quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Acampar com "planchas"!!



VOLTEI!!
Estive com a muchachada toda dos “trampolines” a acampar em Piriápolis e…foi mesmo importante e bom ter ido.
Quando cheguei ao projecto e comecei a trabalhar todos os miúdos já falavam do acampamento, de que faltava pouco tempo e perguntavam se eu ia. Havia um xitamento generalizado por saberem que já só ia faltar 1mês. E eu pensava para mim: “acampar é bom mas calma, não é preciso ficarem loucos!” O que eu não sabia ou não tinha noção era a importância que aquilo tem para eles por saírem de casa e de viverem 2dias fora de casa. São crianças com muitos problemas e parece que são rijos e fortes mas…algumas quase que choram por não dormirem com a família.


Eram 7:30 da manha e já se agrupavam pais e filhos à porta de “trampolines” a esperar que fosse hora de entrar para tomar o pequeno-almoço com os filhos antes de estes partirem. Os pais babados por os filhos irem passar a noite fora de casa e eu...mais babado por ver os pais assim. Todos falavam e gritavam. Muito orgulhosos apresentam-me os pais, parece até que estão a fazer um “caldinho” ;)
O autocarro chega e parece que veio agora mesmo da guerra, um clássico amarelo e velho, muito velho. Foi uma viagem típica de acampamento com miúdos, musica, palhaçada, risos e…chuva de vomitado, jajaja!!
Foi nesse momento que percebi melhor que, estas pessoas com quem trabalho (educadores), que ganham o seu ordenado ao fim do mês, fazem muito mais do que o ordenado paga. Seria impossível cumprir horário e esperar hora de saída. E estas pessoas são realmente boas e abrem os braços como se os miúdos fossem seus irmãos ou filhos, e só assim (penso) conseguem trabalhar e ter sucesso nestes tipos de projectos.

Chegando a Piriápolis, que fica muito perto de Punta del Este (lugar turístico muito conhecido), tínhamos Richard - um homem que tem um ONG que trata de animais de mar (leão marinho e pinguins) que estejam doentes - à nossa espera. Aí arranjou-nos lugar para ficarmos e programa para os dois dias. Estivemos a dar de comer a pinguins e leões-marinhos, visitamos a cidade e ainda tivemos tempo para praia e outros jogos. Importante para eles aprenderem a ter mais respeito e sensibilidade com os animais que na maior parte das vezes querem é apedrejar.
Quando foi altura de irmos para a praia tivemos que construir primeiro um castelo de areia por equipa e no fim ia tudo banhar-se por mar. Estava mesmo muito calor e eu de fato de banho e t-shirt mas com vontade de sacar fora a t-shirt mas como não via ninguém a tirar achei que “calma Francisco, se calhar é uma regra que não conheces e por isso vamos esperar para ver.” Quando tudo acabou os castelos, eu achei: “pronto é agora que se vão desnudar!”…Nada disso aconteceu! Meteram-se à água com as roupas todas que traziam fossem calças ou calções. A vergonha do corpo é tão grande que muitos deles têm medo de o mostrar e por isso para eles tomar ali banho à frente de todos com roupa não é nada de anormal.



São miúdos difíceis, com muitos problemas familiares seja de pobreza ou educação e isso nota-se a cada gesto ou atitude. Notou-se quando foi o banho e também quando foi a altura de irem para a cama que apesar de cada um ter a sua cama muitos quiseram ficar a compartir a cama com mais 2 ou 3 pessoas porque é assim que estão habituados em casa por não terem mais camas.
Mas se por um lado acontece isso por outro revolto-me pelo facto de não terem educação, não se sabem alimentar nem respeitar. Reparava nisso já na casa dos “trampolines” quando ao fim do lanche havia copos de leite bebidos só ate meio, pães com uma mordidela deixados na mesa. Voltei a ver isso no acampamento, que são muito selectivos com a comida, gostam de pouca coisa e desperdiçam comida quando se sabe que em casa têm pouco ou nada. Mas é assim que agem, tanto não tem nada e pedem alguma coisa que seja como se se oferece tudo e parece que exigem ser tratados como tal, como gente quem tem tudo. Apesar de não serem todos assim, revoltou-me!
Mas para me estar revoltado é porque gosto de estar onde estou com eles. Sei que vai mudar e vão crescer.
E o acampamento foi bom por isso, ajudou-me a entrar mais no mundo deles, aproximar e poder entende-los melhor apesar de continuarem a falar um idioma difícil: “castellano de calle”.

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