segunda-feira, 10 de março de 2008

PORKTAILS & DREAMS

O tempo corre, o tempo urge e na Ilha do Sol...a vaca muge!! Nestes últimos dias aqui na ilha tivemos um acréscimo de tarefas com todos os caixotes de livros que chegaram para a nova biblioteca. Passámos os recreios a catalogar e agrupá-los ao mesmo tempo que recebíamos inscrições para se tornarem membros da biblioteca, chegavam ás prestações mas iam chegando! A quantidade de livros é tão grande e de tantos lados distintos que me fez perceber melhor que esta ONG - WhyBolivia.org - se dedica de verdade e não faz para que seja só mais uma biblioteca mas que seja uma grande biblioteca e que satisfaça as diferentes necessidades da ilha. Tem apenas um ano e surgiu de forma natural por alguns universitários que já colaboravam com a isla del sol e nomeadamente com a comunidade de Challapampa. É bom que assim seja e pena é daquelas que começam bem mas com o passar dos anos e do dinheiro se vão agrandando e se fazem por esquecer daquilo que os levou a criar a ONG.

Muitas vezes acontece que somos levados pela maré, pela maneira ou pensamento estandardizado que se foi moldando nas sociedades e daí temos mais dificuldades em assumir os nossos compromissos de acordo com os nossos princípios. Claro que é mais fácil seguir as pisadas dos outros em vez de criar as nossas próprias. Acreditemos e assumamos a diferença sempre que para isso tenhamos que ir contra os padrões previamente definidos e até criar um novo. Não há nada mais idiota que nos enganarmos a nós próprios...já basta as pessoas que nos enganam!!
As aulas na escola com a melhor vista do mundo seguiram ao som de vacas, burros e porcos. Com o passar dos dias na ilha fui percebendo porque é que até agora em toda a minha vida tinha visto tão poucos porcos e burros...é óbvio, estavam todos na isla del sol!!
Dia após dia nos fomos tornando verdadeiros professores com improvisos e adaptações conforme as necessidades da classe ao mesmo tempo que nos fomos lembrando dos truques utilizados pelos nossos professores quando os pequenos éramos nós. A sensação de os ver a absorver e aprender o que lhes ensinamos é fascinante!! Timidamente, como os caracteriza, foram indo ao quadro voluntários e semi-voluntários tentando acertar n exercício que se propunha.
Assim nas crianças da escola como nos guias de turismo aos finais da tarde que sem problemas recebiam fichas de exercícios com bonecadas (era o que havia!). A necessidade aguça o engenho e isso faz deles os melhores, mais assíduos e pontuais alunos. E ou as aulas são muito boas ou necessidade de aprender inglês é enorme porque a turma foi crescendo desde que começámos até agora. Prefiro pensar que é pela qualidade das aulas!! Já na aula e quando falavam entre eles, bem que nos podiam chamar todos os nomes porque falavam puro haymara...impossível apanhar!!

Como qualquer grupo de trabalho é necessária adaptação para que a comunicação e o trabalho fluam e sejam assim uma realidade. Não minto, os suecos são muito diferentes de mim. Esta tem sido dos partes em que mais me sinto a aprender e crescer, saber estar e integrar-me em grupos tão diferentes e de forma tão seguida. Aprendo a respeitar as particularidades da personalidade de cada um e se algo não esta bem há que olhar primeiro para nós próprios e buscar o que é e se vale a pena preocupar. Senão, self-controlamonos e seguimos adelante!! Dito assim parece fácil mas a verdade é que não o é, custa. Mas é possível, basta assim optarmos. Pequenos choques de pensamento existiram mas diminuindo esses e agrandando tudo o que de maravilhoso foi passando, tudo se resolve e as coisas menos boas se esquecem. Sorri e o mundo te sorrirá!
Saio da ilha com vontade de lá continuar. de saber como vai estar nos próximos tempos. Alguns bons amigos mas mais que tudo boas conversas que me fizeram ver que há motivação e força de fazer melhor do que o que já há. Vejo o nosso trabalho como uma mãozinha de quem ajuda a dar um salto no trampolim e mostrar-lhes que há mais pescado para além da truta.
Pessoas tímidas que se distanciam naturalmente mas que com tempo e paciência chegam-se perto e me fazem agora ter saudades e um sentimento de pertença a Challapampa.
A experiência de ser professor numa escola num país de 3o mundo e tradutor/guia turístico para além de tocar e ver de perto a pobreza sentida neste tipo de países. Um adeus e agradecimento a um lago e uma ilha que me fizeram sentir útil e dar ainda mais valor e significado a toda a viagem. A mochila pesa agora mais com a passagem por esta ilha...

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