segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

UNBOLIVIABLE


Ao sair de Uyuni fomos de bus rumo a La Paz, toda a gente nos avisava para ter cuidado com os nossos pertences. Até que começámos a por mais olhos nas mochilas e bolsos.
Na entrada para os autocarros começava já a confusão. Sem electricidade nas ruas e feirantes que não se cansam de vender, íamos entrando para o nosso lugar. Com o passar do tempo na viagem fomos percebendo que a frase da senhorita que nos vendeu os bilhetes fazia sentido: “não se preocupem meninos, há lugares e muitos”. Ou seja, parece que toda a gente tem lugar e por isso durante a viagem de 12horas as pessoas não paravam de entrar…há sempre lugar para mais um, mesmo que pareça que não. O corredor já não existia, estava repleto de señhoras com as suas mil roupas e mercadorias nos respectivos hauaios. Basicamente, não nos podíamos mover! E a televisão que aparecia na folha de papel, aquando da venda dos bilhetes, nem sinal dela no autocarro. O nosso lugar estrategicamente bem escolhido para estar perto da televisão…valeu de nada!!
As primeiras 6horas de viagem foram de pura estrada de pedregulhos e terra no meio do nada e sem luzes pelo caminho a que alguns se atrevem a chamar estrada. Viagem épica que parecia não terminar. Chegámos a La Paz às 7h da manha de sábado e mais parecia La Guerra tal era a “selva”. Lixo, cidade escura, pessoas a comer num canto parecia já almoço, outros a dormir no chão, vendedores em todo o lado e a venderem de tudo (parece que não dormem nunca) e um edifício que dizia “Organização Democrática” totalmente esburacado por pedras ou balas.
E assim foi a recepção que tivemos na capital dum país que tem pela primeira vez na sua historia um presidente indígena. Odiado por uns e amado por outros. Evo Morales, é o verdadeiro presidente do povo!!

Um par de dias em La Paz fez-me sentir viver dentro de um bairro gigante que engloba toda uma cidade. A feira parece não ter um dia especifico porque todos os dias os feirantes saem à rua e montam o estendal com tudo o que têm para vender nesse dia. E nós limitamos-nos a regatear tudo porque é assim que aqui funciona, não há preços fixos e nem todos os produtos são verdadeiros. Percebi melhor isso quando ia a lavar o cabelo com um shampoo qualquer de marca comprado na feira e me sai para a mão uma gelatina que mais parecia querer brincar na minha mão. A necessidade de ganhar dinheiro é tão grande que depois não é difícil ver meninos nos semáforos a vender rolos de papel higiénico, minibuses a concorrerem entre si para ver quem leva mais passageiros em carrinhas de 9lugares com uma personagem que grita sem cessar os lugares por onde passa o minibús.

Quem vai na estrada esta em constante perigo, com gente que não respeita uma única regra de transito. Por isso há a necessidade de ter uns indivíduos vestidos de zebra e a passarem na passadeira de x em x minutos para ajudar a que haja algum respeito e que os peoes que querem cruzar as ruas, realmente o consigam. No meio de tudo isto vejo ao meu lado uma niña a urinar para um saco de plástico e a entregar à mãe que vende artesanias aos carros parados nos sinais. Vejo ainda uma velhota carregar uma botija de gás no seu hauaio. Parece um “vale tudo”!!

É um país que vive realmente noutro nível, não só economicamente como também fisicamente a 3500metros acima do nível do mar. Gera-se neste momento uma polémica luta entre as federações de futebol da América Latina que se querem recusar a jogar aqui em La Paz porque em poucos minutos estão caídos de cansaço…e percebe-se porquê!!

Definitivamente o país que mais me impressionou por toda a falta de estrutura e pobreza estampada à vista de todos. Parece que qualquer projecto que se apresente aqui será sempre bem vindo e uma mais-valia. Por tudo isto, há quem diga que a Bolívia é um país a precisar de aterrar!!

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