quarta-feira, 30 de abril de 2008

Balsa in Rio


Depois de ir queimando algunas etapas deste processo de desenvolver o turismo comunitario de Madre Tierra e uns talleres de capacitacao para eles…peguei Numa bicicleta emprestada e mandei-me para dentro das comunidades!! Com ja alguns remendos nos pneus e quse sem travoes comecei a descer ate Madre Tierra para passar a ultima semana com quem mais me identifico e me fascina e para alem disso perceber melhor que lugar eh este para que estamos a desenvolver um projecto de turismo. A sensacao de frescura e liberdade por entre arvores, terra e agua a biciclear ah velocidade que estes recursos naturais me deixavam. Tempo tambem para me meter no rio e refrescar do bafo que se fazia sentir. Aos poucos vou perdendo os medos de anacondas, colebras ou serpentes…Sei tambe monde nao me meter para que elas nao me facam uma surpresa. Como em tudo, ha truques e aos poucos vou-os conhecendo.

Ah medida que vou passando de bicicleta os olhos de felicidade das pessoas, ao verem-me de mochila, deitam saludos em forma de gritos…eh um ser novo a entrar na comunidade deles. Os sorrisos espalham-se por todos os cantos…E cegando ah comunidade Amazonas paro e sinto o olhar dos miudos, saido das salas de aula, a abracar-me. O profesor apoia e vem tambem com eles para fora da sala…no meio disto recebo um saco de plastico com duas massarocas de milho ja cozidas, um fruto que nunca o tinha visto mais amarelo e un cacho de oritos (banana em tamanho reducido). O calor, sede e fome que tinha saciaram-se com toda esta recepcao que nao tinha sido encomendada por ninguem. Apareceu apenas porque sim, porque eles sao incrivelmente autenticos!!
Aproveito para me meter no campo de basket e treinar com eles para o torneio entre escolas das diferentes comunidades. Jogava-se com uma bola de futebol e fazia-se de tudo para que entrasse no cesto nao importava de que maneira fosse.

Com o milho a entrar nos buracos do estomago despeco-me de todos, pego na bicicleta e sigo o caminho de terra sem saber qual seria a proxima paragem. Outro campo de futebol aparece-me ah vista e vejo a tableta a dizer Libertad, era o nome da comunidade em que entrava e que com um grito meu de ali puncha (bons dias em quichua) faco quebrar a barreira que pode haver na comunicacao entre um flaco de mochila grande e eles. Nas casas de madeira so encontro mulheres que ficam a cuidar da casa e dos filhos enquanto os maridos vao trabalhar para a trazer comida ao prato da, tradicional, grande familia. A vida destas mulheres comeca cedo como ja tenho vindo a notar e aquí volto a perceber isso com a Joana de 15 anos, casada e de filho nos brazos. Estes tem tendencia a multiplicar-se com o passar dos anos…comida nao lhes ha de faltar enquanto amazonia houver. Pelo caminho e antes de chegar ah comunidade Paushi Yacu mais algunas meninas-mulheres de 16 e 18 anos cuidando das tarefas domesticas com alguns bebes pela casa…
Ja reconhecido pelos miudos e alguns pais de Paushi Yacu sou recebido de bracos abertos por eles todos que estavam em plenas aulas com a maestra Carola. Eh uma figura incontornavel desta comunidade, um ejemplo para mim. Dedica-se totalmente ao ensino e faz com que aprendam, para alem disso eh um expelo pela maneira impecable como se apresenta sempre. No meio de terra, po, bichos, gente descalza ela consegue manter uma figura de rainha e que a faz receber o respeito de todos. Eh facil ganar a admiracao dos mais novos, o difícil eh conseguir-lo com exigencia e bom aproveitamento da grande mayoría.

Ai deixei a mochila e arranjaram-me logo uma sala de aula onde pudesse dormir. Sem ter que avisar ninguem, os miudos tratam disso, recebo atraves de um deles um copo de chicha de chonta (outro fruto) recem cocinado pela mae. Quando acabei ja me estavam a convidar para entrar em casa e ao subir, pela escadaria feita de trocos de arvore, vejo-os apressadamente a arrumar tudo para um canto para que pareca melhor para a visita que era eu. Para mim estava ja divino mas percebo que para eles querem sempre ter o melhor para alguem que eh convidado de fora a entrar em casa deles. E com a recem chegada da filha Marciela que vinha da finca (lugar para onde vao trabalhar seja para colher fruta, cortar arvores ou cacar) com uma cesta minada de fruta. Abrem-me uma papaya fresca e deliciosa!! Os filhos risonhos todos a volta a comerme tambem enquanto a mae preparava um cha medicinal , partindo ramos e folhas para dentro de uma panela bem negra que estava, queimada da fogueira onde habita.

Passo os dias feliz a jogar com eles e aprendendo todos os truques da selva e umas luzes de quichua.. Ah noite ja com o pai dessa familia de volta a casa, convida-me a provar o peixe acabado de trazer do rio. Um caldo de peixe, platano verde cozido e um copo de chicha de yuca. A isto chamo o banquete da vida, aquele que se come e a cada colherada enche-se a barriga e enche-se o coracao! Digo que eh imposible nao ficar saciado…

No dia seguinte levanto-me cedinho com o sol a entrar pelas janelas e os galos a cantarem, saudo a muchachada que entrava para a escola e visto-me para ir trabalhar, com os mais grandes, para a finca. Antes disso juntamo-nos em casa de um deles para tomar o pequeño almoco que mais nao era que chicha de yuca. Aprendi ja a tomar e o primeiro copo foi virado fácilmente, dao-me outro (fiquei a preguntar-se me eles nao me tinham visto que ja tinha tomado) e depois outro mas num pote…e estamos assim preparados para ir trabalhar. Eles de botas e eu de sapatilhas porque os numeros nao vao para alem do 40, disse-lhes que isso era de meninas mas eles nao se importaram e riram-se…
E como so ha uma vida tenho que ter a certeza que a vivo plenamente e ai fui eu meter-me no meio do caminho cheio de lodo e erva donde pareciam habitar todos os tipos de cobras.

Depois de caminharmos muito nessas condicoes paramos num *abrigo* de madeira e ai esticamos o braco para comer uma papaia e seguir caminho pelo trilho desfeito em lodo que nos levaria ate ao rio Pastaza. Ai ja todos juntos de novo e com duas mulheres que vieram, com os filhos as costas, básicamente para cocinar. O rio que corria forte e a ideia era passar para o outro lado numa jangada estreita em que o remo era apenas um pau comprido. Confiei neles que sabem o que fazem…e passamos, aos poucos, para o outro lado.
Com machadoe e uma facas grandes que eles utilisam para desbravar caminho, matar cobras, cocinar, etc…cometamos a cortar arvores para que fique o terreno limpo para para se construir umas casa ai e fazer de terreno de cultivo. As minhas maos mal acostumadas comecaram a rebentar , foi quando fizemos todos uma pausa e…volta-se a fazer uma rodada de chicha (ainda eu arrotava a do pequeño almoco) e depois um shot do sumo fermentado da cana de acucar que eh so 75% alcohol…escusado sera dizer que me estava ja a sentir o Tarzan.
As arvores continuaram a cair como plumas e quando o almoco estava pronto dao-me uma folha grande, duma outra planta, com um par de batatas cozidas e um peixe recem saido do rio que cruzamos. Foi este o menú que adivinharam que eu ia escolher…em plena selva com o que ela nos oferece. E para quem ninguem fique a falar com o estomago serve-se um digestivozinho, pote de chicha. De volta ao trabalho mas agora para plantar yuca por toda a parte…para lhes garantir que chicha nunca vai faltar. Brincavam eles que para terminar o processo teria que voltar aquele lugar em 9 meses para colher o que platei, seria muito bom!! O caminho de volta foi feito da mesma maneira e ao chegar ao centro da comunidade, sem perder tempo e com as mesmas sapatilhas lodeadas, vamos jogar futebol ate que o corpo caia…banho no rio e descanso merecido as 20h que ja se faz escuro e nao ha luz. Ja todo mordido de mosquitos porque nao uso repelente e tampoco tenho vacinas amazonicas, adormeco em cima de duas secretarias de escola tentando assim fugir aos bichos que nao voam.

Na manha seguinte as 6h30 ja estou a acordar com os miudos a tocarem-me ah porta e a quererme falar, mexer e ensimar-me mais quichua…Que bom despertar com as caras felices destes locos ainda com as pinturas mal saidas das caras da ultima apresentacao de dancas tipicas. Vou tomar o pequeño almoco que eh preparado na escola, para todos e enquanto isso admiro a cozinheira que eh todos os dias uma mae diferente que prepara o almoco Numa fogueira ao lado da sala de aula.
Com vontade de passar ali o proximo ano e de me tornar verdadeiro tarzan, despeco-me de todos, aqueles que me fizeram ver este lado puro da vida em que as torneiras que ha correm a agua que a chuva lhes traz. Ja de saida para a Shell, de volta na bicicleta, paro no centro de Madre Tierra e ai fico varias horas para me despedir do grande amigo, Roberto, presidente da junta parroquial e marido de Elvia.
Deixamos as horas chuvosas passar ao som de guitarradas tipicas dele ao mesmo tempo que tomamos shots do sumo fermentado de cana de acucar com raspa da casca de um arvore especial…So existe um momento, o agora. Apenas o que estamos a viver neste segundo eh real. Isto nao significa que vivemos para o momento mas sim no momento e eh por isso que admiro tanto este lugare e seus personagens. Recebem-me como rei e nao o fazem so comigo, fazem-no com todos. Disfrutam do dia tal como ele eh!!

5 comentários:

teresinha disse...

já lá vão quase 8 meses que partiste para essa aventura...e continuas a surpreender-nos com as tuas historias, e de todos aqueles com quem te cruzas! inacreditavel!
beijinhos

teresinha pape

Marion disse...

hola francisco,
qué coincidencia, encontré tu blog! cómo estas? cómo es tu viaje? me gustan tus fotos :-)! estamos en santiago hace 2.5 meses y solamente nos quedan 1.5 meses aka...
besos, marion :-)

Francisco Vasconcelos disse...

mariooooon!!enviame tu correo de email porfa...

Marion disse...

heeeeyyy...
es marion.stadelmann(at)web.de ....

Anônimo disse...

Parabéns Francisco,consegues adaptar-Te lindamente a cada uma das situações, como se já " as tivesses vivido! Bjooo Isabel :-)