sexta-feira, 25 de abril de 2008

SORTE ou CAIXA DA COMUNIDADE?!


Não podemos controlar tudo, essa é a realidade. E esses momentos são então definidos pela sorte ou azar de um. Tampoco acredito na sorte pura, a não ser nas slot-machines que podemos ganhar sem saber como. Tudo o resto da sorte que nos acontece, em particular a mim nesta viagem, é construída. Quase todas as nossas qualidades que precisamos para ter sucesso são as que se baseiam na nossa atitude. Com o passar do tempo sou sujeito a uma multiplicidade de escolhas e estas vão depender em muito da informação e instinto que tenho, que é formado por tudo o que sou hoje, agora.

Fui visitar a oficina de turismo de Puyo para juntar toda a informação possível sobre a concorrência para este novo projecto dum circuito de turismo comunitário para Madre Tierra.. Aí em plena conversa com a senhora da oficina e já com toda a informação que necessitava em folhetos e cartões, diz-me que em 2 dias vai a umas cascatas a convite dum grande amigo dela que é guia local indígena (um dos cartões que eu tinha em mãos era desse guia). Fiquei a pensar "que interessante y lindo que deve ser". Diz-me ela que se eu quiser fala com ele e pergunta-lhe se pode levar-me sem ter que pagar nada também. Que bom disse-lhe e fiquei assim de a chamar no dia seguinte para saber se podia ou não ir.

A verdade é que fui para casa a pensar...chego e vejo o cartão desse guia local com a fotografia e dizia "Guia Nacional Shuar". Daí pensei que ir com um guia local e uma menina que me convida assim de repente com dois dedos de conversa...talvez desfrutasse mais ir jogar futebol com os meus amigos da Shell porque não me cheirou tão bem como queria que me cheirasse. Acabei por nem voltar a ligar para ela para saber se podia ou não ir com eles. Dois dias mais tarde quando voltei a almoçar com os meus vizinhos, que pertencem á comunidade Shuar e que me tinham contado isto tudo das cabeças, contentemente contei-lhes disto que me passou, que era para ter ido visitar as cascatas com um guia Shuar. A cara dele foi expressiva o suficiente, disseram-me "Panchito, que medo! Que bom que estás aqui...tem cuidado!!". Disseram-me que esse guia é um dos homens mais buscados a par do irmão dele que igual se vende como guia turístico. A descrição da Mónica e sua família correspondia totalmente à fotografia que aparecia no cartão que tinha em casa. A policia busca-os e tenta apanhar em flagrante para ter provas. A rede é muito grande e difícil de os biscara todos.
Tive a sorte de a menina da oficina de turismo não ser Rainha ou Miss de qualquer lado porque senão creio que teria sido difícil eu não voltar a telefonar...
Neste mesmo dia, a sentir-me o homem-iluminado do momento, fomos fazer uma sessão de fotografias pelos possíveis pontos de paragem do circuito de turismo de Madre Tierra. Desta maneira conhecemos todas as riquezas deste lugar. Ver todo o processo da caña de açúcar para daí sacar o açúcar como se fosse marmelada, as mil e uma artesanais até com cabeças de serpente. E mais que ver é sentir as comunidades e alguma revolta de promessas não cumpridas por parte de políticos que os fizeram bailar, cozinhar do melhor e receber em suas casas e mais tarde não vem ajuda nenhuma, simplesmente fotografias de filhos e família espalhadas por revistas de turismo de outras cidades da Amazónia ou até associados a outras comunidades diferentes daquela a que pertencem. Antes de profissional há que ser humano!

O dia estava já quase a terminar quando chegámos. A caminho de casa, estava sujo, descalço e com um cheiro atípico mas poucos metros antes de chegar vi que o pavilhão local da Shell (recebe os mortos, casamentos e baptizados) ia ter uma festa de casamento...Fui a casa vestir-me o melhor que pude e...furei!! Sentado a jantar e a beber com os meus novos amigos, bailando e sacando fotografias ao noivos. Com jogos de solteiros e casados...uma risota!! Já no final, cansado, e depois de ter provado o bolo de casamento, que parecia um castelo gigante com viadutos e repuxos pelo meio, saco do recuerdo que foi dado a todos os "convidados" e que já estava no meu bolso e vejo " Carlos e Tatiana"..."muito bem, Carlos, gracias por todo, muchas felicidades para ustedes"...e o noivo não me deixava sair, dizia para me sentar e enchia-me o copo como se fossemos amigos de sempre. Desperdiçamos o dia em que não nos rimos pelo menos uma vez e esta noite acho que valeu já para toda a semana!!

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