quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

1, 2, 3...vou nascer outravez!! Feliz Navidad!!


Sinto-me parte do presépio. Por tudo o que vejo á minha volta, pela pobreza e ao mesmo tempo nobreza das casas, da porta aberta, do oferecer o que de melhor há, dos animais que vivem em liberdade total. Da simplicidade de vida que ali todos têm. Parece que estou a viver noutro tempo, algo mais antigo.
Na hora da refeição com a família onde estou vem parar á mesa pão caseiro, carne e uma garrafa de gasosa mas com agua dentro.
A minha volta vejo o armário antigo de madeira com alguns alimentos e uma fotografia quando um dos filhos terminou o liceu. Mostram-me orgulhosamente um corte de jornal, aproveitam para o limpar com o pano de cozinha/guardanapo-geral, em que aparece a filha que em 2003 ganhou um concurso de melhor projecto ambiental e foi ate a Croácia expor. Sinto-me parte desta família!!

Estou a viver esta semana que me leva ao Natal da maneira como já queria ter experimentado antes. A partilha de tudo o que há, o abraço apertado que há em família e a alegria de ter uma mesa cheia de gente, a preocupação era se não haveria lugar e pratos para todos.
Nunca fez tanto sentido e nunca tive tanta vontade como agora entregar um cabaz de natal. Foi esse o meu presente para eles, uma caixa de cartão com alimentos la dentro envolvida no mais rico material que tinha comigo: a bandeira nacional. Não me sinto como um bom samaritano sinto-me como um Rei Mago que leva um pequeno presente como forma de agradecimento e contemplação da família que me recebe e me faz ver o verdadeiro lado da vida, a sua essência que é na maior parte das vezes invisível aos olhos.
Os prazeres mais ricos da existência, como a tranquilidade, as amizades, a conversa que troca experiências existenciais, a contemplação do belo, são conquistados pelo que somos, e não pelo que temos.

O jantar de natal foi assim com o típico cordeiro no espeto a chegar á mesa, uma toalha de flores na mesa de madeira, sumo/agua e todos de sorriso a comerem alegremente o banquete que se fez. Não houve o tradicional brinde ruidoso mas sim um brindar com os olhos e coração naquela mesa composta com tudo o que de melhor se conseguiu arranjar. A conversa girou com a partilha de experiências de outros Natais deles e meu.
A importância cada vez menor, das pessoas da aldeia, que dizem ter em relação a esta data e ao mesmo tempo preocupação a saber se os filhos vão chegar todos a tempo do jantar de Natal e se se arranja um cordeiro. A luz apaga-se as 2h e ouve-se gente a jogar cartas e outros a beberem. E foi com umas garrafas de cidra que juntamente com alguns pibes de lá aproveitámos a luz da lua quase cheia.

Posso dizer que me sinto renascido. Não foi a primeira vez nem será a ultima mas este Natal ajudou a renovar-me e a ganhar novas pernas para continuar a andar.
Obrigado família!

5 comentários:

Anônimo disse...

Espactacular. Depois do que acabo de ler fico literalmente sem palavras, Francisco!
Tenho esperança de que um dia toda a gente consiga perceber o sentido do Mistério e viva o Natal com essa abertura de coração. Porque isso, sim, é viver, verdadeiramente, o Natal. Obrigada pelo magnífico post.
Sortudo! :)
Um beijinho grande.
Cristina

Anônimo disse...

Espectacular. Leo tu historia, emocionada, como si yo la estuviera viviendo. Me alegra saber que estas muy bien.FELIZ AÑO
te deseo un excelente 2008
Besos
Naty

Concha disse...

Obrigada por estas partilhas tão "cheias"...
Um bom 2008 Francisco!

Anônimo disse...

Francisco

Gostei imenso desta tua descrição.
Aprendi e gostaria de viver assim o Natal.

A tia Francisca está aqui ao lado a chorar com a tua descrição. Cheia de saudades, deseja bom Ano

Beijinhos, bom Ano 2008

Pancrácia

Isabel disse...

Nunca mais serás o mesmo.
Nunca se é depois de experiências tão fortes, cheias e a transbordar de significado. Não sei se o meu coração aguentava tudo por que tens passado - tenho medo que explodisse de tanta plenitude :)
Isto sim é Natal, e destes Natais sem dúvida que os estás a viver todos os dias. Gostava de conseguir fazer isso aqui no meu cantinho. É sempre mais fácil lá fora. Pena...
Partilho com a tia Francisca (apesar de não ter a honra de a conhecer) a emoção que provocam as tuas palavras.
Este blog é o meu livro de viagens favorito. Todos os dias venho ler um bocadinho e acabo o dia mais feliz. Vai continuando a preencher a história. Pela primeira vez não estou anciosa por chegar ao final do livro e ver como acaba. Agora, gostava que nunca acabasse.

Obrigada e bom Natal de dia 17 de Março