sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O FRANCISCO FOI À ESCOLA



As aulas de inglês na escola tem sido uma experiência mais marcante e uma aprendizagem para mim maior do que aquilo que poderia imaginar. Sou professor pela primeira vez e finalmente percebo esta classe que tanto trabalho, paciência e responsabilidade tem.
Os dias começam cedo, pela manha, para dar tempo de preparar a aula e ainda ir a tempo de, com um guia turístico, receber os turistas que chegam na lancha ás 10:30. Faço a visita traduzindo em simultâneo (ou quase) e no fim do tour volto o mais rápido que posso para ainda cegar á escola a tempo de começar a aula por volta do meio-dia. E ao fim da tarde continuamos a ter os guias em nossa casa para a aula de inglês, para que fiquem com umas bases de conversação.

A minha admiração pelos professores cresceu muito desde que cá estou. Para além de termos (já não faz sentido falar na 3ª pessoa) a tarefa de ensinar a matéria há a outra parte, tão ou mais importante, que é a educação. Somos o ponto de referencia e exemplo para os miúdos que nos olham e chamam de professor. A escola com porcos e burros a pastarem por todo o lado recebe-nos todos os dias ao som dos gritos dos alunos pelos nossos nomes. Chegamos lá e há sempre novidades ou porque não há nenhuma sala vaga, ou porque afinal vamos dar aula a um ano diferente daquele que estava previamente planeado. E dessa maneira nos vamos adaptando como podemos.

Na sala de aula o xitamento dos miúdos é grande e difícil de os parar. Mas será necessário parar-los? Foi a pergunta que me fiz e percebi de pronto que “Não”. Se eles tem tanta energia…que bom que é porque há gente que não a tem. Então improvisando muito aproveitamos essa energia pura de criança para que aprendam, fazendo pequenos skeches, gritando as palavras em inglês como se de tropa se tratasse, cantando e pondo tudo em formato jogo. Só assim se ganha a atenção deles que tanta necessidade tem de mostrar que valem. Quando toca para saírem da aula não vemos quase mochilas, vê-se antes as meninas (maioritariamente) abrirem o hauayo e a porém os livros e lápis la dentro, embrulharem e a porém as costas. As vezes tenho vontade de fazer o mesmo, trocar a minha mochila por um hauayo desses…mas o medo de não saber utilizar e me engasgar é grande assim que, me reduzo á situação de gringo que sou aqui neste continente.
Correm para fora da escola depois de uma cerimonia em que se juntam no pátio e marcham, fazendo lembrar a tropa, ditando assim o fim do dia de aulas. Enquanto uns vão mudar os porcos de lugar, outros vão para a praia que ao principio me fazia confusão a caca de porco que la há…e agora estranho quando não a vejo.
Aproveito eu também para por o fato de banho e mergulhar no momento do dia em que é Verão, por volta da 13h (há noite é certinho que chove nesta ilha de 4 estações). Ao meu lado os miúdos jogam com os porcos e com batatas cozidas que tem para almoçar. Mais simplicidade e naturalidade é (quase) impossível. Já nos vamos habituando mas continua a ser lindo ouvir os miúdos passarem por nós e meterem-se com perguntas de “what’s your name? How are you?”…alguma coisa lhes fica!!

Ao fim da tarde há futebol no único campo de bola, está de frente da casa onde vivo com vista para o lago. No entanto não se pense que é fácil entrar para jogar, são fechados e famintos de bola. Quando ao fim da tarde chegam da pesca ou dos campos de cultivo querem é bola e se chego e já estão a jogar é impossível entrar. Ao principio pensava que era por eles que se tinha inventado a expressão “má onda” mas com o passar dos dias fui percebendo que é o momento deles, de pura evasão e que os momentos de diversão deles passam todos (ou quase) por aquela “cancha” e por isso…a levam tão a sério, como se fosse trabalho!!

Neste mesmo campo é onde se celebra , festeja qualquer acontecimento como fim de curso de um rapaz de cá que esteja a estudar fora ou fim da tropa para outros. Nesse dia há cerveja que não mais acaba. A musica é tocada por eles em flautas andinas e sentados vão tomando e dançando como podem. Mas primeiro que eles, quem toma é a mãe terra – Pachamama. Desta forma atiram um bocado da cerveja, do copo onde vão beber, para o chão em sinal de respeito e depois então tomam eles o resto do copo.
O respeito e a tradição continuam quase intactos. Podem não ser as pessoas mais abertas e calorosas como encontrei neutros lugares mas são respeituosas e é desse ponto de vista que se tem que olha este povo que vive ainda cheio de boas tradições. Porque como em tudo, há o ponto de vista bom e o mau e sem duvida que temos mais a ganhar se optarmos pelo positivismo!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Fakicão!
Que bela aventura!
Como é que os miúdos são avaliados, com tanta agitação...deve ser liiindo!!
Bjnhos e abraços mui saudosos
Payinhos