estão em vias de extinção nos meus bolsos. Em Libertad o contacto que tinha da casa de INNFA não podia ter funcionado melhor. Ketty não só me arranjou lugar para dormir no hospital odontológico que aí há como me deu mais contactos na ruta em Olón e Montañita. O hospital ficava exactamente em Ballenita, a 1 minuto do mar, e eu quase que chorava de alegria só de sentir este cheiro tão característico. Deram-me um quarto com banho privado e vista para o mar. Que mais posso pedir?! Dormi descansado com a compañhía de formigas de meio metro a passearem-se pelo quarto mas era mansinhas! Hoje, os seguranças nocturnos do hospital, acordaram-me às 7:30 a convidarem-me para ir tomar o pequeno almoço com eles ao “restaurante” que tem a mãe de um deles em frente ao hospital, é mais uma espécie de tradicional cozinha aberta. Servem-me café e com ele vem um prato de pescado frito, arroz e patacones (rodelas fritas de plátano verde), que delicia…mal sabia eu quando voltaria a comer. Tive a sorte de o pequeño almoço me parecer mais uma refeiçao de meio dia porque só voltei a comer às seis da tarde!!

De facto todas as pessoas têm algo de bom, magia, e ao querermos ser ajudados todos nos ajudam. Tudo vai correndo a nosso favor, só temos que querer de verdade. Esta vida é uma verdadeira oportunidade e a maneira como a encaramos vai determinar obter mais ou menos proveitos de maior ou menor felicidade!!
Passadas umas horas de pura matança de saudades da praia, estou de volta à estrada na ruta del sol. Não foi preciso esperar muito para que uma carrinha de caixa-aberta me levasse até meio caminho e quase sem pôr o pé no solo outra passar e levar-me até ao meu destino. Pelo caminho começo-me a aperceber da beleza de lugar e que a diversidade que tanta se ouve falar deste país è real e existe. Pescadores, barcos de madeira, muito peixe nos carrinhos ambulantes das ruas e camas de rede aos magotes por toda a parte que chega a parecer um disparate…mas um bom disparate!!

Ao chegar a Olón vou caminhando até à fundação Santa Maria del Fiat que Ketty me tinha recomendado vivamente por ter trabalhado um par de anos aí mesmo com eles. Seguindo as indicações que as pessoas me iam dando fui subindo e a cada passo que eu dava a vista ia-se agrandando. Chegando à fundação, fica entre Montañita e Olón, falo com as missioneiras de cá e sem hesitar deixam-me cá ficar. A minha ideia ao principio era passar só dois dias mas como o inesperado acontece, penso que vou cá ficar até fim deste mês. Dizem-me que a minha ajuda é benvinda e que não é por mais uma Pessoa que lhes vai faltar comida ou espaço para dormir. Quando o coração é grande, ou melhor elástico, há sempre espaço para mais um!! Isto Numa altura em que chega um miúdo de 12 anos acompanhado por dois policias e pelos seus pais para falarem com a missioneira responsável de cá. Em conversa com o policia, que estava entusiasmada com a estoria que eu lhe contei da minha viagem por terras latino americanas, foi-me explicando o que se passava. O miúdo, Andres, é de Guayaquil e pertencia a uma pandilha muito perigosa e buscada por toda cidade. Já tinha tentado sair mas era sempre ameaçado e a cada tarefa ou trabalho que lhe davam e não cumpria ou não fazia como eles queriam levava cinco tabuadas, com uma tábua de madeira no traseiro. Este castigo podia ser acumulativo.
Depois de ter visto um crime saiu, fugiu e contou tudo aos pais. Estes sem hesitar falaram com a policia que o protegeu desde então e o trouxe agora aqui para ficar a salvo. A ideia é que o aceitem aqui na escola e a vier na casa de acolhimento, para miúdos sem pais ou com problemas familiares, que a fundação aqui tem. Ao conversar com Andrés dos mais variados temas notava-se o medo entranhado na cara dele, não é caso para menos. Se tudo correr bem para ele e para mim…hei de o ver mais vezes aqui!!

Agora, acabei de subir ao meu quarto e a vista que tenho para o mar é de assombro, um sonho!! Nem nas minhas melhores e mais optimistas previsões quando acordei hoje pensaria vir a dormir num lugar como este. Cama boa quanto baste para descansar, armário e um chuveiro. Tudo o que um homem quer!!
Acabado de cegar tal como eu vem um grupo de voluntários dos Estados Unidos para trabalhar aqui por duas semanas. Vão ser meus companheiros concerteza e vou ter tempo para pôr a prova o meu inglês já quase esquecido no meio da avalanche de espanhol.
O meu propósito de viagem continua não só firme como também renovado e assim continuará até ao fim, é isto que me faz mover. Dar e dar mais é a única maneira de ter e ter mais!!

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