sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A folha de coca nao é uma droga!!


Sem dormir mas com os olhos bem abertos, assim é o efeito da coca, cometamos de jeep o nosso tour pelo sul da Bolívia. Na fronteira para entrar na Bolívia não dava para acreditar. Parecia brincadeira!! Fez-me lembrar quando eu era pequenino e brincava de bicicleta com os meus irmãos em que um fazia de policia. Aqui era quase o mesmo, a diferença é que não era a brincar, era mesmo de verdade. Um arco no meio do nada dizendo fronteira Boliviana e umas casas mal amanhadas. Tudo à volta era deserto, kilómetros e kilómetros de nada…e depois admiram-se que há gente perdida!!

Admiro muito o condutor por saber (ou fingir bem) o caminho certo no meio de paisagem tão igual. Continuámos a subir em altura ao mesmo tempo que via as pessoas porem bolas de folhas de coca na boca para irem sugando e assim não sentirem tanto a altura.
Uma viagem indescritível que me surpreendia a cada kilometro. A verdade é que eu não dava muito pela Bolívia ate cá chegar. Talvez por não ter comigo nenhum guia e o único mapa da América latina somente ter comprado dias antes.
Com paradas para almoçar, jantar e dormir em casas privadas de bolivianos, que as transformavam em albergues aguando da passagem de turistas, dava para ir percebendo como vivia esta gente e entender a pobreza que aqui se vivia e que eu tanto já tinha ouvido falar.
Tudo pede dinheiro e tudo impinge tudo. E como o bom é saber através das próprias pessoas, que sofrem de falta de dinheiro, o que lhes vai na alma e o que pensam…assim tentando conversar com uma dessas señhoras que, como todas, usa a cartola, hauaio e saia gigante, não me dava muita bola, queria apenas que eu consumisse alguma coisa. E ai a musica deu a volta a situação, cantei “oh rama oh que linda rama” e o barracão, onde as señhoras todas vendiam de tudo, ficou calado. Não é que eu cante muito bem mas perceberam que me estava a esforçar para que saísse bem e daí resultou conversa e quebrou-se assim a barreira do Turista/Nativos. Por vezes, inconscientemente, exigimos muito dos outros sem querermos dar nada de nós proprios.
O jeep segue e nós também mas, de 10 em 10 minutos parava e nós premiamos…estavamos no meio do nada. Mas o ar tranquilo do condutor Javier enquanto arranjava o motor, fazia-nos acalmar.
A musica também não ajudava, um boliviano cantando mais parecia que lia a letra da musica como se de um livro se tratasse…enfim, era o único cd e radio não havia, obiamente!!
Lagos e termas…até gaisers visitámos num sul de Bolívia repleto de natureza que arrepia pela diversidade e beleza. Tanto para ver e descrever que se torna difícil para qualquer escritor em inicio de carreira!!

E numa dessas paragens para almoçar aproveitei para me tentar perder e conhecer a vila e as casas dali. A meio do caminho encontrei Mário (garoto de 12anos) que me levou aos spots da Vila onde vive explicando-me que a maioría das pessoas trabalha na mina, tanto homem como mulher. Não cheguei a descer a nenhuma para ver as condições mas imagino o que seja debaixo da terra se cá em cima já é isto que se vê de pobreza e falta de condições. E quem explora a mina de ouro é claramente uma empresa estrangeira, do Canada. Continuei com o Mário até à escola dele onde todos os amigos e meninos da vila jogavam à bola…e ai fiquei!! Mas não tinha bem noção do que seria jogar futebol a 3800 metros de altura. Passados 2minutos morri, fica a experiência para não voltar a repetir. Não sou boliviano, é um facto…e vivo ao nível do mar!!

Acabámos o dia num albergue de família boliviana a comer assado de lama. Existem tantas que se não se comer algumas em poucos anos não se passa de jeep no deserto.

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