quarta-feira, 30 de abril de 2008

Balsa in Rio


Depois de ir queimando algunas etapas deste processo de desenvolver o turismo comunitario de Madre Tierra e uns talleres de capacitacao para eles…peguei Numa bicicleta emprestada e mandei-me para dentro das comunidades!! Com ja alguns remendos nos pneus e quse sem travoes comecei a descer ate Madre Tierra para passar a ultima semana com quem mais me identifico e me fascina e para alem disso perceber melhor que lugar eh este para que estamos a desenvolver um projecto de turismo. A sensacao de frescura e liberdade por entre arvores, terra e agua a biciclear ah velocidade que estes recursos naturais me deixavam. Tempo tambem para me meter no rio e refrescar do bafo que se fazia sentir. Aos poucos vou perdendo os medos de anacondas, colebras ou serpentes…Sei tambe monde nao me meter para que elas nao me facam uma surpresa. Como em tudo, ha truques e aos poucos vou-os conhecendo.

Ah medida que vou passando de bicicleta os olhos de felicidade das pessoas, ao verem-me de mochila, deitam saludos em forma de gritos…eh um ser novo a entrar na comunidade deles. Os sorrisos espalham-se por todos os cantos…E cegando ah comunidade Amazonas paro e sinto o olhar dos miudos, saido das salas de aula, a abracar-me. O profesor apoia e vem tambem com eles para fora da sala…no meio disto recebo um saco de plastico com duas massarocas de milho ja cozidas, um fruto que nunca o tinha visto mais amarelo e un cacho de oritos (banana em tamanho reducido). O calor, sede e fome que tinha saciaram-se com toda esta recepcao que nao tinha sido encomendada por ninguem. Apareceu apenas porque sim, porque eles sao incrivelmente autenticos!!
Aproveito para me meter no campo de basket e treinar com eles para o torneio entre escolas das diferentes comunidades. Jogava-se com uma bola de futebol e fazia-se de tudo para que entrasse no cesto nao importava de que maneira fosse.

Com o milho a entrar nos buracos do estomago despeco-me de todos, pego na bicicleta e sigo o caminho de terra sem saber qual seria a proxima paragem. Outro campo de futebol aparece-me ah vista e vejo a tableta a dizer Libertad, era o nome da comunidade em que entrava e que com um grito meu de ali puncha (bons dias em quichua) faco quebrar a barreira que pode haver na comunicacao entre um flaco de mochila grande e eles. Nas casas de madeira so encontro mulheres que ficam a cuidar da casa e dos filhos enquanto os maridos vao trabalhar para a trazer comida ao prato da, tradicional, grande familia. A vida destas mulheres comeca cedo como ja tenho vindo a notar e aquí volto a perceber isso com a Joana de 15 anos, casada e de filho nos brazos. Estes tem tendencia a multiplicar-se com o passar dos anos…comida nao lhes ha de faltar enquanto amazonia houver. Pelo caminho e antes de chegar ah comunidade Paushi Yacu mais algunas meninas-mulheres de 16 e 18 anos cuidando das tarefas domesticas com alguns bebes pela casa…
Ja reconhecido pelos miudos e alguns pais de Paushi Yacu sou recebido de bracos abertos por eles todos que estavam em plenas aulas com a maestra Carola. Eh uma figura incontornavel desta comunidade, um ejemplo para mim. Dedica-se totalmente ao ensino e faz com que aprendam, para alem disso eh um expelo pela maneira impecable como se apresenta sempre. No meio de terra, po, bichos, gente descalza ela consegue manter uma figura de rainha e que a faz receber o respeito de todos. Eh facil ganar a admiracao dos mais novos, o difícil eh conseguir-lo com exigencia e bom aproveitamento da grande mayoría.

Ai deixei a mochila e arranjaram-me logo uma sala de aula onde pudesse dormir. Sem ter que avisar ninguem, os miudos tratam disso, recebo atraves de um deles um copo de chicha de chonta (outro fruto) recem cocinado pela mae. Quando acabei ja me estavam a convidar para entrar em casa e ao subir, pela escadaria feita de trocos de arvore, vejo-os apressadamente a arrumar tudo para um canto para que pareca melhor para a visita que era eu. Para mim estava ja divino mas percebo que para eles querem sempre ter o melhor para alguem que eh convidado de fora a entrar em casa deles. E com a recem chegada da filha Marciela que vinha da finca (lugar para onde vao trabalhar seja para colher fruta, cortar arvores ou cacar) com uma cesta minada de fruta. Abrem-me uma papaya fresca e deliciosa!! Os filhos risonhos todos a volta a comerme tambem enquanto a mae preparava um cha medicinal , partindo ramos e folhas para dentro de uma panela bem negra que estava, queimada da fogueira onde habita.

Passo os dias feliz a jogar com eles e aprendendo todos os truques da selva e umas luzes de quichua.. Ah noite ja com o pai dessa familia de volta a casa, convida-me a provar o peixe acabado de trazer do rio. Um caldo de peixe, platano verde cozido e um copo de chicha de yuca. A isto chamo o banquete da vida, aquele que se come e a cada colherada enche-se a barriga e enche-se o coracao! Digo que eh imposible nao ficar saciado…

No dia seguinte levanto-me cedinho com o sol a entrar pelas janelas e os galos a cantarem, saudo a muchachada que entrava para a escola e visto-me para ir trabalhar, com os mais grandes, para a finca. Antes disso juntamo-nos em casa de um deles para tomar o pequeño almoco que mais nao era que chicha de yuca. Aprendi ja a tomar e o primeiro copo foi virado fácilmente, dao-me outro (fiquei a preguntar-se me eles nao me tinham visto que ja tinha tomado) e depois outro mas num pote…e estamos assim preparados para ir trabalhar. Eles de botas e eu de sapatilhas porque os numeros nao vao para alem do 40, disse-lhes que isso era de meninas mas eles nao se importaram e riram-se…
E como so ha uma vida tenho que ter a certeza que a vivo plenamente e ai fui eu meter-me no meio do caminho cheio de lodo e erva donde pareciam habitar todos os tipos de cobras.

Depois de caminharmos muito nessas condicoes paramos num *abrigo* de madeira e ai esticamos o braco para comer uma papaia e seguir caminho pelo trilho desfeito em lodo que nos levaria ate ao rio Pastaza. Ai ja todos juntos de novo e com duas mulheres que vieram, com os filhos as costas, básicamente para cocinar. O rio que corria forte e a ideia era passar para o outro lado numa jangada estreita em que o remo era apenas um pau comprido. Confiei neles que sabem o que fazem…e passamos, aos poucos, para o outro lado.
Com machadoe e uma facas grandes que eles utilisam para desbravar caminho, matar cobras, cocinar, etc…cometamos a cortar arvores para que fique o terreno limpo para para se construir umas casa ai e fazer de terreno de cultivo. As minhas maos mal acostumadas comecaram a rebentar , foi quando fizemos todos uma pausa e…volta-se a fazer uma rodada de chicha (ainda eu arrotava a do pequeño almoco) e depois um shot do sumo fermentado da cana de acucar que eh so 75% alcohol…escusado sera dizer que me estava ja a sentir o Tarzan.
As arvores continuaram a cair como plumas e quando o almoco estava pronto dao-me uma folha grande, duma outra planta, com um par de batatas cozidas e um peixe recem saido do rio que cruzamos. Foi este o menú que adivinharam que eu ia escolher…em plena selva com o que ela nos oferece. E para quem ninguem fique a falar com o estomago serve-se um digestivozinho, pote de chicha. De volta ao trabalho mas agora para plantar yuca por toda a parte…para lhes garantir que chicha nunca vai faltar. Brincavam eles que para terminar o processo teria que voltar aquele lugar em 9 meses para colher o que platei, seria muito bom!! O caminho de volta foi feito da mesma maneira e ao chegar ao centro da comunidade, sem perder tempo e com as mesmas sapatilhas lodeadas, vamos jogar futebol ate que o corpo caia…banho no rio e descanso merecido as 20h que ja se faz escuro e nao ha luz. Ja todo mordido de mosquitos porque nao uso repelente e tampoco tenho vacinas amazonicas, adormeco em cima de duas secretarias de escola tentando assim fugir aos bichos que nao voam.

Na manha seguinte as 6h30 ja estou a acordar com os miudos a tocarem-me ah porta e a quererme falar, mexer e ensimar-me mais quichua…Que bom despertar com as caras felices destes locos ainda com as pinturas mal saidas das caras da ultima apresentacao de dancas tipicas. Vou tomar o pequeño almoco que eh preparado na escola, para todos e enquanto isso admiro a cozinheira que eh todos os dias uma mae diferente que prepara o almoco Numa fogueira ao lado da sala de aula.
Com vontade de passar ali o proximo ano e de me tornar verdadeiro tarzan, despeco-me de todos, aqueles que me fizeram ver este lado puro da vida em que as torneiras que ha correm a agua que a chuva lhes traz. Ja de saida para a Shell, de volta na bicicleta, paro no centro de Madre Tierra e ai fico varias horas para me despedir do grande amigo, Roberto, presidente da junta parroquial e marido de Elvia.
Deixamos as horas chuvosas passar ao som de guitarradas tipicas dele ao mesmo tempo que tomamos shots do sumo fermentado de cana de acucar com raspa da casca de um arvore especial…So existe um momento, o agora. Apenas o que estamos a viver neste segundo eh real. Isto nao significa que vivemos para o momento mas sim no momento e eh por isso que admiro tanto este lugare e seus personagens. Recebem-me como rei e nao o fazem so comigo, fazem-no com todos. Disfrutam do dia tal como ele eh!!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

SORTE ou CAIXA DA COMUNIDADE?!


Não podemos controlar tudo, essa é a realidade. E esses momentos são então definidos pela sorte ou azar de um. Tampoco acredito na sorte pura, a não ser nas slot-machines que podemos ganhar sem saber como. Tudo o resto da sorte que nos acontece, em particular a mim nesta viagem, é construída. Quase todas as nossas qualidades que precisamos para ter sucesso são as que se baseiam na nossa atitude. Com o passar do tempo sou sujeito a uma multiplicidade de escolhas e estas vão depender em muito da informação e instinto que tenho, que é formado por tudo o que sou hoje, agora.

Fui visitar a oficina de turismo de Puyo para juntar toda a informação possível sobre a concorrência para este novo projecto dum circuito de turismo comunitário para Madre Tierra.. Aí em plena conversa com a senhora da oficina e já com toda a informação que necessitava em folhetos e cartões, diz-me que em 2 dias vai a umas cascatas a convite dum grande amigo dela que é guia local indígena (um dos cartões que eu tinha em mãos era desse guia). Fiquei a pensar "que interessante y lindo que deve ser". Diz-me ela que se eu quiser fala com ele e pergunta-lhe se pode levar-me sem ter que pagar nada também. Que bom disse-lhe e fiquei assim de a chamar no dia seguinte para saber se podia ou não ir.

A verdade é que fui para casa a pensar...chego e vejo o cartão desse guia local com a fotografia e dizia "Guia Nacional Shuar". Daí pensei que ir com um guia local e uma menina que me convida assim de repente com dois dedos de conversa...talvez desfrutasse mais ir jogar futebol com os meus amigos da Shell porque não me cheirou tão bem como queria que me cheirasse. Acabei por nem voltar a ligar para ela para saber se podia ou não ir com eles. Dois dias mais tarde quando voltei a almoçar com os meus vizinhos, que pertencem á comunidade Shuar e que me tinham contado isto tudo das cabeças, contentemente contei-lhes disto que me passou, que era para ter ido visitar as cascatas com um guia Shuar. A cara dele foi expressiva o suficiente, disseram-me "Panchito, que medo! Que bom que estás aqui...tem cuidado!!". Disseram-me que esse guia é um dos homens mais buscados a par do irmão dele que igual se vende como guia turístico. A descrição da Mónica e sua família correspondia totalmente à fotografia que aparecia no cartão que tinha em casa. A policia busca-os e tenta apanhar em flagrante para ter provas. A rede é muito grande e difícil de os biscara todos.
Tive a sorte de a menina da oficina de turismo não ser Rainha ou Miss de qualquer lado porque senão creio que teria sido difícil eu não voltar a telefonar...
Neste mesmo dia, a sentir-me o homem-iluminado do momento, fomos fazer uma sessão de fotografias pelos possíveis pontos de paragem do circuito de turismo de Madre Tierra. Desta maneira conhecemos todas as riquezas deste lugar. Ver todo o processo da caña de açúcar para daí sacar o açúcar como se fosse marmelada, as mil e uma artesanais até com cabeças de serpente. E mais que ver é sentir as comunidades e alguma revolta de promessas não cumpridas por parte de políticos que os fizeram bailar, cozinhar do melhor e receber em suas casas e mais tarde não vem ajuda nenhuma, simplesmente fotografias de filhos e família espalhadas por revistas de turismo de outras cidades da Amazónia ou até associados a outras comunidades diferentes daquela a que pertencem. Antes de profissional há que ser humano!

O dia estava já quase a terminar quando chegámos. A caminho de casa, estava sujo, descalço e com um cheiro atípico mas poucos metros antes de chegar vi que o pavilhão local da Shell (recebe os mortos, casamentos e baptizados) ia ter uma festa de casamento...Fui a casa vestir-me o melhor que pude e...furei!! Sentado a jantar e a beber com os meus novos amigos, bailando e sacando fotografias ao noivos. Com jogos de solteiros e casados...uma risota!! Já no final, cansado, e depois de ter provado o bolo de casamento, que parecia um castelo gigante com viadutos e repuxos pelo meio, saco do recuerdo que foi dado a todos os "convidados" e que já estava no meu bolso e vejo " Carlos e Tatiana"..."muito bem, Carlos, gracias por todo, muchas felicidades para ustedes"...e o noivo não me deixava sair, dizia para me sentar e enchia-me o copo como se fossemos amigos de sempre. Desperdiçamos o dia em que não nos rimos pelo menos uma vez e esta noite acho que valeu já para toda a semana!!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

HEADBEATS


Longe Vai o tempo em que eu era mais pequeño e nao dava espaco a que pessoas com ideias diferentes das minhas me falassem ao ouvido e muito menos as deixava tentar chegar ao coracao. Tenho aproveitado muito esta familia com quem estou a viver. A oportunidade que me foi dada de compartir com eles a mesma casa, o mesmo tacho e admirar a uniao que há e a necessidade de pertenca que é saciada com a dedicacao de cada um deles seja nas horas de trabalho e chega a casa seja na multiplicacao da personagem Pai para alcansar todas as coisas importantes e fundamentais para a familia viver bem e feliz. Isto consegue-se fácilmente pondo amor em tudo. Tudo parece simples e realizable…

Aos domingos acompanho-os á igreja/templo evangélico que para além de palavras inteligentes que sao proferidas é todo um momento de familia. Musica que parece acustica de um concerto dando ganas de me meter no meio a bailar…e momentos mais tranquilos de saber ouvir bons conselhos. Nao concordo com tudo mas absorvo o que para mim é importante e o resto deixo passar. Eu, como todos os novos que lá aparecem, tive directo a uma apresentacao diante de todos com saludos e tudo…confesso, senti-me dentro dum grupo anónimo de qualquer coisa!!

Por outro lado tenho acompañado um padre católico ás comunidades mais indígenas de Madre Tierra. O trabalho que ele faz é variado mas sempre com a tentativa de melhorar e ampliar a visao dos mais pequenos seja com jogos de gincanas seja atraves de musicas que ele, pobrecito, vai tentando cantar ou tocar com o melhor ritmo que encontra dentro de si. Eu, tento ir alimentando-me da vida das comunidades para assim ganar ideias e novo fölego para trabalhar o projecto de turismo comunitario para essa terra. A alegria deles é absolutamente contagiante a todos, sorrisao na cara sem limites. O mais cómico aquí é que até os gelados que eles comem sao bananas. Uma banana espeta num pau e coberta de chocolate, super!!

Á saída das comunidades de Madre Tierra para voltar á Shell, a carrinha caixa-aberta parace um verdadeiro metro em hora de Ponta…por onde vai passando vao-se agregando pessoas e mais pessoas, correm e saem de todas as partes dos arbustos. Fica repleta de pessoas e estas vao saltando á medida que chegam ao seu destino no meio da selva. Numa destas viagens, á conversa com um amigo pendura disse-me que tinha que ir a Puyo comprar um martelo para continuar a construir a casa de madeira (pronta em 7dias) para a sua familia. Enquanto tava a construir perdeu o martelo no meio da selva e entao tinha agora que fazer esta viagem de 1 hora para ir a puyo e assim poder continuar o seu trabalho.

Mais uma licao de cómo o tempo é relativo. Queremos, quase sempre, të-lo sentadinho na nossa mao e controlar tudo e depois nao sabemos o que fazer com ele ou o utilisamos da pior maneira. Deixemo-lo correr libremente e corramos nós libremente com ele!!

As prometidas e movidas aulas de teatro continuam mas estao a perder iluminacao…O sucesso depende quase somente de mim mas a parte que nao depende de mim é a que nao posso controlar, depende dos alunos. Com as festas de Mera pelo meio e a vida tranquila sem preocupacoes e com poucas responsabilidades fez com que tenham vindo a quebrar estas classes. A minha vontade de pegar neles e lhes ensinar o que sei continua firme porque mais que apenas aulas sao momentos de pura evasao e ejercicios que nos ajudam a perder certos medos e vergonhas infantis, que na mayor parte das vezes nao sabemos porque as temos. Aprendi e ajudou-me muito quando fiz o curso de teatro em Portugal e por isso tenho ganas de passar para que possa ajudar a outros também e…especialmente aquí a estes moglis da selva!!

O “show time” the ingles vai muito bem e prometendo cada vez mais, o numero de presencas vai aumentando e só isso já é um incentivo muito grande para que continue buscando as melhores maneiras de lhes ensinar para que aprendam rápido. Num destes dias conheci um muchacho e uma muchacha voluntários, da Dinamarca, que estao a ensinar ingles numa escola de uma das comunidades de Madre Tierra. A conversar com eles para sacar ideias novas para mim, contaram-me que estavam ali a través dum programa especial de voluntariado do país deles que os mandou para outra organizacao do Ecuador e daí os enviaram para a Amazonia a viver com uma familia e dar aulas de ingles. Tudo lindo com o unico senao de terem de pagar 360 dólares/mës cada um. Este é já um ordenado razoável aquí no Ecuador e ao mesmo tempo o preco que determinadas pessoas estao despostas a pagar para ter certas experiencias. As ONG’s manhosas agradecem e vao continuar a enriquecer os bolsos enquanto houver gente disponivel para os encher. Para mim tudo nao passa de falta de confianca dos que pagam. Nao tem obligatoriamente que o fazer, se tivessem menos medo e confiassem mais…nao haveria organiozacoes, aparentemente bonitas, a chuparem plata.
Como diz Tony Melendez: “diceme yo quiero, yo puedo, yo voy…moverme para adelante!!”


Entretanto os cacadores de cabecas de quem eu falei que andavam a espalhar o terror pela Amazonia, principalmente pelas comunidades Shuar, , afinal nao se dedicam somente ás mulheres e tampoco a indígenas. Tratam todos por igual. Aconteceu com dois italianos o ano passado que visitavam a amazonia com um grupo mas que ao caminarem com eles perderam-se e…má sorte, foram ca}os por estes terroristas e o resto já se sabe!! Difícil de entender estes homens mas talvez haja uma pequena explicacao para isso. Tao pequena como o tamanho a que reduziam as cabecas dos familiares mortos atraves dum aquecimento especial que faziam dentro das comunidades. Estas tradicao dos Shuar é apenas uma pequenísima ponta de explicacao para o que está a passar na amazonia mas que mais nao faz que apenas matar a alguna curiosidade.

Depois de saber tudo isto…acho que vou passar a andar com cara-de-morto para que se acreditem que já nao sirvo!


quinta-feira, 17 de abril de 2008

Vai Mera...

Aí está, Mera ao rubro!! Para se entender melhor que papel ocupa este lugar, temos:
Provincia – Cidade – Canton – Parroquia
Pastaza é a província, uma das cidades é Puyo dentro desta existe Mera que é um dos Cantones e Shell que é uma das muitas paroquias que pertence a este Canton.
São as festas de Mera (10min da Shell de bus) com desfiles, concertos, eleição da Rainha, jugos autóctones e muitos vendedores ambulantes de fruta…
Já fui a muitas festas em diferentes terras de Portugal mas nunca assim. Que dedicação e que interesse de toda a populacho de olhos postos nestas celebraçoes.
A abertura foi feita com um desfile de diferentes grupos apresentando coreografias e trajes muito próprios. Foram desde alunos das escolinhas, militares passando ainda pelo grupo de damas de Mera…mais pareciam jogadoras de cartas.


A eleição da rainha de Mera foi um dos momentos mais esperados, por mim e por todos!! Ver desfilarem em trajes finos e em trajes selvagens próprios da Amazónia…admiro-as pela coragem e audácia de se porem assim de frente de todos e deixarem-se ser observadas e avaliadas pelos demais. O apresentador, esse grande senhor, falava tão forte e com tanta firmeza que mais parecia um candidato ao lugar de Perfecto do canton. Por momentos pensei estar numa festa de campanha dum qualquer partido politico. Escutar para acreditar!!



Outro dos pontos altos destas festas foram os jogos autóctones dirigido pela minha amiga Elvia e outros tantos de sua família de Madre Tierra. Subir e descer uma árvore totalmente besuntada de óleo, aguentar o máximo tempo debaixo de água no rio (supus que se algum tivesse a sorte de ser comido por uma anaconda já ganhava porque seguro que não voltaria tão cedo á tona de água) e beber um pote com chicha o mais rápido possível. E como “pancho entra, não sabe inventa” aí fui eu a jogar esse de tomar chicha. É uma bebida quase da mesma cor que o leite feita a partir de yuca (planta) raspada e aplastada (tradicionalmente esta parte é feita dentro da boca de quem a prepara). É muito alimentício, bem mais que o leite…e por isso enche a panca!! Quando chegou a minha vez, depois de um nativo ter feito 15 segundo (para mim foi magia) deram-me o pote, olhei e senti que tinha nas mãos uma banheira e que tinha que beber tudo aquilo sozinho e sem parar…Ganhei o carinho das pessoas e uma aproximação maior delas. O prémio final, esse claro, foi para o loco dos 15 segundos!!



segunda-feira, 14 de abril de 2008

NO WOMAN NO CRY

Neste lugar em que tudo me parece maravilhoso tem também gente que sofre e gente que faz sofrer. As mulheres são o maior exemplo de alguma dureza de vida que se sente deste lado.
A começar pelos casamentos que se dão ainda em idade teenager ou por estarem já gravidas ou porque o namorado quer ter a certeza de que fica come la ou até por imposicäo dos pais que lhes garantem que encontraram o marido ideal para a filha e assim se casam. Isto passou-se com todas as 8 irmãs da Elvia (Madre Tierra) menos com ela que, para fugir a essa pressão e dureza dos pais, se foi ainda em idade prematura viver com os padrinhos. Uma destas suas irmãs casou-se aos 12 anos unicamente por imposição dos pais, conheceu o homem com que se ia casar dias antes do casamento.
Custa ver isto e mais ainda ver uma miúda de 11anos á espera do bebé. Pode-se dizer que aqui um casamento aos 15 ou 16 anos é o mais normal e assim não é difícil perceber que…daqui não levo nada!!

Não Quero com isto dizer que anos mais tarde se separem, é muito raro isso acontecer a pesar de muitas vezes saberem que não estão sós nesta relação e que há mais mulheres ao mesmo tempo, para alem delas. Preferem resguardar os filos e família e tentar lutar para que o marido fique só com uma. Isto tem um ponto muito contrastante e outro muito próximo com aquilo que vemos nos dias de hoje em que casais se separam por tudo e por nada pondo de lado a unidade da família e o ponto de coincidência é o facto de casarem sem saberem muito bem o que estão a fazer, casam-se porque sim!!
Em conversa com a minha vizinha Mónica, convidou-me a comer frango com batatas e sumo de avena, falava-me do coração, da luta que foi para que o marido deixasse as outras que tinha e ficasse só com ela e que a respeitasse mais. Fica a cuidar da casa como a maioria das mulheres e tem duas crianças lindas: Ismael e Jefferson. Este ultimo não é dela, estava perdido depois de uma aventura do marido com outra mulher. Esta situação é muito comum por estes lados da Amazónia e faz com que haja muitos miúdos abandonados por todas as partes. Os maridos por cada sitio por onde passam deixam filos e não querem saber deles. Era o que ia passar com Jefferson se Mónica não aceitasse cuidar dele. Apesar da dureza e indiferença do marido, levou á frente tudo e cuida do “filho-aventura” dele.
Tudo isto me custa ainda mais a aceitar por serem mulheres lindas, cheias de raça e muito dedicadas em tudo o que fazem…com maridos, quase todos, verdadeiros machistas. Dá-me vontade de as levar para o meu país e apresentar-las aos amigos que aí tenho e em quem confio a minha vida.

Ainda em casa da vizinha contava-me da luta e pânico que se está a viver mais adentro da selva amazónica principalmente nas comunidades “shuar”. Indígenas amigos de gringos buscam mulheres indígenas para lhes cortar a cabeça e sacar alguns orgäos vendendo de imediato por uma quantia exorbitante a imbecis gringos, velhos e sem saber o que fazer ao dinheiro. Dizem que as cabeças indígenas estão repletas de inteligência. Poderia pensar que tudo isto eram apenas histórias e legendas que se contavam se a vizinha não me tivesse dito de pronto que a cunhada dela de 19 anos tinha morrido 3 meses trás dessa maneira. Sinistros todos os relatos que me contaram incluindo gente que fugia desesperada desses homens em plena selva amazónica. Mulheres lindas, puras e inofensivas…não tem a culpa de terem nascido assim. Se eu fosse a levar alguma coisa, levaria a mulher no seu todo e punha-a num altar!!

O mais intrigante é pensar para que querem os indígenas tanta plata, que fazem eles com ela? Vão comprar mais madeira, necessitam de um jacto privado?! É como dar um Ferrari de verdade a um bebé…o que fará com ele? Provavelmente aproveita-o como penico e faz chi-chi dentro. Podem ir destruindo vidas mas a cabeça deles é a que fica mais comida de todas…pelo dinheiro! Será que a vida de uma Pessoa tem valor monetário…estou seguro de que não, independentemente seja ela boa ou má pessoa.

Sou a favor da valorização da mulher como ser humano que é. Pela beleza que tantas alegrias nos dá, pela inteligência e companhia que nos faz ver mais, te ruma abertura mais ampla. Quem, como estes homens-animais, preserva o individualismo torna-se especial por dentro e comum por fora. Gostava de me sentar com uns deles e passar uma tarde a rir, contar anedotas e a fazer caretas…Todos os homens tem coração o que acontece é que uns estão menos habituados a utilizar-lo…há que estimular!!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Nem tudo é banana!!


Descanso é o trabalho que se faz sem qualquer imposição e é por isso que me sinto verdadeiramente tranquilo com aquilo que aqui tenho feito, porque me encanta.
A semana passa muito rápido com as aulas de teatro e inglês da parte da tarde e trabalhar para desenvolver o turismo comunitário, maioritariamente na parte da manhã, mas é já um trabalho sem hora fixa. Ao fim da tarde tento não deixar escapar um jogo de basket, futebol ou mesmo ecuavoley, a ideia é mesmo transpirar um pouco que seja e ir para a ducha gelada com menos medo da água…
O ecuavoley é uma modalidade de cá muito parecida com o voley normal, quem vê pensa que é apenas um jogo de voley mas mal jogado cheio de faltas. A diferença é que a rede é mais estreita e parece-me mais alta, joga-se com uma bola de futebol e tudo o que no voley normal se chama transporte aqui é valido…assim fui percebendo quando ao principio jogava com cuidado para não fazer faltas e passar bem a bola e eles o faziam de qualquer maneira …e me gozavam!! Agora já me posso considerar um jogador de ecuavoley!!

As aulas de teatro estão a ir muito bem e a experiência vai crescendo á medida que os vejo a esforçarem-se por se soltarem e deixarem-se de mariquices e vergonhas que tão normal é ao principio. A competitividade bem canalizada faz deles uma turma cheia de talento. As aulas de apoio de inglês são um pouco mais difíceis porque o nível deles é muito variado tal como as idades, vai desde pessoas que tem já muito vocabulário ate aos que nem soletrar um “I am” conseguem. Com alguma dificuldade mas com muita vontade tento adoptar alguns jugos ao inglês para que chegue a todos e lhes seja assim fácil aprender e absorver palavras e frase úteis. Consciente das minhas limitacöes mas ao mesmo tempo sei que como ser social não estamos sós neste mundo e pedir ajuda a quem sabe é legitimo e só pode trazer vantagens e mais solucöes…Os alunos que tenho comigo são de diferentes idades níveis familiares mas todos amazónicos, dos que brincam com todo o tipo de bichos em cada recreio que tem…só não sei se os comem a seguir!!

Aos poucos vou conhecendo esta realidade amazónica. Tive a sorte de poder conhecer algumas comunidades mais a dentro em algumas visitas de “trabalho” que fizemos para nos dar bases de informacöes que precisamos para desenvolver um plano de turismo. Entramos com um plano de marketing para nos ajudar a perceber as necessidades e por donde deve incidir esta opção de turismo comunitário. Este documento vai servir ao mesmo tempo para que comecemos a fazer pedidos de fundos monetários para assim poder implementar as propostas de turismo que vai passar seguramente por um circuito turístico pelas diferentes comunidades de Madre Tierra aproveitando o que de melhor há em cada uma. As pessoas que aí vivem não tem grandes fontes de rendimento e isto vai assim ajudar-los a tapar algumas dificuldades que tem, são verdadeiros McGuyvers da selva aproveitando tudo o que a mãe natureza lhes dá, comem de tudo. Nesta parte de comer devem ter algumas regras mas para quem, como eu, não as conhece vê-os como loucos!!

E num destes dias fui á feira semanal que aqui há na cidade de Puyo (10min. de bus) onde se juntam todas as pessoas das diferentes comunidades e com tudo o que tem para vender como ovelhas, coelhos, galinhas, roupa usada, fruta aos magotes, canas de acucar, panelas e muito muito mais…Enfim, de tudo um pouco mas o mais raro aconteceu quando vi a vendedora de lagartas (parecem de pinheiro) a que eles chamam buzanos. Aí estavam elas vivinhas e moviam-se como lagartas que são em cima de alguma palha que a senhorita tinha num balde. Não entendi que sentido tinha aquilo para ser vendido porque se eu tivesse uma a subir-me pelas calcas dava-lhe um chuto para que se vá para longe…Diz-me então a senhora que se comem e por isso as vende. Não me acreditei e ela para o demonstrar…toca de escolher a melhor (para mim eras todas igualmente feias) e zuuuuca…mete-a na boca cortando com os dentes da frente a cabeça, come-a tranquilamente como se de um chocolate se tratasse. Vale absolutamente tudo!! Ainda não a provei mas vou querer antes de sair de cá. Quanto ás formigas gigantes produzidas durante todo o ano em espécie de cativeiro, para crescerem, para depois em Dezembro as comerem fritas…que pena, já não vou estar cá para provar!!

A minha alimentacäo aqui é de facto variada e muito rica e o mais divertido é que aprendi que nem tudo é banana!! Aquilo a que eu via em forma de banana nem sempre o é…chama-se também Plátano e este divide-se em Verde e Maduro e cozinha-se para se comer. Como-o quase a todas as refeicöes como acompanhamento. Frita-se um pouquito, sal e está pronto!! Isto e os sumos de fruta são tão constantes no meu dia-a-dia como sol e chuva neste lugar onde os caixotes de lixo levam tempo para ficarem cheios…todo se come e aproveita!!

domingo, 6 de abril de 2008

5a MARAVILHA DO (MEU) MUNDO: AMAZONIA ECUATORIANA


Impossível ficar indiferente…
Passam por mim varias pessoas com uma tshirt que diz “yo si, soy Amazónico”, sentem orgulho, vestem a camisola e não é difícil perceber porquê!!

São as pessoas daqui uma das principias razoes que me levam a considerar este lugar como maravilhoso. Amáveis em toda a parte e nota-se que estão ainda em estado puro, autentico sem serem afectados pela ganancia do turismo. O lugar já é lindo é verdade mas estas pessoas fazem dele um lugar maravilhoso!!
Agora imaginem um lugar paradisíaco como esta Amazónia e pessoas do mais hospitaleiro que pode haver. Fruta por toda a parte, basta dar umas pauladas na árvore e caem mil frutos deliciosos que nunca tinha visto em toda a minha vida. Caminha-se um bocado mais para dentro e dão-nos a provar de tudo um pouco desde a típica bebida “chicha” - feita de yuca (planta) que se raspa e se aplasta com um pouco de agua e o resultado é uma espécie de leite mas que alimenta e enche ainda mais – até aos típicos sumos de fruta rara como el zapallo ou el caimito.

Natureza em bruto, zonas de selva virgem com animais de nos fazerem subir á lua como a anaconda, jibóia ou alguns tigrecitos mas que ao mesmo tempo demonstra-nos uma total liberdade tanto dos animais como das pessoas que vivem bem com eles por perto.
E como estamos cá a trabalhar tivemos o privilégio de fazer uma espécie de tour pelas várias comunidades da parroquia de Madre Tierra conhecendo assim as artesanais e mais que tudo a maneira artesanal como vivem…felizes claro!!
Cozinham a lenha e utilizam tudo o que lhes é dado pela natureza como frutas, madeiras e plantas que servem para construir cabanas, cozinhar e ainda algumas das plantas tem utilidade medicinal. Do mesmo modo não desperdiçam um animal que seja…
Aproveita o que tens e encontrarás o que te faz falta…asi es!!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

SHELL, PODE ABASTECER!!


Confesso que ao principio, quando me disseram o nome do lugar, achei que estavam a gozar comigo. Quando cá cheguei, confirmou-se tudo o que me foi dito. Tem o nome da gasolineira porque eles chegaram cá por volta de 1940 e instalaram-se na Amazónia, sabia-se já que o Ecuador era rico em petróleo.
O monumento deste lugar (pequenos lugares como este tem o nome de Paroquia) retrata a forma como a Shell chegava ás comunidades: uma avioneta em cima de uma torre petrolera.
Esta era a única maneira de chegar ás diferentes comunidades porque não havia estrada ou qualquer outro tipo de caminho. Hoje em dia já há algumas estradas de terra e por isso os produtos e globalização tocam já de distintas maneiras várias comunidades da Amazónia. Com este nome é que não há muita gente que simpatize mas é o que há e o processo de mudança de nome está apenas no ar…

Este é o principio da Amazónia, muito perto da cidade de Puyo, pertence á província de Pastaza. É um lugar civilizado, não estou a viver propriamente no meio das tribos indígenas (tampoco estou muito longe) que no passado mataram um grupo de missioneiros que ai quiseram penetrar e essas mesmas tribos hoje em dia dificultam em muito o trabalho das empresas petroleras fazendo exigências.
No entanto das pessoas que vivem aqui na Shell já se nota os rasgos amazónicos e pela vegetação e clima percebo que independentemente da parte em que esteja, isto é Amazónia!! Caminho de tshirt e calções faca chuva ou faca sol, o calor é uma constante!!
No meio destas voltas foi curioso ver que grande parte das escolas aqui na Amazónia são bilingues: espanhol e quechua. Desenvolvem-se mas não perdem as origens que tanto valor tem nos dias que correm…num mundo que nos quer fazer querer que a standardizacao dos pensamentos e culturas é o correcto.

Estou a viver com a família Rueda que é de cá e foi atraves da figura Pai, presidente do CONAJUPARE – Consejo Nacional de Juntas Paroquiales de Ecuador, que aqui vim parar. Este primeiros dias tem sido de aterragem para conhecer o lugar e aproveitar para promover o que aqui vamos fazer ora com cartazes para os workshops de teatro e inglês ora com entrevistas para rádios e televisão local. E desta maneira vou travando contacto com diferentes pessoas e apercebendo-me em que lugar estou e que realidade vivem aqui para que, em parceria com a francesa Chloe, façamos algo pelo turismo comunitário…que é praticamente inexistente.

Esta família é de facto incrivelmente boa! Atenciosos ao máximo, coração bem grande a aberto e para alem disso a Mãe cozinha que é uma coisa assombrosa (de bom).
A maneira pastorizada como vivem e está decorada a casa é muito interessante porque tudo rola em volta dessa pastorizaçao seja na musica que se escuta, nos quadros que se vê na parede o unas pequenas inscrições de “Jesus Te Ama” espalhadas pelos diversos recantos da casa. É de facto verdade, ama-me e brinda-me com uma família assim que apesar de um pouco diferente de mim, percebo que somos ao mesmo tempo parecidos e remamos para o mesmo lado. A receita para amar é uma e todos a conhecem independentemente daquilo que digam que são ou pensam…