sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

IN LOCO

“Buen dia!!” É assim que se acorda aqui em Naupa Huén com toda a gente a saudar todos os que passam. Vim dormir para a casa da irmã de Abias (são 8 no total) que esta agora a viver em Roca. Aqui tenho dormido estes dias e muito bem. Casa muito pobre também mas é normal aqui para todos os que vivem neste lugar. Não há elites aqui, tudo igual ou tudo parecido é assim que se vê as coisas. A casa tem igualmente a “casa de banho” do lado de fora e dentro tem um quarto onde durmo com Abias e a cozinha que também é zona de chuveiro onde tenho tomado banho. Tem um balde pendurado, enche-se de agua e depois vai escorrendo e eu lavando-me rápido rápido antes que a água acabe.

Sim, tinha-me esquecido de dizer que não só a luz mas tambem a água só chega as 21:30 e acaba as 1:30. Nestas 4 horas aproveita-se para fazer tudo com esses bens que para mim e muita gente é dado como certo que sem eles não conseguiria viver (ou quase). Então com calor que faz não há bebidas frescas nas “Dispensas”, espera-se que a luz venha e depois os frigoríficos comecem a funcionar e então depois vale a pena pedir uma gasosa ou cidra que tanto se bebe aqui.

21:30 é uma hora de alegria, vê-se a luz cegar e gritos de alegria de crianças. Os jovens mais velhos esses não gritam mas sorriem por dentro por poderem também ver um pouco de televisão que a dispensa tem. E que estranho que é verem televisão ali naquele lugar porque a maior parte das coisas são mundos que podia ser Marte que estavam a passar na televisão e talvez para muitos deles é mesmo. Realidades distintas, para que servirá ou como interpretam um anuncio para tratamento de unhas, ou o creme para deixar o cabelo mais loiro entre outras para não falar dos filmes que mostram casas que muitos deles não podem quase imaginar que haja.
E é mesmo assim, as necessidades básicas só o são para nós que vivemos neutros lugares porque as podemos satisfazer rapidamente. Aqui as necessidades são outras e que bom que é saber viver assim…

O dia-a-dia é passado no rio a fazer mini-fogueiras para aquecer a agua para tomar mate, mergulhos no rio e corridas de natação, jugos de futebol, bilhar numa das 3 dispensas que existem e ver os bêbados que há todos os dias. Fazem pena mas aqui não há realmente muita coisa com que se distraírem quando não trabalham no campo e por isso vão gastando em alcohol a plata que ganham durante a semana de trabalho no campo. É preciso ser forte de cabeça para saírem ou não chegarem a entrar nesse mundo. Admiro o pai de Abias por isso mesmo que bebia muito e deixou depois de ter a primeira filha. Largou porque percebeu que não chegava para tudo e que mais do que isso seria egoísmo. Não toca em nada agora. Grande sinhor!!

Pensava que era só eu que achava que era muito muito calmo mas não. As pessoas de cá (com quem estou) também o acham. Talvez por já terem saído e vivido fora de lá e pensarem que há mais gente e mais vida para descobrir fora dali. No entanto também é verdade que os pais de Abias estão habituados a viver ali, já os pais deles ali viviam ou mais longe e eles são felizes. São um pouco metidos para dentro por feitio mas felizes e contentes por estarem ali.



Eu, apesar desta diferença abismal de mundo, sinto-me realmente bem aqui e em todo o lado onde estou se há uma pessoa a tomar a bebida que seja ta sempre a rodar. Oferece-se a toda a gente mesmo que não se saiba quem é, se está…está e tem directo a beber. Não se compra uma cerveja para tomar sozinho ou com um amigo só. Compra-se, dá-se um trago e oferece-se a quem esta ao lado e vai rodando pelos outros que estão ou que vão aparecendo. Parte reparte e ainda se fica com a melhor parte que é o sentimento de poder saciar a todos!!

Um comentário:

Anônimo disse...

brilliant pictures and great experience...I have no words...
all the best!